O escritor marabaense Airton Souza carrega, em 25 anos de dedicação à literatura, mais uma conquista: representar o Norte do Brasil como um dos cinco finalistas do Prêmio Oceanos, a premiação de maior prestígio para a literatura em língua portuguesa. Entre quase 2.600 obras inscritas de autores de países lusófonos, Outono de Carne Estranha, ambientado em Serra Pelada, é uma rara e importante vitória para a literatura da região. A final será realizada em 5 de dezembro, no auditório do Itaú Cultural, em São Paulo, onde serão anunciados os vencedores nas categorias de prosa e poesia, cada um premiado com R$ 150 mil.
“O Oceanos é um dos prêmios mais respeitados do cenário literário em língua portuguesa”, afirma Airton, com um misto de entusiasmo e humildade. “Estar entre os finalistas é uma honra. Representar Marabá e o Pará é, para mim, algo emocionante. Ver uma obra que fala da nossa região, que conta uma parte da nossa história, sendo reconhecida internacionalmente é algo raro e valioso. De fato, a literatura nem sempre tem olhos para o Norte”, reflete.
Seu romance se enraíza na história da Serra Pelada, o emblemático garimpo de Curionópolis, que marcou uma era de esperança e brutalidade. Para Airton, contar essa história é também dar visibilidade às cicatrizes e à cultura da região, representando questões de trabalho, mobilidade e os vestígios de violência deixados por aquele período. “A Serra Pelada não é apenas um marco brasileiro, é um pedaço da história mundial. E este reconhecimento mostra a importância do que foi contado ali”, explica o autor.
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Entre os finalistas, Airton reconhece estar em meio a autores consagrados, com carreiras já consolidadas na literatura lusófona. “Diferente dos outros finalistas, sou o menos conhecido. Em geral, os vencedores do Oceanos são nomes já estabelecidos, e eu ainda estou começando a trilhar esse caminho de reconhecimento. Por isso, estar ali já é, para mim, uma conquista imensa,” diz. O processo de seleção do prêmio é rigoroso: das quase 3 mil obras inscritas, apenas 60 avançam para as semifinais, sendo reduzidas a cinco finalistas por categoria – prosa e poesia – na última etapa.
Mas este não é o primeiro reconhecimento. A obra já havia sido laureada com o Prêmio Sesc e também é finalista do Prêmio São Paulo de Literatura, outro importante prêmio brasileiro, cujo resultado será anunciado em 11 de dezembro. A ascensão literária de Airton reflete um trabalho de longa data, com raízes profundas no compromisso com a literatura e a região.
CONQUISTA
Ao falar sobre o significado dessa indicação, Airton expressa que a vitória transcende o plano individual. “Apesar de ser uma conquista pessoal, sinto que represento nossa região. Trazer visibilidade para o Norte, para as histórias que vivemos aqui, é mostrar ao mundo um pouco do nosso chão, da nossa gente, das nossas histórias,” aponta, com firmeza e orgulho.
Para o marabaense, a literatura é um espaço para contar a história do próprio lugar, sem a necessidade de narrar vivências de outros cenários. “Acho que isso é o mais importante: narrar a nossa própria trajetória. Estar em eventos literários, ao lado de autores como Itamar Vieira e Carla Madeira, é uma oportunidade de levar um pouco do Norte, de Marabá, para esses espaços. Esse tipo de visibilidade, que a literatura me trouxe, vale cada ano dedicado a esse trabalho”, reflete, em tom de realização.
NOITE DE EXPECTATIVA
A cerimônia de premiação será em dezembro e, independentemente do resultado, Airton já considera a indicação uma vitória para a região. “Nunca tivemos um autor paraense finalista em um prêmio de tamanho prestígio. Este é um reconhecimento inédito. Só isso já me enche de orgulho e traz luz para o valor do trabalho literário que estamos desenvolvendo aqui no Norte,” enfatiza.
Assim o autor, a noite de 5 de dezembro representará mais do que o anúncio de um prêmio; será um marco na trajetória da literatura amazônica no cenário internacional. Essa história, que começa em Marabá e percorre os rincões de Serra Pelada, já crava seu espaço na literatura em língua portuguesa e, possivelmente, ganha um novo capítulo na noite de premiação de Oceanos.
(Thays Araujo e Milla Andrade)