Correio de Carajás

Manto raro é devolvido ao Brasil após pedido feito em 2002

Integrante do Grupo de Trabalho do Ministério dos Povos Indígenas para a recepção do manto alega que que o item não está sendo tratado com o cuidado cultural que lhe é devido.

Manto Tupinambá do século XVI, feito de penas de guará, chegou ao Brasil sob sigilo na primeira semana de julho — Foto: Reprodução Exposição Os Primeiros Brasileiros/Museu Nacional (UFRJ)

O Manto Tupinambá chegou ao Rio de Janeiro sob sigilo na primeira semana de julho. A peça, que possui mais de 300 anos, foi doada pelo governo dinamarquês para repor o acervo perdido com o incêndio que destruiu o Museu Nacional, em 2018.

Porém, a artista e antropóloga Glicéria Tupinambá afirma que o item não está sendo tratado com o cuidado cultural que lhe é devido. Ela diz que, mesmo sendo integrante do Grupo de Trabalho (GT) do Ministério dos Povos Indígenas para a recepção do manto, só foi avisada sobre a chegada do item depois que ele estava no museu.

“Nós do Grupo de Trabalho iríamos tratar de como seria a recepção, para acolhida ao manto quando chegasse. A gente não estava sabendo quando o manto chegou. Não só repatriamento institucional com embaixador e museu apenas é necessário, mas também da presença dos rituais e cerimônias religiosas. Diferente de tratar o manto como simplesmente um objeto”, explica.

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O manto é considerado um item ancestral dos povos originários do Brasil. Feito de penas vermelhas de Guará, uma ave típica do litoral da Bahia, o manto mede cerca de 1,80 metro e tem 80 centímetros de largura e é costurado em uma malha por meio de uma técnica ancestral do povo tupinambá. Existem apenas outros dez desse tipo no mundo, produzidos entre os séculos 16 e 17.

A comunidade Tupinambá da Serra do Padeiro, localizada na ainda não demarcada Terra Indígena Tupinambá Olivença, no estado da Bahia, solicitou a vinda do manto em 2002 e, em agosto do ano passado, a doação da peça foi anunciada em uma ação conjunta do embaixador brasileiro na Dinamarca, Rodrigo de Azeredo Santos, e do Museu Nacional.

“É um item vivo e nós, Tupinambás, achamos necessário que a sociedade saiba que conseguimos um ato importante, que é a volta”, afirma Glicéria.

O Museu Nacional confirmou a chegada do manto tupinambá na manhã desta quinta-feira (11). A instituição afirmou que trabalha em parceria com o Ministério dos Povos Indígenas e que a peça deve ser apresentada ao público nas próximas semanas.

O Museu Nacional afirmou ainda que respeita os saberes dos povos indígenas, com os quais trabalha em harmonia e contato direto.

(Fonte:G1)