📅 Publicado em 04/08/2025 12h17
Em março deste ano, quando retornou a Marabá após uma temporada em Santarém, Tainara Santana carregava mais do que bagagem e saudade da família. Voltava com uma ideia antiga batendo forte no peito: criar uma plataforma para reunir, mapear e divulgar os eventos culturais da cidade. Em menos de cinco meses, a ideia virou realidade.
Há cerca um mês, o “Vou em Marabá” (@vouemmaraba no Instagram) foi lançado. Para contar essa história, o Correio de Carajás conversou com a baiana Tainara, de 29 anos e estudante de Ciências Sociais na Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa). Não bastasse isso, ela é autodidata em tecnologia.
“Quando a gente chega a uma cidade, quer saber aonde as pessoas vão, o que está acontecendo. E eu sempre perdia os eventos legais. Só ficava sabendo depois”, conta. A frustração virou semente do que hoje é o “Vou em Marabá”, um aplicativo criado por ela que já soma mais de 800 downloads e 105 eventos cadastrados em poucos dias de funcionamento.
Leia mais:O download do aplicativo pode ser feito direto pelo link: https://www.vouemmaraba.com.br/. O “Vou em Marabá” está disponível para os sistemas operacionais iOS e Android, mas ainda não está liberado nas lojas digitais de aplicativos, somente pelo site.

DO IMPROVISO À STARTUP
A primeira versão do projeto começou a ser pensada em Santarém, quando Tainara se viu sozinha, curiosa e desconectada da cena cultural da cidade. Ligou para a mãe, Luciana Santana, empresária do ramo agropecuário e sua maior incentivadora, e apresentou a ideia. “Ela topou na hora, mas eu acabei desistindo naquela época. Achei que não ia dar conta”.
Ao voltar para Marabá, decidiu que era hora de tentar de novo, agora com mais foco, coragem e ferramentas. O aplicativo nasceu oficialmente no dia 4 de julho, como braço da startup Pi Soluções Digitais, também fundada por Tainara. A proposta era simples e ambiciosa: fomentar a cultura local conectando eventos, estabelecimentos e usuários em uma plataforma gratuita, inclusiva e funcional.
Com uma interface intuitiva e baseada em tecnologia no-code, o “Vou em Marabá” permite ao usuário criar um perfil personalizado, selecionar os tipos de evento que quer acompanhar e montar uma agenda própria. “Você pode salvar os eventos que quer ir, receber notificações e, em breve, vamos integrar com o Google Agenda”, garante.
Outro diferencial é a possibilidade de filtrar eventos por núcleos urbanos. Moradores da Cidade Nova, por exemplo, podem ver apenas o que acontece em seu entorno. “Isso aproxima as pessoas daquilo que está ao lado delas, valoriza o que é da sua comunidade”.
Além dos eventos, o app também oferece uma seção para estabelecimentos locais, como bares, restaurantes e casas de cultura. A inserção é gratuita, com direito a página própria, logo, contato e endereço. Quem busca maior visibilidade pode se tornar parceiro, ganhando destaque no aplicativo, no Instagram do projeto (que já bateu mais de 500 seguidores em menos de um mês) e em ações específicas como cupons de desconto ou posts promocionais.
VISÃO EMPREENDEDORA
Tainara nunca teve formação em programação. Aprendeu tudo sozinha, testando plataformas, pesquisando no YouTube, tirando dúvidas com o ChatGPT e, agora, cursando online Análise e Desenvolvimento de Sistemas. “A melhor forma de aprender é fazendo. E só sosseguei quando consegui deixar o ‘Vou em Marabá’ do jeitinho que eu tinha imaginado”.
A experiência com o app consolidou um traço que já vinha desde a infância. “Sempre fui muito criativa, vendia pastel para os vizinhos, sempre empreendendo de alguma forma. Minha mãe é empresária, então isso já vem de casa”. Hoje, ela divide com a mãe o trabalho na startup: Tainara cuida da idealização, desenvolvimento e gestão da plataforma; a mãe, da parte comercial e das articulações com possíveis parceiros.
Mas a intenção do “Vou em Marabá” vai além da praticidade de um guia de eventos. A proposta é colaborar com o fortalecimento da cultura local e garantir visibilidade a iniciativas que muitas vezes passam despercebidas. “As pessoas organizam eventos incríveis, mas não têm como competir com os algoritmos das redes sociais. A ideia é democratizar o acesso à informação”, explica Tainara.
Por isso, qualquer evento gratuito e legal pode ser incluído: basta entrar no aplicativo e clicar no botão “Divulgue seu evento”. Tainara cuida pessoalmente do cadastro, e garante que, além de artistas, organizadores e comerciantes também se beneficiam. Para ela, a cidade precisa muito da iniciativa: “A gente vê um monte de coisa acontecendo e pouca gente sabendo”.
TURISMO E ARTICULAÇÃO INSTITUCIONAL
Com foco no turismo, a empreendedora já começou a distribuir panfletos do app em hotéis da cidade e cadastrou seis pontos turísticos no aplicativo, incluindo o Museu Municipal. A ideia é que o turista possa acessar não só os atrativos fixos, mas também eventos temporários ligados a esses espaços. A página de cada ponto turístico traz histórico, fotos e programação atualizada.
Tainara também tem buscado articulações com o poder público. Recentemente, participou da escuta pública da Lei Aldir Blanc e conheceu o secretário municipal de Cultura. A expectativa é que o “Vou em Marabá” seja reconhecido como um aliado na gestão e divulgação da produção cultural de Marabá, especialmente em editais, feiras, exposições e festivais.
Entre os planos para os próximos meses estão a publicação do app nas lojas Play Store e Apple Store, ampliação da base de parceiros e a criação de novas funcionalidades, como cupons de desconto, integração com sistemas de delivery e notificações personalizadas.
Tainara sabe que o caminho é longo, mas carrega consigo o entusiasmo de quem já venceu a parte mais difícil: transformar uma ideia em realidade. “É muito recompensador. Eu imaginei o ‘Vou em Marabá’ exatamente como ele está hoje. E acho que isso é o mais importante: não desistir da sua visão”.
Em tempos de soluções digitais impessoais, o “Vou em Marabá” é uma tecnologia com rosto, sotaque e propósito. E, acima de tudo, uma prova de que inovação também pode, e deve, florescer fora dos grandes centros urbanos.