Correio de Carajás

Simpósio sobre saúde mental reúne especialistas e busca soluções em Marabá

Foco do evento está na implementação de soluções inovadoras que respeitem as especificidades culturais, sociais e ambientais da Amazônia

Simpósio: O evento destaca a necessidade urgente de se criar e implementar modelos de cuidado que atendam às realidades amazônicas

Durante dois dias, Marabá está sendo sede de uma discussão importante e urgente: saúde mental. Ao longo desta segunda-feira (12) e de terça-feira (13), o Centro de Convenções Carajás, localizado no Núcleo Nova Marabá, recebe o 1º Simpósio de Inovação em Saúde Mental na Amazônia: Ciência e Gestão para o SUS (SISAM), organizado pela Universidade do Estado do Pará (UEPA). O evento reúne profissionais da saúde, pesquisadores, gestores públicos e pessoas da sociedade civil para discutir os desafios e as perspectivas do Sistema Único de Saúde (SUS) na região.

O foco está na implementação de soluções inovadoras que respeitem as especificidades culturais, sociais e ambientais da Amazônia, promovendo a equidade no cuidado da saúde mental de quem habita essa região. Em sua abertura, o simpósio destacou a necessidade urgente da criação e implementação de modelos de cuidado que atendam às realidades amazônicas, principalmente nas áreas mais distantes e vulneráveis.

Em conversa com a reportagem deste CORREIO, a professora e doutora Sarah Rocha, enfermeira psiquiátrica e especialista em saúde mental em Marabá, destaca que o momento é importante para qualificar os profissionais de saúde que atuam na região: “Essa é uma oportunidade de discussão para promoção de políticas públicas que, de fato, melhorem a assistência em saúde mental aqui na nossa região amazônica”.

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Sarah Rocha: “Essa é uma oportunidade de discussão para promoção de políticas públicas que melhorem a assistência em saúde mental”

Ela também chamou a atenção para a realidade dos serviços de saúde mental em Marabá que, embora estejam presentes no município com o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) e outros serviços, ainda não conseguem dar conta da alta demanda crescente.

“A demanda cresce cotidianamente. São sintomas depressivos, ansiosos e psicóticos. Esse evento vai tratar também sobre dependência de jogos, como um problema de saúde mental com impacto na saúde pública do município”, destaca a especialista.

Regilanne Guajajara, psicóloga indígena e assessora da Secretaria de Estado dos Povos Indígenas, esteve no evento apresentando um TEDx (palestra curta) sobre sua vivência com a psicologia no contexto dos povos indígenas. Em conversa com a reportagem, ela destaca a importância de integrar o saber tradicional indígena às práticas psicoterapêuticas contemporâneas.

“Vejo uma importância muito grande de estar aqui participando desse evento como psicóloga indígena, pois a psicologia indígena está presente nas nossas vidas muito antes de nós, povos indígenas, conhecermos a psicologia como estudo”, afirma

Durante sua palestra, Regilanne compartilhou sua trajetória pessoal e profissional, destacando a relevância de seu trabalho como mãe de uma pessoa com deficiência e psicóloga indígena: “Nós somos capazes de ocupar todos os espaços”.

Regilanne Guajajara: “Nossa maior demanda hoje é fazer com que as pessoas compreendam a realidade cultural”

Regilane também chamou atenção para uma demanda urgente de seus parentes: a falta de compreensão sobre as especificidades culturais dos povos indígenas dentro da atuação psicológica. “Nossa maior demanda hoje é fazer com que as pessoas compreendam a nossa realidade cultural, para que a gente possa diferenciar o que é cultural do que é psicologia em si”. Ela lamenta que ainda haja poucos profissionais com preparo para fazer essa distinção, mas ressalta o esforço dos psicólogos indígenas para mudar essa realidade.

O alto número de suicídios entre pessoas indígenas é um outro tema crucial para Regilanne. Ao dar uma palavra de incentivo para seus parentes, ela ressalta que psicólogos indígenas estão à disposição para ajudar e contribuir da melhor forma possível com aqueles que precisam.

Programação do SISAM

O evento conta com uma vasta programação que inclui palestras, workshops, apresentações de trabalhos científicos e sessões de comunicação oral. Entre os temas abordados estão as políticas públicas e modelos de gestão inovadores para a saúde mental, os impactos das tecnologias digitais na saúde, e as práticas culturais como parte da terapia. A programação também inclui apresentações de pôsteres sobre boas práticas e pesquisas científicas na área de saúde mental, com destaque para a atuação de psicólogos indígenas e o papel da arte na inovação dos cuidados.

Outro destaque é a mesa sobre “Determinantes Sociais, Culturais e Ambientais da Saúde Mental na Amazônia”, que se propõe a discutir como os fatores socioeconômicos e ambientais influenciam diretamente o bem-estar mental das populações da região. Além disso, serão realizadas discussões sobre a saúde mental na universidade, com foco em estigmas e políticas institucionais de suporte para estudantes e profissionais da saúde.

No último dia, o evento contará com um painel de boas práticas, onde especialistas irão compartilhar experiências de cuidados de saúde mental que podem servir de modelo para outras regiões do país. O SISAM também dará ênfase ao papel da educação como ferramenta para transformação da saúde mental, abordando a importância de ensinar a cuidar e de promover o cuidado integral às populações vulneráveis, como adolescentes, idosos e LGBTQIA+.

O evento encerra com uma cerimônia de entrega de certificados e premiações, celebrando os melhores trabalhos apresentados durante os dois dias de intensas discussões e aprendizado.

(Luciana Araújo)