Ações do setor de Postura da Prefeitura Municipal de Marabá estão causando enorme polêmica na cidade e revolta de algumas pessoas atingidas, que acusam o poder Executivo de estar escolhendo quem vai ou não retirar de áreas públicas. Nos cinco cantos da cidade, dizem, as ações não têm tido a mesma proporção e urgência. Nas redes sociais, os internautas não pouparam críticas e taxaram a forma como o trabalho está sendo feito de: “autoritária, incoerente e desumana”.
O responsável por essa classificação foi o cidadão Ismael Castro dos Santos, que fez um desabafo contundente via Facebook em defesa dos comerciantes atingidos pela medida na Folha 32. É que na última semana a Postura retirou do canteiro central em frente ao Banco do Brasil e aos Correios, uma série deles, que ali estavam acomodados há mais de década, comercializando lanches, como uma pastelaria; ou xerox e plastificação, em um centro de cópias. A Prefeitura anunciou que pretende colocar uma praça ali.
Ismael, que mora em Marabá há oito anos, se diz indignado com o ocorrido e fez uma postagem no Facebook lamentando o fato dos comerciantes ficarem sem suas barracas de comércio. “A maioria daquelas pessoas tinha aquilo ali como única fonte de renda, foi um questionamento que eu pensei, como é que essas pessoas vão passar agora Natal e ano novo tendo uma decepção dessas, desempregados ainda mais numa crise dessas?”.
Leia mais:O internauta diz, ainda, que fazer praças não deveria ser uma prioridade para a atual gestão, já que segundo ele, a emergência do Hospital Municipal da cidade não conta com pediatra de plantão e leitos para as crianças, além da ala pediátrica estar sucateada, completa. O maior pesar de populares como o Ismael, é por conta de que os comerciantes estão agora sem a sua principal, e para muitos a única fonte de renda.
“O pastel e os comércios ao redor eram fonte de renda e emprego para várias pessoas, movimentava o ponto de mototáxi, assim como também serviços de cópia e acesso a internet que ficavam ao lado”, completa Ismael.
Procurado pela reportagem do Jornal CORREIO, o dono do agora antigo pastel, de prenome Anderson, não quis gravar entrevista, se mostrando temeroso. Disse, no entanto, que tinha empresa formalizada e funcionários com carteira de trabalho assinada, mas que preferia não se manifestar sobre a sua retirada do local.
A reportagem esteve na área em questão e observou a relutância dos comerciantes que ainda estão no local ou que foram expulsos e voltaram com carrinhos, em falar sobre o assunto com a imprensa, principalmente pelo medo de sofrerem algum tipo de retaliação por parte de fiscais da prefeitura.
Entrevistado acredita em perseguição política
Ao entrevistar populares é visível a indignação mediante a ação. Raimundo Nonato Silva Queiroz é taxista há 20 anos e sempre passa pelo local, disse achar que foi um ato político e não o simples cumprimento da lei. “Sempre tinha alguém comprando aqui, né?! Tanto aqui, quanto ali na barraquinha do açaí e hoje a gente passa e vê que não tem mais aquela quantidade de pessoas que ficavam aqui lanchando, às vezes aguardando o horário pra entrar no banco, eu não sei até que ponto isso vai beneficiar o município”.
Os mototaxistas que ficam no local esperando por clientes dizem sentir a diminuição do movimento e, consequentemente, no número de corridas. Adriano Diniz é moto taxista há oito anos e desde que começou na profissão que fica no ponto em frente ao Banco do Brasil. “A gente tá sem saber de nada, chegou uma informação que iria ser uma praça, depois falaram que iam construir nosso ponto e aqui, até agora, a gente não sabe de nada, ainda não sabemos a resposta da prefeitura sobre o quê que vai ser construído mesmo aqui”.
O comerciante José Edilson de Sousa, que estava ali há 15 anos e teve a sua barraca retirada, está agora vendendo seus produtos em uma mesa logo em frente ao Banco do Brasil, na calçada. Ele agora monta sua banca pela manhã e desmonta ao final da tarde levando tudo pra casa para voltar no dia seguinte e fazer tudo novamente.
“Já ficou difícil sem a barraca, espero que ele deixe a gente pelo menos por aqui trabalhando”. Segundo José Edilson, os comerciantes pagavam energia que era legalizada e completa. “Dava pra ele fazer a praça dele e organizar um localzinho pra gente ficar, nesse critério fica bom pra nós se ele organizar um lugarzinho pra gente ficar, mesmo sem ser fixo”.
O QUE DIZ A PREFEITURA
Em nota respondendo a questionamentos do CORREIO ontem, a Prefeitura enviou este texto: “Nota de Esclarecimento – A ação do Departamento de Postura é fruto de um ordenamento que vem sendo feito desde o início da gestão em toda cidade, assim como aconteceu na Feira da Getúlio Vargas e em outras praças. Todos os proprietários foram notificados para retirada, já que os locais, não tinham qualquer documentação de propriedade e a área em questão é uma praça pública. Foi acordado entre Postura e ambulantes que eles poderão fazer uso durante o dia com instalações móveis, sem fixação de barracas em área pública. A prefeitura segue as orientações do Ministério Público que prevê a acessibilidade de passeios e vias e desobstrução de pontos que não possuem esse tipo de acesso fazendo cumprir esta lei”.
(Adriana Oliveira)