O lançamento do documentário “Nós, Quilombolas”, na última quinta-feira (6), reuniu, além dos personagens e seus familiares, membros da comunidade acadêmica e convidados. Dirigido pelo professor João Pereira, o curta-metragem de 25 minutos surgiu a partir da experiência do diretor no projeto Narrativas Amazônicas 2. O filme apresenta a história de oito personagens principais, todos discentes ou egressos da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa).
A proposta do diretor foi reconstruir trajetórias, viajar até essas pessoas, acompanhar como estão suas vidas atualmente e trazer novas perspectivas, incluindo diversas vozes da comunidade. “O filme explora a vivência dos estudantes dentro da universidade e sua relação com a instituição e a vida fora dela, destacando os impactos da experiência acadêmica em suas trajetórias pessoais e comunitárias”, acrescenta Pereira.
Fomentado pela Lei Paulo Gustavo, o documentário começou a ser produzido em outubro de 2024 e foi finalizado em janeiro de 2025. Para sua realização, formou-se uma equipe que promoveu um amplo diálogo entre os estudantes e o coletivo quilombola dentro da universidade. Esse processo envolveu duas viagens às comunidades, conversas com moradores, pais de alunos e os próprios estudantes.
Leia mais:O projeto Narrativas Amazônicas 2, coordenado pela professora doutora Maria Clara Sales Carneiro Sampaio (FAHIST), tinha como objetivo a formação e a produção de vídeos e documentários voltados para a capacitação de agentes provenientes das aldeias indígenas da região Sul e Sudeste do Pará. Durante o projeto, foram desenvolvidos quatro documentários com temáticas e debates indígenas. Foi dessa experiência que João Pereira teve a ideia de contar as vivências de estudantes quilombolas. “A partir desse contato, surgiu, junto com a comunidade quilombola, a necessidade de também pensar e tratar alguns debates que eles consideram urgentes”, explica João.
Personagens e histórias – Quilombola de Nova Jutaí, no município de Breu Branco (PA), Juliana Trindade é estudante do curso de Artes Visuais e, junto com suas irmãs, participou do curta. “Minha experiência foi ótima. Fizemos entrevistas, participamos das cenas de dança e mostramos nossa cultura. Sinto-me lisonjeada por ter sido uma das escolhidas”, compartilha. Juliana ressalta ainda que o filme é para todos, pois transmite muito sobre a cultura quilombola.
Lety Trindade destaca que, além de suas histórias de vida e trajetórias, a presença da cultura quilombola na Unifesspa tem se fortalecido com o ingresso de novos estudantes. Um exemplo disso é o samba de cacete, uma expressão cultural que tem ganhado força dentro da universidade. “Com o coletivo quilombola, buscamos resgatar essa tradição, que estava quase se perdendo em nossa comunidade devido a questões históricas e sociais”, acrescenta.
Deleon Soares, estudante do curso de História, ressalta a importância do documentário para a vivência quilombola dentro da universidade, pois ele proporciona um reencontro com as raízes culturais. “Acho que a abordagem cultural, que retrata essa vivência na instituição, foi uma sacada muito interessante do professor João. Ele mostra não apenas a realidade acadêmica, mas também familiar, evidenciando o processo e a luta que enfrentamos para estar aqui”, afirma.
João e sua equipe pretendem produzir novos documentários e, desta vez, a intenção é explorar, além da vivência acadêmica, o trânsito desses alunos entre suas comunidades de origem, cidades e estados até a Unifesspa. Além disso, já estão em negociação para exibi-lo em outras plataformas e eventos. Há diálogos em andamento com a TV Cultura, além da intenção de inscrevê-lo em festivais e ampliar sua circulação ao longo deste ano.