📅 Publicado em 12/07/2025 06h33
Dois indígenas morreram em uma queda de helicóptero no dia 7 de julho, na Terra Yanomami, em Roraima. As vítimas são dois idosos, identificados como Botado Yanomami e Vovô Yanomami. Em nota divulgada na terça-feira (8/7), a Secretaria de Saúde Indígena (Sesai), informou que uma aeronave realizava o transporte de pacientes indígenas das aldeias Mokorosik e Kahusik com destino à Unidade Básica de Saúde Indígena de Parima, quando precisou realizar um pouso forçado.
“Apesar dos esforços de resgate, infelizmente os dois idosos não resistiram. Os demais ocupantes da aeronave foram resgatados e estão bem. Todos foram removidos para Boa Vista (RR) e recebem assistência”, citou a Sesai.
A Secretaria de Saúde Indígena prestou solidariedade aos familiares, ao povo yanomami e todos os profissionais de saúde envolvidos. “Honramos a memória de Botado e Vovô, guardiões de saberes e histórias de seu povo”, frisou.
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Segundo a empresa Voare, dona do helicóptero que caiu, “as causas do acidente ainda são desconhecidas e serão objeto de apuração pelas autoridades competentes”. Uma aeronave da Força Aérea Brasileira (FAB) chegou ao local do acidente na terça e transportou os sobreviventes para a base em Surucucu. Dos cinco ocupantes do helicóptero, três sobreviveram, sendo um servidor da Sesai e dois tripulantes da Voare. Eles tiveram apenas escoriações leves.
O acidente ocorreu durante uma missão de resgate médico que evidencia os desafios enfrentados no atendimento à saúde do povo Yanomami. Segundo informações da liderança indígena Júnior Hekurari Yanomami, presidente da Associação Yanomami Urihi, os dois idosos haviam caminhado por horas junto com uma criança de 9 anos que apresentava suspeita de malária, saindo da comunidade isolada de Kahosiki-Parima em busca de atendimento médico. A região é considerada endêmica para malária e a unidade de saúde mais próxima fica a 12 horas de caminhada da aldeia. Quando não conseguiram completar o trajeto a pé, outros membros mais jovens do grupo prosseguiram até o posto de Parima para solicitar o resgate por helicóptero.
A tragédia expõe as dificuldades estruturais do sistema de saúde indígena na Terra Yanomami, território que enfrenta uma emergência sanitária declarada pelo Ministério da Saúde em janeiro de 2023. Entre 2019 e 2022, foram registrados 538 óbitos de crianças menores de 5 anos no território do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) Yanomami, sendo 495 considerados evitáveis, representando 92% dos casos. O Centro de Operações de Emergências (COE) Yanomami foi mobilizado para coordenar estratégias de resposta à crise, que inclui problemas como desnutrição, surtos de malária e os impactos do garimpo ilegal que contamina rios e reduz recursos naturais essenciais para a sobrevivência das comunidades.
Apesar dos esforços recentes do governo federal para melhorar a assistência médica na região, incluindo a ampliação do Programa Mais Médicos que hoje conta com 40 profissionais atuando no território e a reabertura de 100% dos serviços de saúde com a entrega de sete novos Polos Base em dezembro de 2024, o acesso aos cuidados médicos permanece um desafio crítico. A vastidão do território, as dificuldades de acesso às comunidades mais isoladas e a necessidade de transporte aéreo para casos de emergência tornam o atendimento médico uma operação complexa e de alto risco, como demonstrado pela tragédia que vitimou Botado Yanomami e Vovô Yanomami, dois anciãos que perderam a vida tentando salvar uma criança de sua comunidade.