O que deveria ser um período de lazer e diversão, especialmente com a chegada do verão amazônico, tem se tornado motivo de preocupação e medo para moradores de Marabá. O uso de linhas de pipa com cerol, uma mistura cortante e perigosa, transformou uma brincadeira popular em uma arma silenciosa que ameaça crianças em praias, além de ciclistas e motociclistas nas ruas da cidade.
O perigo se tornou uma realidade angustiante para Ana Gabrielle Dias em uma tarde desta semana na Praia do Tucunaré. No dia 1º de julho, seu filho de apenas três anos, foi vítima de uma linha com cerol enquanto brincava na areia. “Ele se afastou um pouquinho de onde eu estava, quando estava voltando para perto de mim, foi atingido no pescoço por uma linha de pipa com cerol”, relata a mãe. “No momento em que sentiu a ardência do corte, ele puxou com a mão e voltou (correndo). O pescoço dele foi levemente cortado, mas se não fosse essa reação, talvez o corte fosse pior”.
O incidente, que por pouco não teve consequências mais graves, acendeu um alerta. “Alerto as autoridades locais para que nesse período reforcem a fiscalização sobre as pipas de cerol na praia e em toda a cidade”, pediu Ana Gabrielle, que autorizou o Correio de Carajás a relatar sobre a ocorrência com o seu filho, como alerta.
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O relato dela não é um caso isolado. Em todo o Brasil, acidentes com linhas cortantes são frequentes, muitas vezes fatais. Motociclistas e ciclistas são as vítimas mais comuns, pois a linha, quase invisível e extremamente afiada, se torna uma lâmina em potencial quando esticada em vias públicas. Recentemente, uma mulher grávida que pilotava sua moto em Marabá sofreu cortes profundos nos dedos ao ser atingida por uma linha de cerol.

Uma arma disfarçada
O cerol é uma mistura artesanal de cola, geralmente de madeira ou de sapateiro, com vidro moído, pó de ferro ou quartzo. Essa combinação é aplicada diretamente na linha da pipa com o objetivo de cortar as linhas de outros competidores no ar. O resultado é um fio com um poder de corte tão elevado que pode causar ferimentos profundos, amputações e até a morte.wikipedia.org
Além do cerol caseiro, existe a “linha chilena”, produzida industrialmente com pó de quartzo e óxido de alumínio, que possui um poder de corte ainda maior. Quando a mistura contém pó de ferro, a linha passa a conduzir eletricidade, criando um risco adicional de choques elétricos fatais caso entre em contato com a rede de energia.otempo.com.br
O que diz a lei
No estado do Pará, a fabricação, comercialização, armazenamento e uso de linhas com cerol ou qualquer material cortante são proibidos. A Lei Estadual nº 9.597, de 20 de maio de 2022, estabelece multas para infratores. Se o infrator for menor de idade, os pais ou responsáveis legais respondem por ele. Estabelecimentos comerciais flagrados vendendo o material também são multados e, em caso de reincidência, podem ter a inscrição estadual cancelada.
Em Marabá, a Lei Municipal 17.942, de 24 de outubro de 2019, também proíbe a prática, e a Guarda Municipal realiza fiscalizações para coibir o uso e a venda desses materiais perigosos. As ações de fiscalização são intensificadas durante os períodos de férias escolares, como junho e julho, quando a prática de soltar pipas aumenta.dol.com.br
Apesar da legislação e dos esforços de fiscalização, a “brincadeira” perigosa persiste, colocando em risco a segurança de todos. O apelo de mães como Ana Gabrielle ecoa a necessidade de uma conscientização contínua e de uma vigilância rigorosa para que os céus de Marabá voltem a ser apenas um espaço de diversão segura.
(Da Redação)