Na véspera do Dia da Consciência Negra (20 de novembro), um outro debate precisa ser aprofundado: a situação da mulher negra na sociedade. Quando se faz esse recorte de gênero dentro da temática da discriminação racial no País, essa situação é mais preocupante ainda, pois esta parcela da sociedade é a mais vulnerabilizada. E Marabá funciona como microcosmo desse cenário nacional.
Quem faz esse alerta é a educadora Rose Bezerra, que pesquisa sobre o assunto e milita na área. “Se a gente pudesse fazer um retrato no Brasil da pessoa empobrecida era de uma mulher negra. Os dados econômicos no Brasil inteiro e em Marabá mostram isso”, resume.
A pesquisadora confirma que movimentos que lutam pelos direitos das mulheres já cobraram no Ministério Público que recomende o município a execução de políticas públicas mais concretas para atender a essa parcela da sociedade.
Leia mais:De fato, o que Rose fala tem amparo em pesquisa. De acordo com relatório produzido pelo Projeto Mulheres Amazônidas, em 2022, 59% das pessoas inscritas no CadÚnico, que vivem na pobreza e na extrema pobreza, são mulheres negras.
“Quem mais acessa do CadÚnico em Marabá? Quem é que está na extrema pobreza em Marabá? São as mulheres negras”, reafirma, ao observar que não existem políticas para mulheres negras em Marabá.
Ainda amparada no relatório do Projeto Mulheres Amazônidas, Rose Bezerra observa que a mulher negra é o maior alvo de violência em suas diversas formas, inclusive sexual. Conforme dados levantados pelo “Mulheres Amazônidas” entre 2010 e 2019, 87% das mulheres vítimas de violência sexual em Marabá eram pretas e pardas.
“Se a gente for recortar quem são as pessoas que mais sofrem violência sexual, são as mulheres negras, especialmente as meninas negras; quem mais sofre violência obstétrica são as mulheres negras… Então não tem como discutir consciência negra sem discutir o lugar que a mulher negra ocupa”, argumenta.
(Chagas Filho)