Marabá está sediando uma discussão vital para o futuro da Amazônia. Nesta quinta-feira, 13, e sexta-feira, 14, o ciclo de debates “A inserção jurídico-econômica da Amazônia no Brasil e no mundo” descentraliza um assunto tão importante e reúne no sudeste do Pará, especialistas, autoridades e empreendedores para abordar como conciliar desenvolvimento econômico com a preservação ambiental na maior floresta tropical do mundo. O palco do debate é o Centro de Convenções.
Organizado pela Associação dos Magistrados do Estado do Pará (AMEPA) e pela Associação do Ministério Público do Estado do Pará (AMPEP), o evento é mais que uma simples troca de ideias. Segundo Líbio Moura, presidente da AMEPA, o objetivo é preparar a região para a COP-30, discutindo como a Amazônia pode contribuir para pautas globais enquanto atende suas próprias necessidades.
“Este encontro visa apresentar as demandas locais e definir o papel do judiciário e do Ministério Público na resolução dos problemas socioambientais da região”, explica o magistrado.
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Para Hélio Rubens, coordenador do evento, a questão central é desenvolver a Amazônia de forma sustentável, trazendo dignidade aos seus habitantes. “Precisamos de modelos de desenvolvimento que não sejam impostos de fora. As soluções devem vir de quem vive aqui, que sente na pele as consequências das decisões”, afirma, criticando a abordagem neocolonialista, onde a Amazônia é vista apenas como uma prestadora de serviços ambientais sem receber compensações justas.
O discurso de Hélio Rubens ecoa a necessidade de um novo paradigma de desenvolvimento. “O modelo tradicional de desenvolvimento, predatório e insustentável, não pode continuar. Precisamos de um desenvolvimento que respeite a floresta e as pessoas que nela vivem. A Amazônia não pode ser apenas uma fornecedora de serviços ambientais para o resto do mundo sem receber algo em troca”, argumenta.
Hélio reforça a importância de que as decisões sobre o futuro da Amazônia sejam tomadas localmente. “Nós, que vivemos aqui, temos a capacidade e o preparo técnico para encontrar soluções adequadas para o nosso desenvolvimento. Precisamos de autonomia para decidir nosso destino, respeitando nossas peculiaridades e necessidades”, afirma.
MARABÁ EM FOCO
A escolha de Marabá como sede do evento não é por acaso. Alexandre Tourinho, presidente da AMPEP, destaca que a cidade é um polo de desenvolvimento no Pará. “Marabá é uma das grandes cidades do Estado, com forte presença do agronegócio e um crescente interesse em questões ambientais. Este evento é uma forma de combinar sustentabilidade com desenvolvimento econômico, mostrando que é possível preservar a floresta e melhorar as condições de vida das pessoas”, comenta.
O evento visa ser não apenas uma plataforma de discussão teórica, mas um palco para histórias inspiradoras de resistência e inovação. Os debates abordarão temas críticos como mudanças climáticas, economia circular, racismo ambiental, gestão de florestas e governança socioeconômica. Entre os palestrantes confirmados estão o ministro do Turismo, Celso Sabino, e a promotora de Justiça Alexssandra Mardegan, que trarão suas perspectivas sobre os desafios e oportunidades na região.
POR TRÁS DO DEBATE
Os debates em Marabá servem como um preparatório para a COP-30, a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, que será crucial para definir novas diretrizes de sustentabilidade global. Líbio Moura destaca que o evento visa preparar a Amazônia para contribuir significativamente com as pautas da conferência. “Queremos construir uma agenda que reflita as demandas e potencialidades da nossa região, mostrando como podemos integrar desenvolvimento econômico com a preservação ambiental”, enfatiza.
O ciclo de debates “A inserção jurídico-econômica da Amazônia no Brasil e no mundo” em Marabá é mais que um evento. Reunindo diversas vozes e perspectivas, o encontro busca criar um caminho que balanceie a preservação ambiental com o desenvolvimento econômico, promovendo um futuro mais justo e sustentável para a região.
As discussões e iniciativas apresentadas em Marabá são um passo crucial para a COP-30 e para a construção de um modelo de desenvolvimento que realmente beneficie a Amazônia Oriental e seus habitantes.
FAMÍLIA PINON
Entre os expositores convidados para o evento, Carmelia Amante Pinon, uma empreendedora apaixonada pela conservação da floresta, compartilha a visão por trás de seu negócio, batizado de AmaBee. “Nosso trabalho com abelhas é essencial para a sustentabilidade da Amazônia. Queremos mostrar que a preservação pode ser lucrativa e incentivar outros a seguir esse caminho”, diz, enquanto exibe produtos como mel, própolis e hidromel.
Segundo ela, sua visão vai além dos negócios, focando na multiplicação de práticas sustentáveis entre os moradores da região.
Ao falar sobre seu negócio, Carmélia reflete sobre a importância da preservação e do consumo consciente. “Cada produto que oferecemos, como o mel e a própolis, carrega a mensagem de que é possível cuidar da saúde e do meio ambiente simultaneamente. Queremos que as pessoas entendam que a preservação não é apenas uma responsabilidade, mas uma oportunidade econômica”, finaliza.
AMER: DERIVADOS DE CACAU
João Pedro Marinho, sócio proprietário da Amer Derivados do Cacau, apresenta uma perspectiva inovadora sobre a produção de chocolate. “Estamos inseridos na Floresta Nacional de Carajás e adotamos uma agricultura sintrópica, sem uso de agrotóxicos, respeitando o solo e a biota local. Nossa produção é totalmente orgânica e vegana”, detalha.
Ele explica que a Amer não apenas fabrica chocolate; ela cria uma cadeia de valor que beneficia a comunidade local e preserva o meio ambiente. (Thays Araujo)