Correio de Carajás

Comércio de Marabá é oásis de esperança para imigrantes globais

Correio conta a história de uma peruana, um paraguaio e um senegalês, com histórias que se cruzam na busca por estabilidade financeira no comércio local

Liliana Acurio já está tão enraizada na cidade que sua filha mais nova é marabaense (Fotos: Evangelista Rocha)

Para além de um destino de fluxos migratórios internos, Marabá acolhe pessoas de diversas partes do mundo, culminando em um verdadeiro caldeirão cultural. Entre alguns imigrantes que fizeram do município do sudeste paraense seu novo lar, Liliana Acurio Flores, Pedro Pablo Gonçález e Alioune Mboy, vindos do Peru, Paraguai e Senegal, respectivamente, encontraram nesta terra bendita uma chance de reconstruir suas vidas por meio do comércio. Neste dia do imigrante, 25, conheça a história destes empreendedores.

Assim como muitas cidades ao redor do mundo que se tornaram lar para diásporas globais, Marabá tem se tornado um mosaico cultural único. Natural de Cusco, no Peru, Liliana chegou ao Brasil em 1997. Após morar por oito anos em Foz do Iguaçu, ela tomou a decisão de vir para Marabá, atraída pelas oportunidades comerciais. Hoje, aos 52 anos, é proprietária de uma loja de variedades na Folha 28, Nova Marabá.

“Escolhi a cidade pelas oportunidades no ramo do comércio. No início, foi muito difícil. Não passamos necessidade, mas trabalhamos duro para conquistar tudo que temos. A barreira da língua foi um grande desafio”, conta a peruana que ainda arranha no português, mas não demonstra dificuldade alguma em entender o português e as particularidades do sotaque marabaense.

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Para Liliana, a adaptação foi árdua, mas o apoio do marido e a união familiar foram fundamentais. “Vendíamos de porta em porta para ajudar nossos parentes no Peru. Cada dia era uma luta”, recorda.

 Ela observa com compaixão a situação dos imigrantes venezuelanos que chegam sem suporte e, por muitas vezes, passam a pedir dinheiro nos sinaleiros. “Para nós, também não foi fácil, mas tínhamos um propósito e nos unimos para superar as dificuldades”, justifica.

Segundo a peruana, a acolhida do povo de Marabá foi um alívio. Mesmo assim, Liliana sente falta do Peru, especialmente da família e da comida típica. “Na segunda-feira foi aniversário de Cusco. Lá a gente comemora a data com batatas cozidas na terra, um prato típico”, explica.

Apesar da saudade, Liliana não pretende voltar ao Peru. Com duas filhas, uma nascida no Paraná e outra no Pará, Marabá se tornou seu lar definitivo. É que, para ela, é difícil voltar quando as vidas já estão estabelecidas há muitos anos em um só lugar.

O PARAGUAIO QUE MIGROU INFLUENCIADO PELO IRMÃO

Pedro Pablo Gonçález, 40 anos, originário de Cidade Del Leste, no Paraguai, chegou em Marabá em 2007, seguindo os passos do irmão. Atualmente, ele é dono de uma loja de variedades na mesma rua onde Liliana possui seu comércio, na Folha 28.

O paraguaio Pedro Pablo foi atraído pela prosperidade do comércio (Foto: Evangelista Rocha)

“Meu irmão disse que aqui havia boas oportunidades. No início, não foi fácil, mas agradeço a Deus por tudo ter dado certo,” relembra o paraguaio. “A maior saudade é da família. A vida continua, mas sinto falta de estar com eles”.

Enquanto conversa com a reportagem, Pedro destaca a riqueza cultural de Marabá. “Cada país tem suas diferenças culturais. Aqui, encontrei uma comunidade diversificada e acolhedora. Gosto muito do peixe daqui. Lá também comemos peixe, mas o tempero é diferente”.

Sua narrativa reflete a de muitos imigrantes que chegam a Marabá com a esperança de um futuro melhor por meio do comércio de uma cidade pujante. Apesar das dificuldades iniciais, ele narra em um espanhol mais puxado que o de Liliane que conseguiu construir uma vida estável e se integrar à comunidade marabaense.

O SONHO BRASILEIRO DO SENEGALÊS

Vivendo em Marabá há três anos, Alioune Mboy trabalha como vendedor ambulante na calçada da Nagib Mutran, no núcleo Cidade Nova. Sua jornada migratória começou em 2012, quando deixou o Senegal e passou um ano na Argentina antes de chegar ao Brasil em 2014 para morar em Maceió, onde viveu por cinco anos.

Alioune Mboy veio de Senegal para o Brasil e está em Marabá há três anos (Foto: Evangelista Rocha)

“O Brasil sempre foi um sonho. Passei um ano na Argentina antes de vir para cá,” explica Alioune. “Marabá foi indicada por um amigo que me disse à época ser um bom lugar para ganhar a vida.”

O jovem é um espírito livre, pronto para se mudar assim que julgar necessário. “Se aqui não der certo, vou para outro lugar. Mas gosto de Marabá, especialmente do futebol e da praia. Não sou muito de sair e não me apeguei a comidas típicas, minha concentração é quase total no trabalho.”

Assim como Liliana e Pedro Pablo, a maior saudade do senegalês é da família e da comida de sua terra natal. “Sinto falta dos amigos e da comida tradicional. Às vezes, faço pratos típicos para matar a saudade”, conta, citando os bolinhos de feijão fritos chamados de Akara.

Quem conversa com Alioune percebe no jovem uma disposição incansável. “Trabalho de domingo a domingo. Se um dia não der certo aqui, vou para outro lugar, mas por enquanto, estou feliz em Marabá.”

A REALIDADE DA IMIGRAÇÃO EM MARABÁ

As histórias de Liliana, Pedro e Alioune são um microcosmo da realidade enfrentada por muitos imigrantes em Marabá. A cidade, com sua diversidade cultural, oferece tanto desafios quanto oportunidades para aqueles que chegam em busca de uma vida melhor.

A acolhida do povo marabaense é frequentemente mencionada como um fator positivo. No entanto, a falta de políticas públicas adequadas para apoiar os imigrantes ainda é um problema significativo. Muitos, como Liliana, Pedro e Alioune, contam apenas com sua própria resiliência e a solidariedade de suas comunidades para superar os obstáculos.

Liliana destaca a importância do apoio familiar e da união entre os imigrantes. “O povo aqui é muito acolhedor, mas é a nossa união que nos fortalece.”

Pedro, por sua vez, ressalta a importância de manter viva a cultura de origem enquanto se adapta ao novo lar. “Cada país tem suas diferenças culturais, e é importante celebrá-las.”

Alioune, muito aventureiro, representa a esperança e a determinação de muitos imigrantes aqui. “Brasil sempre foi um sonho, e estou disposto a continuar lutando por ele.” (Thays Araujo)