Um homem foi filmado depredando um terreiro de candomblé no bairro da Várzea, na Zona Oeste do Recife. Imagens enviadas à TV Globo mostram o agressor, acompanhado da esposa, usando uma marreta para destruir jarros de plantas e quebrar um banco de concreto no local.
Ele ainda foi flagrado tentando retirar as instalações de um jardim para crianças. Uma das integrantes do centro religioso disse ainda que a esposa do agressor a xingou de “negra safada”. O caso é investigado pela Polícia Civil.
Assista:
O fato aconteceu no Terreiro Ilê Axé Oyá Igbalé Funan, na comunidade de Jardim Petrópolis. O agressor foi identificado como Thiago Campelo de Melo, de 43 anos. O nome da mulher não foi divulgado. Procurado, o casal não aceitou gravar entrevista.
Leia mais:A ialorixá Elaine Bezerra Torres contou que o agressor é vizinho do terreiro há seis meses e que as desavenças começaram na terça-feira (2) por causa de um espaço de convivência para crianças construído no centro religioso.
“Ontem [terça-feira, 2] disponibilizei um tempo para comprar os jarros, fazer os bancos, e hoje [quarta, 3] seria a inauguração com as crianças pintando as amarelinhas e o armário de livros. E esse vizinho (…) não gosta da ideia. Ele diz que naquela área vão sentar ‘marginais’ e que, quando chegar [em casa] à noite, vai ser assaltado”, afirmou a mãe de santo.
Um dos vídeos feitos por testemunhas mostra o homem tentando retirar os pneus que demarcavam o espaço de convivência durante uma discussão com integrantes do terreiro.
“A mulher dele, que é uma alemã, usa de racismo contra uma das filhas da casa (…). E ele, o tempo inteiro, diz: ‘Eu não quero isso aqui’. Então, a casa é tratada como ‘isso’, ‘esse lugar’. E a gente sabe que está enraizado o racismo e o racismo religioso”, relatou Elaine.
Na manhã desta quarta (3), data em que se celebrou o Dia Nacional de Combate à Discriminação Racial, o vizinho apareceu no local novamente, destruindo as instalações do jardim com a marreta.
Os vizinhos chamaram a polícia e o homem foi conduzido por dois policiais à Central de Plantões da Capital (Ceplanc), no bairro de Campo Grande, na Zona Norte do Recife, onde foi registrado um boletim de ocorrência.
A ialorixá Elaine Bezerra Torres disse que recebeu o vídeo enquanto participava de uma reunião na Secretaria de Direitos Humanos do Recife para fazer a denúncia de racismo.
“Minha casa é frequentada pelo povo preto, pelo povo de religião de matriz africana. Não somos marginais. Somos adoradores da natureza. É isso que nós somos. Somos pessoas de paz. Estou há 15 anos na comunidade. Há oito anos funciona o terreiro e há oito anos a gente luta pelos direitos da comunidade”, afirmou a ialorixá.
Além da depredação, o agressor foi denunciado pelo crime de injúria. A vendedora Janaína Raiane do Nascimento, que participa da organização das celebrações no terreiro, disse que tentou defender a ialorixá, quando foi xingada pela esposa do vizinho durante as discussões.
“Ela estava tentando apontar o dedo para ela [a mãe de santo]. E como é uma pessoa mais velha, eu, no meu lugar, me impus e disse: ‘Não! Fale baixo com ela, vamos conversar’. Ela começou a me xingar, me chamar de ‘negra safada’. Essa foi a resposta dela. (…) Também me alterei porque sou humana. E tenho que dizer que a gente não pode se calar diante disso”, declarou Janaína.
A ocorrência foi registrada na Central de Plantões da Capital, no bairro de Campo Grande, na Zona Norte da capital pernambucana. A advogada Patrícia Teodósio, que representa as vítimas, disse que o delegado se recusou a notificar a denúncia como injúria racial.
“Ele [o delegado] falou que esse boletim de ocorrência se tratava apenas do que aconteceu hoje de manhã. Aí ele incluiu injúria, por entender que, ao afirmar que o banco e o espaço que estavam sendo construídos no local iam atrair marginais, ele estaria injuriando. Mas, em relação à injúria cometida ontem pela esposa dele, à noite (…), ele não registrou”, contou a advogada.
Thiago Campelo de Melo também compareceu à delegacia. A TV Globo tentou entrevistá-lo, mas ele não aceitou gravar. Enquanto saía do local, ele fez imagens, com o telefone celular, das equipes de jornalismo que estavam do lado de fora e disse que não houve racismo e quer que “os materiais” sejam retirados da rua.
Procurada pela TV Globo, a Polícia Civil informou que está investigando o caso e que a tipificação do crime pode mudar ao longo das investigações.
(Fonte: G1)