O Lago Guaíba voltou a subir — passou, ontem, dos 5m — e se aproxima dos níveis históricos registrados na semana passada. Porto Alegre, uma das cidades mais castigadas pela inundação, teve uma segunda-feira gelada, com poucos voluntários na água transportando mantimentos ou tentando convencer moradores a deixar as casas alagadas.
Uma massa de ar polar derrubou as temperaturas em todo o Rio Grande do Sul. Em alguns municípios, os termômetros chegaram a registrar 0ºC. Na maior parte do estado, a temperatura mínima ficou em torno de 10ºC. Associada à queda das temperaturas, a umidade fez a sensação térmica parecer ainda mais baixa na capital gaúcha.
Apesar da trégua da chuva, a projeção da Defesa Civil e de especialistas é que o nível do Guaíba ultrapasse 5,5m. Segundo os modelos do órgão, essa elevação significará a maior cheia já registrada na história da capital gaúcha, superando os marcos da semana passada, quando o lago que banha a capital gaúcha chegou a 5,35m, superando em muito a cheia de 1941, que registrou 4,75m.
Leia mais:O número de mortes causadas pelas enchentes no Rio Grande do Sul subiu, ontem, para 147. Segundo balanço da Defesa Civil, 127 pessoas estão desaparecidas.
Voluntários
Na Usina do Gasômetro, que concentra a maior parte dos voluntários que chegaram de todo o país para ajudar no resgate de moradores e transporte de doações, o movimento, ontem, foi muito mais fraco do que o dos últimos dias. Poucos barcos navegaram nas turbulentas águas do Guaíba. Além das correntezas e do frio, pilotos relatam que está muito difícil convencer, principalmente, moradores das ilhas, que resistem em suas casas apesar dos apelos das autoridades e de socorristas. Nos últimos dias, o trabalho tem se concentrado no resgate de animais e na entrega de mantimentos a esses moradores.
Para um dos organizadores da estrutura de voluntários na orla do Guaíba, o empresário Marco Rocha, de 59 anos, a maior falha tem sido a falta de coordenação do grande volume de voluntários que chegou à capital levando suas próprias embarcações para ajudar nos resgates. “Imagina você se deslocar do seu estado e não ter ninguém para organizar o trabalho aqui. Isso deveria ser feito pelo poder público, o resto todo foi feito pela iniciativa privada”, queixou-se o empresário ao Correio.
O corretor de seguros Ricardo Carrard dos Santos, que mora na Ilha das Flores, conta que é paciente oncológico e, mesmo descumprindo ordens médicas, vai continuar participando como voluntário. “Com o tratamento para o câncer, eu não conseguia ficar acordado por mais de seis horas por dia. Agora, não estou conseguindo dormir nem quatro. Há uma adrenalina enorme em fazer o bem”, disse o corretor, que também aponta a deficiência na organização: “Não tem ninguém do governo para coordenar”.
Sem orientação, um grupo de bombeiros civis voluntários de São Paulo e de Brasília, que chegou a Porto Alegre com cerca de 30 pessoas, não conseguiu atuar nos resgates por falta de embarcações disponíveis. A reportagem do Correio questionou a prefeitura de Porto Alegre e o governo estadual sobre as críticas dos voluntários, mas, até o fechamento desta edição, não obteve resposta.
(Fonte: Correio Braziliense)