📅 Publicado em 26/07/2025 08h34
O governo do Pará e o empresariado local estão mobilizando esforços conjuntos para enfrentar os desafios impostos pelas recentes tarifas americanas sobre produtos brasileiros. Durante encontro realizado na quarta-feira (23/07), promovido pela Federação das Indústrias do Estado do Pará (FIEPA), lideranças do setor produtivo e autoridades públicas debateram a criação de um grupo de trabalho especializado para desenvolver medidas de proteção à economia paraense.
Dados técnicos apresentados pela FIEPA CIN e pelo Observatório da Indústria do Pará revelam a dimensão do desafio. O estado ocupa a oitava posição entre os maiores exportadores brasileiros para o mercado americano, registrando superávit comercial de US$ 103 milhões. Os Estados Unidos representam o segundo principal destino das exportações paraenses, tornando o estado vulnerável às medidas protecionistas.
As projeções são alarmantes: caso o Brasil adote medidas de reciprocidade, o estado possa enfrentar uma queda de 2,81% nas exportações, o que representaria uma perda de R$ 306 milhões, com reflexos também no PIB estadual (R$ -973 milhões) e uma redução de aproximadamente 5.088 postos de trabalho.
Leia mais:
Setores estratégicos como madeira, pesca e mineração figuram entre os mais expostos aos efeitos das taxações, demandando atenção especial das autoridades locais.
Estratégia de união setorial
O governador Helder Barbalho enfatizou a necessidade de prudência diante da chamada “Lei da Reciprocidade”, aprovada pelo Congresso Nacional. “Devemos atuar com equilíbrio para enfrentar essa lógica de reciprocidade, evitando agravar ainda mais os problemas de atividades econômicas que já passam por dificuldades”, declarou o chefe do Executivo estadual.
A proposta governamental prevê a formação de uma força-tarefa integrada por representantes dos setores afetados, incluindo FIEPA, Federação da Agricultura e Pecuária do Pará (FAEPA), Associação Comercial do Pará (ACP) e Sebrae. O objetivo é estabelecer canal direto de diálogo com o Governo Federal e desenvolver estratégias coordenadas de proteção.
Alex Carvalho, que preside a FIEPA, defendeu a urgência da articulação setorial. “É essencial congregar esses agentes para construir, de forma ágil, estratégias defensivas e, quando necessário, implementar medidas antecipadas para reduzir impactos inevitáveis. Paralelamente, devemos identificar novas oportunidades para consolidar nossa matriz produtiva”, pontuou o dirigente.
Mineração no centro
O setor mineral emerge como uma das principais preocupações diante das possíveis medidas de reciprocidade brasileiras. Carvalho alertou para os riscos específicos enfrentados pelas mineradoras, que dependem de caminhões fora de estrada fabricados nos Estados Unidos para suas operações de extração.
“Sobretaxas incidentes sobre esses equipamentos e componentes de reposição encarecem significativamente as operações minerárias e podem comprometer investimentos já programados para o setor”, explicou o presidente da FIEPA.
A questão se estende ao fornecimento de gás natural, já que parcela considerável do combustível utilizado pelas indústrias paraenses provém de empresa americana, criando mais um ponto de vulnerabilidade nas relações comerciais.
Visão otimista do comércio
Sebastião Campos, presidente da Federação do Comércio do Estado do Pará (Fecomércio), adotou perspectiva mais moderada sobre os impactos diretos das tarifas. Segundo sua análise, a dependência paraense do mercado americano é limitada, representando apenas 3% do total exportado pelo estado.
“O impacto para o Pará será controlado, considerando que nossa pauta exportadora destina 97% da produção para outros mercados internacionais”, avaliou Campos. O dirigente comercial sugeriu que o estado deve concentrar esforços na diversificação de mercados e na busca por alternativas comerciais além do território americano.
Agronegócio como pilar
Carlos Xavier, presidente da FAEPA, demonstrou confiança na capacidade de superação do estado diante dos novos desafios tarifários. O dirigente destacou as vantagens competitivas do Pará no agronegócio, especialmente na pecuária, onde o estado mantém o segundo maior rebanho bovino nacional e lidera na criação de búfalos.
“Possuímos o maior território disponível para atividade econômica, constituindo diferencial estratégico para o Pará. Apesar das adversidades, o estado detém potencial singular para dinamizar a economia e elevar a qualidade de vida da população”, ressaltou Xavier.
A perspectiva do setor agropecuário aponta para a continuidade do crescimento econômico estadual, consolidando o Pará como polo de desenvolvimento na agricultura e pecuária, mesmo em cenário de turbulências comerciais internacionais.