Correio de Carajás

Rio Tocantins: Nova fase da obra da ponte vai gerar desvio no trânsito

Interferência deve durar um ano para construção de uma nova passagem no sentido de entrada no São Félix

O desvio provisório do acesso à ponte já está sendo construído/Fotos: Divulgação Vale

A obra de construção de duas novas pontes (uma rodoviária e outra ferroviária) sobre o Rio Tocantins em Marabá deverá entrar em uma nova fase nos próximos dias e vai começar a gerar impacto no trânsito de veículos na BR-222. É que o acesso a atual ponte rodoferroviária passará por um desvio, situação que irá perdurar por pelo menos um ano. Nesse meio tempo, será construída uma passagem inferior (PI) de interseção com a rodovia.

A informação foi confirmada durante visita de jornalistas dos órgãos de imprensa local ao canteiro de obras do Consórcio Ponte Rio Tocantins no último dia 27. A intenção era apresentar números sobre o atual estágio da obra e as tecnologias e estratégias empregadas no modelo de construção. O grupo foi recebido por Alisson Bertuol, gerente da obra e engenheiros da Vale.

O projeto, que representa um investimento de R$ 4,1 bilhões, bancado pela Vale, está prestes a entrar em uma fase crucial. Com 58% de avanço físico já concluído, a obra que começou em 2022 e tem previsão de término para o segundo semestre de 2027, emprega mais de 2.500 funcionários no pico das atividades, alega a empresa.

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O empreendimento compreende a construção de duas pontes paralelas – uma rodoviária e outra ferroviária – cada uma com 2,3 quilômetros de extensão, 41 pilares e 2 encontros, totalizando 42 vãos por ponte.

Com o processo de empurre, parte da ponte já tem tablado construído/ Foto: Divulgação Vale

Novo estágio

O próximo marco da obra representa um dos momentos mais complexos da construção: a execução de um desvio temporário da pista rodoviária atual para permitir a construção de uma passagem inferior (PI) que fará a interseção com a rodovia BR-222. Segundo os engenheiros do consórcio, essa etapa crítica deve ser implementada nos próximos 45 dias e vai durar um ano.

O desvio será necessário porque a construção da passagem inferior não pode ser realizada com o tráfego ativo na rodovia. Para implementar essa mudança, o consórcio deve fazer uma comunicação prévia de 30 dias à sociedade, informando sobre a interrupção temporária do tráfego no trecho específico onde será construída a PI.

Engenheiros detalharam aos jornalistas o processo de construção/ Foto: Patrick Roberto

Interseção

Na margem de Marabá, a interseção das novas pontes com a BR-222 passará por uma transformação significativa. O atual semáforo localizado próximo à antiga fábrica da Coca-Cola, será substituído por uma rotatória, proporcionando maior fluidez ao tráfego.

O projeto prevê que motoristas oriundos da BR-222 em direção a São Félix terão duas opções: continuar pelo caminho atual (ponte existente) ou utilizar a nova ponte. Para acessar a ponte nova, os condutores deverão virar à direita, passar por baixo da passagem inferior da Coca-Cola existente, virar à esquerda e seguir em direção à nova ponte.

Toda a geometria da região passará por um processo de requalificação, considerando que o tráfego projetado será significativamente diferente do atual com o advento da nova ponte. Os engenheiros garantem que a geometria permitirá o mesmo limite de velocidade de 60 km/h que será implementado na ponte, sem comprometer a segurança do tráfego.

Jornalistas estiveram sobre o trecho já construído da ponte rodoviária/ Foto: Patrick Roberto

Técnica de empurre

Uma das características mais impressionantes da construção é a técnica de empurre utilizada para o lançamento das vigas sobre os pilares. Este método permite que as estruturas sejam fabricadas em terra e depois empurradas progressivamente sobre os pilares já construídos, representando um avanço significativo em termos de segurança e eficiência.

“Então ali atrás ele puxa essa estrutura para frente, você vai pulando de pilar em pilar, fazendo com que essa estrutura cada vez vá para frente. Quando você empurra, você libera o fosso para fabricar um outro caixão”, explicaram os engenheiros durante a apresentação.

O processo funciona da seguinte forma: cada caixão é fabricado em uma área específica, depois é unido ao caixão já empurrado e toda a estrutura é empurrada para frente. O empurre acontece em segmentos de 55 metros, continuando até atingir aproximadamente 1,2 quilômetro de extensão.

A técnica será aplicada simultaneamente a partir de ambas as margens do rio – uma equipe trabalhando a partir de São Félix e outra a partir de Marabá – até que as estruturas se encontrem no eixo central do Rio Tocantins, onde será construído o vão central navegável.

Sob a ponte o equipamento responsável pela união das vigas | Foto: Patrick Roberto

Industrialização

O projeto das pontes se destaca pela alta industrialização dos processos construtivos. A fabricação de peças pré-moldadas em formato de “T” permite uma abordagem mais controlada e segura da construção, reduzindo drasticamente o número de profissionais que precisam trabalhar diretamente sobre o rio.

O canteiro industrial conta com uma linha de fabricação completa, onde todas as peças são produzidas e depois transportadas através de pórticos até a linha de embarque. Esse sistema permite o carregamento das estruturas através de alças que se conectam aos pilares, facilitando o transporte para os locais de montagem.

Características técnicas

As duas pontes que estão sendo construídas sobre o Rio Tocantins apresentam características técnicas distintas, adequadas às suas respectivas funções. A ponte rodoviária possui pilares duplos menores e blocos em formato “H”, enquanto a ponte ferroviária conta com estruturas dimensionadas para suportar o peso e as cargas específicas dos trens de minério.

Ambas as pontes terão 2,3 quilômetros de extensão, com 41 pilares e 2 encontros cada uma, totalizando 42 vãos por estrutura. O projeto foi desenvolvido considerando as características específicas do Rio Tocantins, que historicamente apresenta variação de nível de quase 10 metros durante o ano, exigindo um controle rigoroso das atividades de construção.

A fabricação das peças segue um cronograma que considera tanto a parte metálica quanto a parte de concreto. Os caixões metálicos e os caixões de concreto são produzidos no pipe shop, um dos canteiros mais importantes da obra, que será um dos pontos visitados pelos jornalistas durante o tour técnico.

Todas fundações devem ficar prontas nos próximos dias | Foto: Divulgação Vale

Redundância

Questionados, os engenheiros também afirmam que o investimento na nova ponte ferroviária não teria a ver com aumento de capacidade de escoamento de minério da Vale, mas com a criação de “redundância”, que evitará que a EFC sofra problemas de continuidade. A nova ponte em Marabá é o último trecho de toda a Estrada de Ferro Carajás, que ainda não estava duplicado.

A EFC possui 900 quilômetros de extensão, e praticamente todo o trajeto já foi duplicado, faltando apenas esse trecho sobre o Rio Tocantins. A construção das novas pontes eliminará esse gargalo, proporcionando maior segurança operacional ao sistema ferroviário da Vale.

Cronograma

Até o final do próximo mês, serão finalizadas 100% das fundações dentro d’água, um marco importante para o andamento da obra. O cronograma prevê a conclusão das atividades em 2027, mantendo o ritmo atual de trabalho.

O controle das atividades considera múltiplos fatores, incluindo pluviometria, impacto das chuvas nas atividades de terraplanagem, questões de navegabilidade e controle do nível da água do Rio Tocantins. Todas essas variáveis são monitoradas continuamente para garantir a segurança e o cumprimento dos prazos estabelecidos.

Frente da Nova Marabá, na margem esquerda do rio, também já com empurre | Foto: Divulgação Vale

Impacto

O projeto das pontes tem gerado impactos econômicos s para a região de Marabá, segundo a Vale. Até abril de 2025, foram contratados R$ 248 milhões em serviços e fornecimentos, dos quais R$ 173 milhões já foram faturados. A massa salarial paga até o mesmo período atingiu R$ 174 milhões, demonstrando o volume de recursos que estão sendo injetados na economia local.

O consórcio foi obrigado, por exigência da comunidade local, a contratar fornecedores regionais. No pico das obras, o projeto emprega mais de 2.500 funcionários, gerando empregos diretos e indiretos que movimentam diversos setores da economia local, desde alimentação e hospedagem até serviços especializados de engenharia e construção.

Terraplenagem para o acesso à ponte na Nova Marabá | Foto: Divulgação Vale

Questões regulatórias

Durante a apresentação, os jornalistas questionaram sobre a integração das novas pontes com o sistema rodoviário existente, especialmente considerando que a BR-222 é uma rodovia federal gerida pelo Estado do Pará. Os engenheiros esclareceram que o projeto foi amplamente estudado, licenciado e aprovado para incluir as alças de acesso e a interseção com a BR-222.

“Esse projeto, o da ponte, ele foi tanto licenciado e estudo e aprovado realmente para fazer com essas duas alças de acesso a interseção novamente no tronco da BR-222”, explicaram os técnicos. Todas as licenças necessárias foram obtidas para a execução completa do projeto, incluindo as estruturas de acesso.

Também afirmaram que existe um diálogo em andamento entre o Ministério Público e o DNIT sobre os próximos passos para a integração completa das pontes ao sistema rodoviário. A Vale foi convidada a participar dessas conversas, que ainda estão em fase de discussão. No entanto, o projeto específico da construção das pontes com suas alças de acesso está totalmente aprovado e licenciado.

(Da Redação)