Correio de Carajás

Doado em 1982, em Serra Pelada, Jonas procura por família biológica

Atualmente, Jonas dedica parte de sua vida a encontrar sua mãe biológica, uma mulher conhecida como “Toinha”, que lhe doou dentro do garimpo

Foto do garimpo de Serra Pelada em 1982, ano em que Jonas Alves (no detalhe) nasceu. Hoje, ele pede ajuda para reencontrar seus familiares/Foto: Breno Santos

As histórias de pessoas doadas ilegalmente durante o auge do garimpo na Serra Pelada são uma parte sombria e trágica da história brasileira e repercutem até hoje com adultos e idosos em busca de suas famílias biológicas. Serra Pelada, que pertencia a Marabá naquela época, está localizada atualmente em Curionópolis, e foi um dos maiores garimpos a céu aberto do mundo na década de 1980. Milhares de homens, mulheres e até crianças migraram para a região em busca de fortuna rápida, levando a um ambiente caótico e descontrolado.

Jonas Alves Pereira Junior, de 42 anos, é uma dessas pessoas que vivem uma busca incessante e emocional por suas raízes biológicas. Em uma trajetória marcada por uma dolorosa separação, o paraense nasceu prematuro, com apenas sete meses, no coração do garimpo de Serra Pelada. Com apenas cinco dias de vida, foi doado a uma família do Maranhão.

Durante esse período, muitos garimpeiros viviam em condições extremas, sem infraestrutura básica e com pouca ou nenhuma supervisão governamental. A situação de desespero e precariedade deu origem a várias práticas ilegais e imorais, incluindo a “doação” ou venda de crianças.

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Atualmente, Jonas, uma dessas crianças, dedica sua vida a encontrar sua mãe biológica, uma mulher conhecida como “Toinha”. Nas memórias fragmentadas que lhe foram transmitidas, ele conta ao Correio de Carajás que a mãe trabalhava no restaurante “Café sem Troco”, estrategicamente localizado no 30 (apelido para a vila que depois se transformou na sede do município de Curionópolis), ponto de diversão para muitos garimpeiros de Serra Pelada.

Este local, que outrora pulsava com a energia e a ansiedade daqueles em busca de ouro, agora é um elo tênue na corrente de esperança de Jonas. Atualmente, ele mora em Águas Claras, no Goiás, mas tem buscado ajuda para tentar encontrar sua família biológica. A entrevista com ele ocorreu por mensagens de WhatsApp e Jonas nunca mais pisou os pés em Marabá e região, desde que foi levado daqui.

Seus pais adotivos, apesar do amor e cuidado que sempre lhe ofereceram, têm poucas informações sobre seu passado. Sabem apenas que Jonas possui um irmão um ano mais velho, um fragmento de informação que alimenta ainda mais sua determinação em reconstruir sua história. Cada detalhe, embora em pequena quantidade, é uma peça crucial no quebra-cabeça de sua identidade.

Os dados específicos sobre a doação ilegal de crianças durante o período do garimpo de Serra Pelada são escassos e muitas vezes fragmentados. A natureza caótica e informal do garimpo, a falta de registros oficiais e a marginalização social das vítimas contribuíram para a dificuldade em coletar e compilar informações precisas. Muitas das informações disponíveis vêm de relatos orais de pessoas como Jonas, que viveram na época ou foram diretamente afetadas.

A jornada de Jonas é um reflexo de tantas outras histórias não contadas de Serra Pelada, onde a febre do ouro não apenas escavou a terra, mas também as vidas e destinos de muitos. Agora, Jonas busca não só por Toinha e seu pai, mas por um sentido de pertencimento e compreensão de seu próprio passado, em uma peregrinação que une coragem e um desejo profundo de reconexão familiar.

(Thays Araujo)