Correio de Carajás

Cultivando eco-pedagogias em tempos de seca

Dan apresenta as propostas dos projetos de lei no Lançamento da Campanha Cultura Viva em Marabá/ Fotos: Divulgação

No dia 17 de abril último, o Instituto Transformance: Cultura & Educação encerrou um ano de pesquisa artístico-pedagógica sobre como abordar o fato de colapso climático sem aumentar a profunda ansiedade adolescente e juvenil que vem provocando.

Desde oficinas realizadas com professores na escola Martinho Motta, em Marabá, na escola indígena na Aldeia Akrântiketêjê no TI Mãe Maria, e com gestores nos ministérios em Brasília, o Dan Baron vem anotando quanto a questão provoca comunidades no mundo inteiro se refugiaram no silêncio, e tem incentivado a UNESCO no final de 2022 convocar a sociedade civil a reimaginar nossos futuros juntos: um novo contrato social para a educação.

No início de março 2025, gestoras Deize Botelho do Pontão Pontal e Claudiana Guido da UNIFESSPA convidaram fazedores e fazedoras da Cultura contemplados pelo Edital Lei Aldir Blanc apresentarem os produtos de seus projetos num 1º Encontro de Saberes Amazônicos.

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“Escrevi às gestoras perguntando se pretenderam realizar um debate sobre como sustentar Saberes Amazônicos em tempos de colapso ambiental e o fato que as Usinas da Paz e o Museu de Marabá são financiados pelas próprias mineradoras e petroleiros responsáveis pela maior seca da Amazônia na história. Logo me convidaram transformar as perguntas em uma Oficina de Abertura e Contextualização.”

Dan Baron apresenta à mesa o calendário comunitário registrado na Biblioteca Nacional como inovação pedagógica do projeto Rios de Encontro

No dia 14 de março, 22 estudantes de artes visuais, teatro, sociologia e pedagogia, e artistas locais participaram numa oficina de 03 horas. Na primeira roda de escuta, se apresentaram. Com perguntas diretas para cada participante, Dan contextualizou o Encontro e depois transformou a roda em duplas, pedindo a cada responder à duas perguntas: qual é sua maior qualidade transformadora, e o maior desafio à ser resolvido na sua vida?

Após 20 minutos, Dan juntou as duplas em grupos de quatro pessoas para integrar suas respostas em um projeto coletivo prioritário. Logo antes de apresentar suas propostas, os grupos receberam a pergunta desafiadora: “E se o Rio Tocantins secar?” Os grupos adaptaram seus projetos. O Dan convidou a roda retornar à suas duplas originais para vivenciar cinco minutos de massagem em preparação para ouvir a apresentação da proposta coletiva final de cada grupo.

“Ninguém havia contemplado a morte do Rio Tocantins”, relatou Dan no próximo dia aos gestores do Ministério da Cultura na mesa do lançamento da Campanha de Cultura Viva. “Celebraram as lendas, músicas, moquecas, memórias da infância no rio. Mas mesmo sofrendo olhos ardendo e gargantas inflamadas de tantas cinzas no ar, cuidar do rio entrou em nenhum projeto. Todos concordaram: sem água, não tem vida. Teremos de se deslocar para outra cidade, outro rio.”

Dan Baron encerrou sua contribuição à mesa institucional com três propostas colhidas da oficina: incentivar cada Pontões de Cultura no país integrar na sua Campanha Cultura Viva um Projeto de Lei municipal do Direito do rio local; um Projeto de Lei que tipifica Ecocídio como crime; e um critério avaliativo nos futuros Editais dos Programas de Cultura evidência de prática de cuidado ambiental.

No XIX Acampamento Pedagógico da Juventude Sem Terra (Curva do S), jovens dançam o momento que a chuva parou
No XIX Acampamento Pedagógico da Juventude Sem Terra (Curva do S), jovens dançam o momento que a chuva parou

No dia 11 de abril, Dan relatou estas reflexões num jantar com diretora Cristina Arcanjo e coordenadora pedagógica Célia da Silva Costa da escola Martinho Motta. Ecoaram na visão e na metodologia do projeto EXPOINT: Exposição de Pesquisa Integrada, gerando um convite para dialogar no dia 15 de abril com a docência da Escola. “A roda de 03 horas encerrou com a decisão coletiva”, conta a Diretora: “a partir da autopesquisa de cada estudante e da memória viva de sua família, criar na escola viveiros de mudas regionais e plantas medicinais, implantar um viveiro de peixes do Rio Tocantins, e cultivar governança participativa estudantil, transformando a escola em um Viveiro Bem Viver.”

“No contexto da desconfiança na COP 30 e da derrocagem do Pedral do Lourenção, este projeto coletivo, comunitário e auto-gestionado em Marabá gera uma esperança rara”, disse Dan Baron.