Correio de Carajás

105 anos: Marabá cansada de improvisos

Décadas atrás, os rios Tocantins e Itacaiunas inundavam grande parte do perímetro urbano de Marabá, tomando conta de avenidas, praças, ruas e bairros inteiros. Porém, com as mudanças climáticas ocorridas ao longo dos anos, as enchentes perderam força, deixaram de aparecer e a população ficou “desacostumada” às intempéries. Ninguém esperava por mais dilúvios, ou sequer alagamentos pontuais. A seca registrada em 2017, quando quase dava para atravessar a distância entre a Orla e a Praia do Tucunaré a pé, não parecia ser o prenúncio de que uma grande cheia estava por vir, pegando milhares de pessoas de surpresa.

No entanto, em 12 de fevereiro deste ano, em plena segunda-feira de Carnaval, a Defesa Civil do município teve que lidar com a grande demanda de famílias que abandonaram as próprias casas para fugir das águas. Em Marabá, não existe Centro de Gerenciamento de Emergências e muito menos se faz a manutenção dos abrigos fixos ou das áreas usadas para acomodar os desabrigados. Portanto, tudo é feito às pressas e no susto, para remediar uma situação que é característica da terra desbravada por Francisco Coelho.

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O arquiteto e urbanista Marcus Vinícius Abreu observa que toda essa situação esbarra na concepção do município que temos hoje, fruto de um crescimento desordenado e da cultura de ocupações. Ele lembra que as enchentes que ocorriam antigamente eram muito maiores, porém incomodavam menos, devido ao número de pessoas que residiam na cidade.

Além disso, destaca que não tem como controlar a força das águas, já que isso é um fenômeno natural e depende da quantidade de chuvas que incide sobre a cabeceira dos rios. “A não ser em Tucuruí, quando abrem as comportas”, afirma.

“Hoje nós temos vários bairros que estão em áreas baixas, mas o rio sempre existiu e sempre subiu. Nos últimos anos nós tivemos algumas modificações climáticas, e os rios passaram um bom tempo sem atingir determinadas cotas. Em decorrência disso, as pessoas foram vendo os locais [que não enchiam], os quais foram ocupados. O poder público não conseguiu parar esse tipo de ocupação e, em alguns casos, até estimulou ao proporcionar infraestrutura. O rio, então, resolveu tomar o que é dele de volta”.

Saneamento precário

Só que Marabá não teve que enfrentar apenas o alto nível dos rios neste início de ano, mas também a grande quantidade de chuvas, que evidenciaram as falhas do esgotamento de água no município. “Em relação à água das chuvas, que são periódicas, nós temos a questão da cota baixa, o problema da permeabilidade que o terreno foi perdendo com o asfaltamento e com a pavimentação em geral, e a situação das pessoas que não obedecem ao índice de absorção do terreno”.

Ele ressalta que as consequências desses erros são avenidas e ruas tomadas por águas da chuva, já que as tubulações existentes na cidade hoje não dão conta de escoar toda a demanda. “O entupimento que se verifica é pelo volume de terra carreado junto com a água, por lixo, por obra irregular e nós vamos tendo cada vez mais problemas. Se o rio sobe e nós estamos em época de chuva, nós vamos ter um determinado aumento de água. O nível dos rios vai subir e essa água vai encontrar com a demanda que está escorrendo das chuvas, e não vai ter vazão suficiente para escoar”.

(Nathália Viegas)

 

Décadas atrás, os rios Tocantins e Itacaiunas inundavam grande parte do perímetro urbano de Marabá, tomando conta de avenidas, praças, ruas e bairros inteiros. Porém, com as mudanças climáticas ocorridas ao longo dos anos, as enchentes perderam força, deixaram de aparecer e a população ficou “desacostumada” às intempéries. Ninguém esperava por mais dilúvios, ou sequer alagamentos pontuais. A seca registrada em 2017, quando quase dava para atravessar a distância entre a Orla e a Praia do Tucunaré a pé, não parecia ser o prenúncio de que uma grande cheia estava por vir, pegando milhares de pessoas de surpresa.

No entanto, em 12 de fevereiro deste ano, em plena segunda-feira de Carnaval, a Defesa Civil do município teve que lidar com a grande demanda de famílias que abandonaram as próprias casas para fugir das águas. Em Marabá, não existe Centro de Gerenciamento de Emergências e muito menos se faz a manutenção dos abrigos fixos ou das áreas usadas para acomodar os desabrigados. Portanto, tudo é feito às pressas e no susto, para remediar uma situação que é característica da terra desbravada por Francisco Coelho.

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O arquiteto e urbanista Marcus Vinícius Abreu observa que toda essa situação esbarra na concepção do município que temos hoje, fruto de um crescimento desordenado e da cultura de ocupações. Ele lembra que as enchentes que ocorriam antigamente eram muito maiores, porém incomodavam menos, devido ao número de pessoas que residiam na cidade.

Além disso, destaca que não tem como controlar a força das águas, já que isso é um fenômeno natural e depende da quantidade de chuvas que incide sobre a cabeceira dos rios. “A não ser em Tucuruí, quando abrem as comportas”, afirma.

“Hoje nós temos vários bairros que estão em áreas baixas, mas o rio sempre existiu e sempre subiu. Nos últimos anos nós tivemos algumas modificações climáticas, e os rios passaram um bom tempo sem atingir determinadas cotas. Em decorrência disso, as pessoas foram vendo os locais [que não enchiam], os quais foram ocupados. O poder público não conseguiu parar esse tipo de ocupação e, em alguns casos, até estimulou ao proporcionar infraestrutura. O rio, então, resolveu tomar o que é dele de volta”.

Saneamento precário

Só que Marabá não teve que enfrentar apenas o alto nível dos rios neste início de ano, mas também a grande quantidade de chuvas, que evidenciaram as falhas do esgotamento de água no município. “Em relação à água das chuvas, que são periódicas, nós temos a questão da cota baixa, o problema da permeabilidade que o terreno foi perdendo com o asfaltamento e com a pavimentação em geral, e a situação das pessoas que não obedecem ao índice de absorção do terreno”.

Ele ressalta que as consequências desses erros são avenidas e ruas tomadas por águas da chuva, já que as tubulações existentes na cidade hoje não dão conta de escoar toda a demanda. “O entupimento que se verifica é pelo volume de terra carreado junto com a água, por lixo, por obra irregular e nós vamos tendo cada vez mais problemas. Se o rio sobe e nós estamos em época de chuva, nós vamos ter um determinado aumento de água. O nível dos rios vai subir e essa água vai encontrar com a demanda que está escorrendo das chuvas, e não vai ter vazão suficiente para escoar”.

(Nathália Viegas)