Collab é a abreviação do termo em inglês “collaboration”, que significa “colaboração” em português. É um conceito que se refere a parcerias entre indivíduos, empresas ou artistas para trabalhar em um projeto específico.
E é exatamente isso que está acontecendo em Canaã dos Carajás, onde a mineração, por meio do Fundo Vale, está apoiando um projeto de Sistemas Agroflorestais (SAFs), que está gerando resultados expressivos para dezenas de pequenos produtores do campo.
Essas práticas inovadoras representam uma harmoniosa dança entre a natureza e a agricultura, trazendo não apenas diversidade ao solo, mas também uma visão sustentável para o futuro. Imagine um lugar onde cada plantio se torna uma semente de oportunidades e cada colheita um passo em direção a uma economia mais próspera e de renda para o produtor o ano todo.
Leia mais:A Belterra Agroflorestais é uma startup que está se configurando como um exemplo da estratégia do Fundo Vale de catalisar investimentos em negócios de impacto em uma cadeia de valor sustentável. A iniciativa visa acelerar o desenvolvimento, a maturação e o crescimento de startups focadas na bioeconomia, que valorizam parcerias com agricultores locais.
O programa apoia iniciativas de conscientização voltados a condições de trabalho dignas e investe em pesquisa, inovação e compartilhamento de conhecimento sobre modelos de produção em Sistemas Agroflorestais.
É o que acontece na fazenda São Francisco, localizada entre os municípios de Parauapebas e Canaã dos Carajás, na região sudeste do Pará. Como em um verdadeiro laboratório de práticas agroflorestais, a fazenda da Belterra utiliza áreas de pasto degradado para implementar os SAFs, com foco no plantio de cacau.
A propriedade abrange uma área total de 56 hectares, dos quais 34 estão dedicados ao cultivo. Em cada hectare foram plantados mil pés de cacau. A meta é ambiciosa: alcançar dois milhões de mudas de cacau no próximo ano e, em cinco anos, somar dez milhões. Esse esforço não apenas reabilita áreas degradadas, mas também assegura uma colheita abundante de amêndoas de cacau, essenciais para a produção de chocolate.
O plantio na fazenda São Francisco é organizado em três talhões, que são porções de terra dedicadas à plantação principal e onde também são cultivadas árvores como jatobá, ipê, sumaúma, mogno, ingá e cumaru. A cada vinte e oito metros, uma muda de planta florestal é inserida, intercalando-se com os pés de cacau.
Parte da área também é dedicada ao plantio de mandioca e banana, justamente para propiciar colheita e faturamento durante todo o ano para o produtor. A banana, por dar frutos o ano inteiro, não apenas oferece sombra essencial para o cacau, mas também gera uma renda praticamente o ano inteiro para quem a produz. À medida que as bananas crescem, preparam o solo para a chegada das árvores florestais e do cacau, criando um ambiente ideal para o crescimento saudável das culturas.
Com apoio do Fundo Vale, a startup de recuperação de áreas nasceu com a missão de promover o desenvolvimento sustentável na agricultura. A empresa envolve, também, dezenas de pequenos e médios proprietários de terras para produzir por meio de parceria em áreas com potencial de serem recuperadas e, assim, tirarem a sua renda de forma a não derrubarem a floresta.
Segundo levantamentos da Belterra, enquanto a pecuária gera uma renda de R$ 150 por hectare, o cultivo de algumas culturas pode representar uma receita de cinco a dez vezes maior para o proprietário.
BELTERRA EM NÚMEROS
- 30.000 hectares de preservação
- 14.000 hectares recuperados entre 2020 e 2024
- 4.000 hectares agroflorestais
- 2.900 hectares de cacau implementados
Benefícios e sustentabilidade entre árvores e várias frutíferas
Os benefícios dos SAFs vão além da produção, justamente por promover a saúde da terra. O solo coberto com matéria orgânica não apenas nutre as plantas, mas também proporciona um microclima ideal para o crescimento das culturas. Essa diversidade, com mudas de cacau, banana e árvores florestais plantadas em intervalos estratégicos, é uma fórmula comprovada para a resiliência e a produtividade.
O futuro do campo está enraizado na interdependência das espécies e no respeito à natureza. À medida que os produtores rurais adotam esses sistemas, eles não apenas asseguram a sua própria sustentabilidade, como também contribuem para um mundo mais verde e equilibrado. Os sistemas agroflorestais são, sem dúvida, o aroma do futuro, perfumando nossas terras com a promessa de uma agricultura que alimenta o mundo de forma sustentável e inovadora.
Patrícia Daros, diretora de Soluções para a Natureza da Vale e diretora-executiva do Fundo Vale, destaca que a mineradora apoia a implantação de SAFs no sudeste do Pará, integrando esses projetos sociais aos planos de relacionamento com as comunidades locais, promovidos pela área de Sustentabilidade da empresa. O objetivo é fortalecer essas comunidades, tornando-as autônomas e capazes de gerar trabalho e renda.
Além disso, a empresa está ativamente implantando projetos SAFs em parceria com startups agroflorestais. Em 2019, a Vale comprometeu-se a recuperar 100 mil hectares de florestas. Apenas a Belterra, que tem operações nos estados do Pará, Bahia, Mato Grosso, Rondônia, Piauí e Minas Gerais, possui sob sua gestão cerca de quatro mil hectares agroflorestais e auxilia na preservação de 30 mil hectares. No total acumulado entre o início de 2020 e maio de 2024, a empresa foi responsável por quase 14 mil hectares, quase 15% do total que a Vale se comprometeu a recuperar.
O Fundo Vale tem incentivado e investido em negócios de impacto que implementam sistemas sustentáveis, como os SAFs, para construir uma nova realidade econômica, focando no desenvolvimento desses negócios, na geração de conhecimento e em arranjos financeiros voltados para a conservação e recuperação dos biomas, especialmente na Amazônia.
Patrícia explica que a seleção dos projetos começou em 2019, quando foram avaliadas 59 iniciativas com potencial para integrar o portfólio. Foram considerados aspectos como a geração de créditos de carbono, capacidade de expansão, impactos sociais e ambientais, geração de renda e emprego, espécies nativas a serem implantadas, e a viabilidade do modelo de negócio.
Para avaliar um projeto, o primeiro passo é verificar se ele se enquadra no Marco Conceitual da Meta Florestal, um documento elaborado por especialistas que orienta sobre quais sistemas, manejos e períodos de acompanhamento têm potencial para recuperar áreas. Em seguida, são analisados o potencial de impacto socioambiental positivo e os riscos de impactos negativos. Os indicadores financeiros também são avaliados para entender a viabilidade a longo prazo de um sistema agroflorestal sustentável.
Meta Florestal para 2030 foca no emprego e renda
Os SAFs que contribuem para a Meta Florestal 2030 da Vale buscam alcançar os benefícios descritos na Teoria da Mudança do programa. Esses benefícios incluem a geração de empregos (fixos, temporários, parcerias e para as famílias), aumento da renda dos trabalhadores, retorno financeiro para os negócios apoiados, distribuição justa dos benefícios financeiros, balanço positivo de carbono, aumento da cobertura vegetal e melhoria na qualidade do solo, entre outros, que podem ser conferidos na Teoria da Mudança. A iniciativa também contribui para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030, com foco na emergência climática e na reversão da perda da natureza.
Patrícia Daros, diretora de Soluções para a Natureza da Vale, aponta que o principal desafio é planejar um sistema economicamente viável em escala. “Os sistemas agroflorestais demandam um investimento inicial elevado, e o mercado financeiro tradicional ainda não está completamente aberto ao risco desses novos modelos. É necessário criar modelos atrativos para investidores, garantindo contratos de venda dos produtos preferencialmente antes do início das implantações. Também é essencial investir em pesquisa e desenvolvimento de técnicas de manejo, maquinário e variedades de espécies adaptadas ao cenário climático atual”, detalha.
Os negócios apoiados pela Meta Florestal buscam construir relações com as comunidades locais por meio de parcerias rurais, ajudando na transição para uma agricultura mais sustentável com SAFs. Esses projetos também fomentam a criação de empregos. Em 2023, por exemplo, o programa capacitou pequenos produtores de cacau em melhores práticas de cultivo em SAF.
Por fim, Patrícia cita a Belterra como um case de sucesso. “Através de modelos inovadores de parceria com agricultores, oferecemos financiamento, assistência técnica para implantação, inteligência de mercado e garantia de escoamento da produção. A principal cultura desses arranjos é o cacau, que possui alta demanda tanto no mercado local quanto no externo. Já implantamos mais de 2.900 hectares, sendo 85% desse total dedicados a SAFs”.
Aumento na produção de polpas de Dona Dalva
Dalva Penha é uma produtora que vive na comunidade da VP12, na zona rural de Parauapebas, há 38 anos. Desde sua chegada à região, em 1998, começou a produzir polpa de frutas, tornando-se pioneira no beneficiamento da acerola ao trazer para a área as primeiras mudas. Há mais de quatro anos, Dalva decidiu implementar um SAF em sua propriedade, o que foi motivado pelo desejo de aprimorar sua produção. “Eu já tinha várias frutas plantadas, meu SAF natural, como chamo. Quando veio esse projeto, eu me empolguei. Para mim foi muito bom mesmo”, explica.
Em seu sistema agroflorestal, Dalva escolheu cultivar uma variedade de espécies. Além da acerola, ela já cultivava manga, goiaba e outras frutíferas. Com o SAF, ampliou sua produção para incluir banana e limão, que contribuíram significativamente para sua renda. “Colhi e vendi muita banana e limão. Fiquei muito feliz porque essas duas espécies aumentaram minha renda”, relata.
Para gerenciar a interação entre as plantas e as árvores, Dalva segue um espaçamento organizado em sua propriedade, onde alterna linhas de frutíferas e árvores florestais. No entanto, ela enfrenta desafios, especialmente com a estiagem intensa, que afeta as plantas. “Espero que venha logo a chuva, para superar o mais rápido possível”, diz.
Dalva também percebe benefícios ambientais desde a implementação do SAF. “Agora, além das frutíferas, tem ainda mais árvores, como mogno, eucalipto e castanheira”, menciona, destacando que já cultivava ipê e axixá.
Ela utiliza técnicas de manejo do solo, recebendo orientação técnica para melhorar a adubação das plantas, assim, aproveita cascas de frutas e ovos, pó de café e caroços de açaí para criar substrato e nutrir a terra.
Quanto ao cenário dos SAFs na agricultura brasileira, Dalva é otimista. “Vejo um futuro muito bom. As pessoas hoje querem mais é cortar árvores e eu já penso em plantar e cuidar mais. O meio ambiente está sofrendo por falta de árvores”, reflete, compartilhando sua visão: “não vamos cortar, vamos plantar, arborizar e recuperar as nascentes. Quero reflorestar e espero que todos tenham essa consciência”.
Saiba o que é a Meta Florestal
O Fundo Vale é responsável pela implementação da Meta Florestal, compromisso da mantenedora de proteger e recuperar 500 mil hectares de área até 2030, alinhado aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU. Com o objetivo de atingir 100 mil hectares de recuperação por meio de negócios sustentáveis, o fundo tem apoiado empresas e startups que desenvolvem modelos mais sustentáveis, como os Sistemas Agroflorestais (SAFs).
O que são os SAFs?
Os SAFs consistem na combinação de árvores ou arbustos com culturas agrícolas e pastagens, criando um ecossistema que beneficia todas as espécies envolvidas. Essa abordagem respeita o ciclo natural e promove a sucessão ecológica, onde a interação entre plantas e o solo é a chave para uma produção alimentar sustentável.
(Theíza Cristhine e Ulisses Pompeu)