Fazendo uma espécie de menção não honrosa à terceira noite de evento, o Festejo Junino de Marabá iniciou às 9 horas de segunda-feira, 24, e só encerrou na terça-feira, às 3 horas da madrugada. Por outro lado, com a sacada de deixar as apresentações dos grupos A para o final, o público continuou ansioso e em peso na arena como se não precisasse trabalhar. A torcida das juninas Balão de Chita e Fuá da Conceição não desafogaram a arquibancada para assistirem os grupos de elite a se apresentarem na 37ª edição do evento.
A primeira junina a se apresentar foi a Mirim Sereia da Noite e o destaque do grupo ficou com o casal de marcadores que, mesmo com uma diferença considerável de tamanho para o resto da maioria dos brincantes, esbanjou graça, animação e muita fofura para quem acompanhou a apresentação.
Sobre coordenar várias crianças para um festejo, Cássio Vilhena, marcador da Sereia Mirim, contou que a preparação teve apenas três dias intensos: “Foi de última hora”. E, apesar da pouca idade dos brincantes, ele garante que todos estiveram muito empenhados para entregar quase 30 minutos de atuação.
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Homenageando os 60 anos da Turma da Mônica, a junina Splendor Mirim fez da história do gibi de Maurício de Souza, narrativa para a apresentação dos “minis queridos” que trouxeram o conceito ligado à educação e de incentivo à leitura em tempos em que o TikTok e YouTube tomam o lugar da literatura. O grupo apostou certo na escolha do rei e da rainha, que deram um verdadeiro show na arena.
Mais um ano à frente do grupo, a marcadora Elenise Cristina Rocha, conta que os ensaios duraram mais de seis meses. “Nosso trabalho não é só fazer esse resgate cultural por meio da junina, mas também mostrar para as crianças a beleza de São João”, justifica.
CRÍTICA AMBIENTAL
Seguindo as apresentações, o boi-bumbá Estrela Dalva foi além da tradição e encenou a necessidade de preservar a fauna e a flora brasileira, também. “São 31 anos de tradição que temos em Marabá, sendo 15 deles campeões. É um momento único e só sabe quem vive”, argumentou o mestre Genival de Almeida.
Com 130 componentes, o amarelo e o rosa foram a aposta visagista do Boi que trouxe à arena animais em extinção, como a arara, representada por uma mulher em uma jaula, arrastada pela quadra.
PESCADORES
Campeão de 2023, a narrativa ribeirinha de Marabá foi usada pelo Boi Aroeira que, em cores azuis, trouxe até mesmo uma sereia personalizada. Um berrante também compôs a apresentação que focou nos pescadores e não deixou de oferecer um recorte do município banhado pelos rios Itacaiunas e Tocantins e, inevitavelmente, carrega consigo lendas folclóricas como Iara, Boiuna e Boto Cor-de-Rosa.
À frente do grupo, o mestre Naldo comentou sobre a expectativa de ser bicampeão: “Vamos defender nossa honra com muita garra no sábado”. A respeito do tema, ele cita a necessidade de homenagear a classe dos pescadores e que, apesar de não ser tão valorizada, integra o comércio marabaense e compõe a história da cidade.
MAS SERÁ O BENEDITO?
A Junina Luar do Sertão, da Vila São José e Brejo do Meio, decidiu manter a tradição nordestina na apresentação e escolheu homenagear São Benedito Caravelas e falar de figuras como Zumbi dos Palmares. Em sua introdução, a quadrilha lembrou sobre a escravidão que também foi encenada e duramente criticada.
O casal Mateus e Tainá abriu o coração ao dizer que a indumentária foi uma surpresa. “Nós não sabíamos como seria nossa roupa, para ser sincera, não sabia nem que eu seria destaque, mas acredito que demos o nosso melhor”, congratula-se a brincante.
SÃO JOÃO NÃO PODE PARAR
Mostrando uma realidade pela qual todo quadrilheiro passa, a junina Diamante Negro se apegou a uma apresentação teatral para pautar a valorização do São João e do esforço de brincantes. O grupo foi congruente nas vestimentas rosa e verde, listrado, e na história que casavam, conseguindo transmitir a essência do festejo com raiz nordestina e a importância da celebração para a história brasileira.
Referenciando a fogueira, a dupla de cangaceiros conseguiu chamar atenção não somente com o desempenho, mas com a indumentária vermelha e preta. “Estou muito satisfeito com o trabalho do grupo e com a nossa união para trazer à arena toda essa cultura”, disse o marcador Cleison.
XAXADO E MARACATU
A qualidade da performance da Balão de Chita foi a grande atração da noite. A junina foi a penúltima a se apresentar e o grupo deu um show nos quesitos sincronia, dinamismo e marcação. Sem pausa alguma, os brincantes não pararam nem mesmo durante as curtas falas da narração, que fugiram do maçante e conseguiu prender a atenção do público.
Com vestimentas coloridas e um gingado que animou a arquibancada para além dos fãs que seguravam balões com as cores do grupo, Balão de Chita trouxe a temática “Sertão é mar” e transformou a tradição em um espetáculo de muita diversão. Agregando elementos como a festa do milho e o maracatu, a sensação de quem assistiu ao vivo a junina foi a mesma de ter experimentado um menu cultural nordestino completo.
Os jovens do núcleo São Félix fizeram valer a pena a longa noite proporcionada pela demora irritante entre as apresentações. O casal de noivos, Natália e Jeferson, contou que o sentimento foi de felicidade e gratidão: “Acredito que conseguimos entregar bem esse trabalho de anos, mesmo com alguns percalços”, disse o noivo.
Sobre a temática, os brincantes disseram que a intenção foi pegar o mar do nome e inundar a quadra da Santa Rosa com a riqueza de detalhes. Dayvid, o marcador da junina, não deixou de falar sobre o grande trabalho e esforço dos 38 que compõem o grupo: “A gente quis trazer o sertão de uma forma diferente, estigmatizado pela pobreza e miséria, e dar riqueza por meio do xaxado e maracatu”, finalizou.
SHOW DE CONFETE
Campeã em 2023, a Fuá da Conceição se comprometeu em levar à arena uma sensação de proximidade com a tradição nordestina do São João por meio dos ritmos paraenses, mantendo uma temática parecida com a do ano passado. Ao abrir a apresentação com o clássico “Isso é Calypso”, da banda homônima, os telespectadores foram embalados pelas raízes musicais paraenses logo no início.
Comemorando uma década de existência, a junina usou indumentárias verdes e laranjas e, como de costume, manteve o nível da impecabilidade no casal de noivos com a brincante Kemily, ex-Explode Coração. O grupo pareceu optar por não arriscar, mas manter a tradição do show de confetes e apostar, mais uma vez, na pomposidade do marcador Anderson, que chamou atenção com sua vestimenta em pedraria verde.
Em consideração à quantidade de pessoas que esperaram o fim da apresentação às 3 horas, o marcador agradeceu ao público e aos fãs. “Só gratidão, sensação de dever cumprido. É uma classificatória e a gente acredita que tenha pontuado bem. Mas, mais do que isso, trazer alegria aos que nos assistem”, categorizou.
A celebração, segundo ele, foi destinada à Amazônia e ao povo paraense: “A gente fez festa aqui nesse arraial hoje”, finalizou Anderson. (Thays Araujo)