Professores e pesquisadores da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), por meio do Programa de Pós-Graduação em Dinâmicas Territoriais e Sociedade na Amazônia (PDTSA), da Faculdade de Ciências Agrárias de Marabá (FCAM) e do Programa de Pós-Graduação em Química (PPGQ), realizaram, entre os dias 22 e 24 e 29 e 31 de janeiro de 2025, a coleta de amostras das águas dos rios Tocantins e Itacaiunas, em Marabá. A ação ocorre no âmbito de projetos de pesquisa e extensão fomentados pela CAPES.
Além da coleta, foi promovida uma ação de conscientização junto à comunidade local, com a distribuição de panfletos e um bate-papo com moradores das áreas afetadas por inundações durante o período das enchentes. Posteriormente, também foi realizada a coleta de resíduos sólidos.
A iniciativa contou com o apoio de bolsistas do Programa Nacional de Cooperação Acadêmica na Amazônia (PROCAD-AM) e do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC/CNPq, PIBIC/FAPESPA e PIBIC-JR), além de voluntários da Faculdade de Agronomia da Unifesspa e mestrandos do PDTSA e do PPGQ.
Leia mais:Há 20 anos estudando a qualidade das águas dos rios Tocantins e Itacaiunas, professora Andrea Hentz destacou a importância de conscientizar a população sobre os riscos do uso das áreas alagadiças como espaços recreativos. “Sabemos da elevada contaminação dessas águas, mesmo no período de estiagem. Durante as enchentes, a situação se agrava devido ao contato da água com esgotos, fossas domésticas e resíduos depositados nessas áreas, aumentando o potencial de contaminação. Além disso, há o risco de proliferação de doenças de veiculação hídrica, como a leptospirose. É fundamental alertar a população sobre os perigos do contato com essas águas”, ressaltou.
Resultados – Segundo os pesquisadores, durante o estudo foram entrevistadas 170 famílias ribeirinhas, e observou-se que 55,70% dos moradores da orla do Rio Tocantins, em Marabá, utilizam chafarizes públicos para consumo de água potável. Outros 22,60% utilizam poços semiartesianos, 17,90% compram água mineral, e apenas 3,80% possuem acesso à água encanada.
Quanto à qualidade das águas do Rio Tocantins na orla de Marabá, durante o período estudado – abrangendo tanto os meses de enchente quanto o veraneio –, a análise das 480 amostras coletadas revelou que 81,81% apresentavam a presença de coliformes totais. Esse dado evidencia que a água pode oferecer riscos à saúde humana.
A Portaria 2.914/11 define como potável a água destinada ao consumo humano que atenda aos padrões microbiológicos, físicos, químicos e radioativos estabelecidos, sem oferecer riscos à saúde. Essa norma também regulamenta os procedimentos de controle e vigilância da qualidade da água para consumo.
No que diz respeito à balneabilidade, a Resolução CONAMA 357/2005, em conjunto com a Resolução CONAMA nº 274/2000, estabelece que águas destinadas à recreação de contato primário são consideradas impróprias quando apresentam uma concentração superior a 2.500 coliformes fecais (termotolerantes), equivalente a 2,5 × 10³ UFC/mL.
Os valores de coliformes termotolerantes encontrados no período de cheia (média das amostras coletadas ao longo dos anos) variaram entre 1,9 × 10² e 4,8 × 10¹³ UFC/mL. Já na seca (veraneio), os valores oscilaram entre 3,8 × 10² e 5,2 × 10¹⁰ UFC/mL. No caso dos coliformes totais, durante a cheia, os valores mínimos e máximos foram de 1,5 × 10² a 5,2 × 10¹³ UFC/100 mL, enquanto na seca variaram entre 1,5 × 10² e 4,3 × 10¹⁰ UFC/100 mL.
O estudo também apontou que, apesar dos investimentos públicos em infraestrutura urbana na região, o Rio Tocantins continua sendo amplamente utilizado para lazer: 47% dos entrevistados afirmaram usá-lo para essa finalidade. Além disso, a relação com o rio vai além do lazer, pois, somando-se as respostas, 75% dos entrevistados dependem de suas águas para a realização de atividades diárias.
“O processo de urbanização na região, intensificado a partir da década de 1960, continua se expandindo até os dias atuais. No entanto, a dinâmica das cidades frequentemente entra em conflito com as pressões pelo cumprimento das legislações urbanísticas e ambientais em níveis nacional, estadual e municipal”, conclui Hentz.
(Fonte: Unifesspa)