Embora não seja área remanescente de quilombo, ao contrário do que possa parecer e de várias teorias a respeito, o Bairro Francisco Coelho, mais conhecido como Cabelo Seco, onde Marabá floresceu há 105 anos, pelo oitavo ano consecutivo lembrará o Dia da Consciência Negra, comemorado nesta terça-feira (20), com uma série de eventos. A programação está prevista para iniciar às 16 horas com apresentações de danças, música ao vivo com cantores locais e também o já consagrado arrastão pelas ruas do bairro.
A organização da festa está por conta do Grupo de Mulheres do Cabelo “Seco Raízes de Marabá” e do Coletivo Consciência Negra em Movimento. Segundo Erick de Belém Oliveira, integrante do Coletivo e organizador do evento, apesar das dificuldades financeiras, os moradores do bairro Cabelo Seco ajudam no processo de preparação da programação que tem o intuito de chamar atenção para que o poder público tenha um olhar mais comprometido com aquela comunidade.
“Vai ser uma programação que destaca muito da beleza afro e que também trará reflexões relacionadas às questões raciais. Nós temos uma relação que, infelizmente, banalizam muito a necessidade de reflexões relacionadas justamente a esses conflitos raciais, a importância do negro na construção do Brasil e também do município de Marabá” afirma.
Leia mais:Outro aspecto que Erick chama atenção é a falta de apoio do poder público com relação às ações que poderiam acontecer na comunidade, não só no Dia da Consciência Negra.
“A gente se oportuniza, uma vez que não temos condições devido a nossa estrutura, a gente não consegue estra desenvolvendo atividades no decorrer do ano todo, então pra gente o dia 20 é bastante simbólico”, ressalta, reiterando que o momento é de mostrar a cultura negra, pois a programação contará com oficinas de turbantes, penteados afros, entre outras ações que mostrem a diversidade da população negra.
A programação, cuja temática versará sobre resistência negra, também tem como organizadora Ana Luiza Rocha da Silva, coordenadora do Grupo de Mulheres do Cabelo Seco Raízes de Marabá. Dona Ana, como é mais conhecida, tem 62 anos e mora no Bairro Cabelo Seco desde quando nasceu. Ela fala da importância do Dia da Consciência.
“Tem que valorizar a nossa cultura, e a gente em tudo é afro né, isso já vem de longa data, o nosso grupo de mulheres é o apoio. Aqui em marabá foi onde tudo começou. Seu Francisco Coelho trouxe aquelas morenas igual eu lá do Maranhão e aí foi crescendo. É muito importante fazer o evento aqui no Cabelo Seco”.
Segundo Erick de Belém, que se formou em ciências sociais pela Unifesspa, o Bairro do Cabelo Seco teve início quando Francisco Coelho trouxe mulheres predominantemente negras oriundas do Maranhão para a ponta de terra onde se encontram os rios Itacaiúnas e Tocantins, dando origem ao bairro afirma Erick.
Como surgiu
Durante o governo Lula (2003-2010), a Lei nº 10.639 de 9 de janeiro de 2003, determinava a inclusão da temática “História e Cultura Afro-Brasileira” no currículo escolar. Nesse mesmo documento, ficou estabelecido que as escolas iriam comemorar a consciência negra:
“Art. 79-B. O calendário escolar incluirá o dia 20 de novembro como ‘Dia Nacional da Consciência Negra’.”
No entanto, foi somente no governo de Dilma Rousseff e através da Lei nº 12.519 de 10 de novembro de 2011, que essa data foi oficializada. Nesse documento foi criado o “Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra”, sem obrigatoriedade de que ele fosse feriado. (Adriana Oliveira com informações do site Toda matéria)