📅 Publicado em 13/07/2025 20h29
Mais que uma junina, um patrimônio histórico vivo do Estado de Pernambuco. Essa é a Raio de Sol. A quadrilha é regida pela sensibilidade da mente criativa de Leila Nascimento — diretora artística, noiva e uma das coreógrafas do grupo.
A junina é uma das dez que se apresentam na noite deste domingo (13), no Concurso Nacional de Quadrilhas em Canaã dos Carajás.
Poucas horas depois de chegar à cidade, ela concedeu entrevista ao Correio, enquanto preparava a equipe e a filha para a apresentação, prevista para as 21h30. Leila conta que a junina usa poucos elementos cenográficos e efeitos especiais. Por isso, a coreografia precisa conter elementos estonteantes, que façam o coração da plateia disparar. Um exemplo disso é o que aconteceu em 2024, quando o Correio de Carajás publicou um trecho da coreografia da junina. Na cena, os brincantes simulam o movimento de sobe e desce de um carrossel e o voo do noivo. A publicação viralizou e teve mais de um milhão de visualizações.
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“A gente sempre bebe na fonte da cultura popular pernambucana. Nossos temas e passos vão sempre por esse caminho”, revela. Para isso, a Raio costura os passos típicos, como o passeio e o túnel, com os mais atuais. Assim, os efeitos visuais são criados com o próprio corpo dos brincantes.
Para chegar até Canaã, a junina — que nasceu em Olinda, em 1996 — saiu de Pernambuco no final da tarde de sexta-feira (10) e chegou à Terra Prometida no início da tarde deste domingo. Esta é a 7ª vez que a junina participa do concurso nacional.
“A gente nunca tinha vindo dançar no Pará, então tínhamos também essa expectativa de ir colocando os alfinetes no mapa. Agora vamos dar ok nesse estado que a gente admira tanto e que também é muito rico culturalmente”, afirma Leila. O orgulho de estar na cidade, participando da competição, vibra em cada palavra da coreógrafa.

Para fazer esse check-in, a Federação de Quadrilhas de Pernambuco e a Secretaria de Cultura e Educação viabilizaram o transporte da junina. Alimentação e transporte foram os principais custos dessa viagem. Em Canaã, eles foram alojados no Ginásio Municipal.
“Para fazer o espetáculo, nós contamos com emenda parlamentar de um deputado amigo nosso, e cada brincante também contribui. Fazemos rifas, bingos e eventos para arrecadar tudo e poder fazer um espetáculo bonito”, explica.
Este ano, eles dançam sob o tema “O de dentro, o de fora: um reizado ao São João”.

Matheus, primeiro quadrilheiro cadeirante do Brasil
Matheus Pimentel, 29 anos, acompanha o movimento junino desde 2007 e é integrante da Raio de Sol há quatro anos. O convite para fazer parte do corpo de baile surgiu em 2022, quando ele interpretou um dos personagens daquele espetáculo.
“Em 2023, ela me lançou o desafio de ser o primeiro usuário de cadeira de rodas do Brasil a compor um quadrado da quadrilha — e eu aceitei esse desafio”, relembra. Para ele, cada dia é uma novidade e um prazer fazer parte da junina, que é referência nacional.
Para Matheus, não há dificuldade coreográfica em dançar estando em uma cadeira de rodas. Pelo contrário. Quando ele não consegue executar algum passo, a coreografia é adaptada ou modificada. “Pra mim, essa é a inclusão de fato. Este ano, todo mundo se encanta quando me vê dançando a música Pagode Russo junto com toda a quadrilha”, antecipa.

“Não tem uma adaptação, ele dança plenamente. Matheus está dentro desse coletivo — e às vezes parte de nós, mas na maioria das vezes parte dele mesmo — a maneira de compor esse coletivo maior, de 120 pessoas”, detalha Leila. São essas nuances que tornam a Raio de Sol um organismo vivo.
Estar diante do público é o momento que Matheus mais aprecia. Ele defende que artista tem que estar onde o público está, e essa troca de afetos e reconhecimento o emociona e impulsiona.
“Principalmente em um nacional como esse, onde nos abraçaram, nos acolheram em uma viagem tão longa quanto essa, pra gente, já é o prêmio”.
Katinguelê na arena
A junina foi fundada em sua formação mirim, em 1996, e em 2022 se transformou em adulta. Em 2024, a filha de Leila, a pequena Lia Nascimento, de seis anos, resgatou a junina mirim. Agora, a Raio de Sol inclui os mais velhos e os mais novos.
O espetáculo deste ano conta com participação especial da Raio mirim, mas, devido às limitações logísticas e financeiras, apenas duas crianças viajaram para Canaã. Entre elas, Lia, que vai comemorar seu aniversário de sete anos na arena.
Para compor o espaço dos pequenos, Leila acionou seus contatos e firmou uma parceria com as crianças da Katinguelê, junina canaanense. “Eu acho que vai ser a hora em que todo mundo vai chorar e se emocionar. Viemos de tão longe e vamos nos encontrar com os mirins de Canaã dentro do nosso espetáculo. Acho que vai ser grande, vai ser bonito”.