No último dia 13 de junho, uma sucuri de aproximadamente 5 metros de comprimento foi devolvida ao seu habitat natural na Floresta Nacional de Carajás, em Parauapebas, marcando mais um importante capítulo no trabalho de conservação da fauna amazônica. A operação foi realizada em parceria entre a Fundação Zoobotânica de Marabá (FZM), a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SEMMA) e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), demonstrando a eficácia da cooperação interinstitucional na proteção da biodiversidade regional.
O espécime, que estava sob os cuidados da Fundação Zoobotânica de Marabá, passou por um rigoroso processo de reabilitação antes de ser considerado apto para retornar à vida selvagem. A escolha da Floresta Nacional de Carajás como local de soltura não foi casual, considerando que esta unidade de conservação representa um dos mais importantes refúgios da biodiversidade amazônica, oferecendo as condições ideais para a reintegração da serpente ao seu ecossistema natural.
FZM
Leia mais:A Fundação Zoobotânica de Marabá, protagonista desta ação de conservação, representa uma das mais importantes instituições de proteção da fauna silvestre no sudeste paraense. Criada em 14 de agosto de 1997 por um grupo de cidadãos marabaenses preocupados com a rápida degradação ambiental da Amazônia, particularmente dos castanhais da região e da fauna local, a FZM foi oficialmente registrada em cartório em 20 de julho de 1998, por determinação do Ministério Público Estadual.
Ela é mantenedora e operadora do Parque Zoobotânico de Marabá, que fica à margem da BR-155, e que tem sido um importante instrumento justamente para destinação de animais recuperados em ações das forças de segurança, ou resgatados de situações na área urbana.
Atualmente, o parque abriga mais de 300 animais e recebe recursos do Fundo Municipal do Meio Ambiente, da Sinobras, da Prefeitura de Marabá e da sociedade em geral. Um marco importante na trajetória da instituição ocorreu em dezembro de 2023, quando recebeu do governador Helder Barbalho a Licença de Operação emitida pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas), com validade até dezembro de 2028, autorizando suas atividades como zoológico.
“Fizemos todos os investimentos e modificações estruturais para essa licença sair. A partir de agora, podemos trabalhar para transformar o espaço em zoológico”, declarou Jorge Bichara, presidente da instituição, naquela ocasião.
RESGATE E SOLTURA
A devolução da sucuri à natureza exemplifica a importância fundamental do trabalho de resgate e reabilitação de animais silvestres para a conservação da biodiversidade brasileira. Segundo dados do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), somente em 2023, cerca de 60 mil animais foram atendidos pelos Centros de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) em todo o país, sendo 67% aves, 14% mamíferos, 15% répteis e 4% de outros grupos. Do total, aproximadamente 40 mil animais foram reabilitados e devolvidos à natureza.
A manutenção de animais silvestres na natureza permite a conservação de espécies e de habitats nativos, além de preservar a diversidade biológica. Os animais chegam aos centros de triagem de várias maneiras: cerca da metade é apreendida no tráfico, tanto nacional quanto internacional, em ações do Ibama, da Polícia Federal, das Polícias Rodoviárias federal e estaduais, dos batalhões de polícia ambiental e de entidades estaduais e municipais.
Outros são resgatados em situações de risco, como vítimas de atropelamento, tentativas de caça ou filhotes órfãos. Uma terceira forma de entrada é a entrega voluntária, realizada por pessoas que possuem animais de origem ilegal e decidem entregá-los ao Ibama.
O processo de reabilitação é complexo e pode incluir treinamento de voo para aves, reeducação alimentar, incentivo ao comportamento natural e minimização da interação humana. Mesmo após anos de cativeiro, é possível a reabilitação de animais e retorno à natureza, embora quanto maior o tempo de cativeiro, maior seja o tempo necessário para reabilitação.
FLONA
A escolha da Floresta Nacional de Carajás como local para a soltura da sucuri reflete a importância desta unidade de conservação como um dos mais significativos refúgios da biodiversidade amazônica. Criada pelo Decreto nº 2.486 de 2 de fevereiro de 1998, a Flona de Carajás abrange uma área de 391.263,04 hectares no bioma amazônico, sendo administrada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) em parceria com a mineradora Vale.
Localizada no sul do estado do Pará, a floresta nacional está inserida numa região onde se destaca um conjunto de rochas pré-cambrianas fortemente dobradas e falhadas, denominada Serra dos Carajás.
Esta ação conjunta entre a Fundação Zoobotânica de Marabá, SEMMA e ICMBio serve como modelo para outras iniciativas de conservação, demonstrando que a cooperação interinstitucional e o comprometimento com a causa ambiental podem produzir resultados concretos na proteção da fauna silvestre amazônica.
A sucuri, agora livre em seu habitat natural, carrega consigo não apenas a esperança de uma vida plena na floresta, mas também o símbolo do trabalho incansável daqueles que dedicam suas vidas à conservação da natureza. (Da Redação)