Uma obra sem começo, valor e prazo para terminar. Assim é a reforma do Hospital Municipal de Curionópolis, no sudeste do Pará, que segundo denúncias de pessoas que trabalham na revitalização do prédio, está mais para retoque mau feito, com reutilização de materiais, contabilizados como novos. Como se não bastasse, operários denunciam que já estão trabalhando há dois meses sem receber salários. Na tarde da última sexta-feira, 19, uma equipe de Reportagem do Correio, acompanhando o vereador Magno Araújo Santos (MDB), esteve no local para tentar ouvir o responsável pela obra e também os funcionários sobre as denúncias feitas.
Tão logo o vereador entrou no canteiro já foi interpelado por um homem, que se disse o mestre da obra. Ele tentou impedir o acesso do vereador de todas as formas, assim como da imprensa, esbravejando impropérios. O vereador argumentou que, como representante do povo e fiscalizador do erário, tinha o direito de verificar se as denúncias feitas tinham procedência, uma vez que se trata de uma obra pública, portanto, sendo feita com dinheiro do contribuinte.
Após muito argumentar, Magno seguiu em frente, sobre os protestos do mestre de obras e de mais dois assessores do prefeito Adonei Aguiar (DEM), um deles, identificado como Wiliam Pedroso Santos, que estava lá com adesivos do candidato ao governo do Estado, Márcio Miranda, estampado no peito.
Leia mais:Nossa equipe, amparada no que garante a liberdade de Imprensa, também acompanhou o vereador. No local, os funcionários, que trabalhavam sem Equipamento de Proteção Individual (EPI), visivelmente coagidos, negaram que estivessem com o salário atrasado.
Um senhor chegou a ameaçar nossa equipe de reportagem, dizendo que se entrássemos nas dependências da obra “iríamos ver o que ia nos acontecer”. Ao ser questionado sobre tal ameaça, ele se calou.
A equipe já havia sido advertida que essa mesma pessoa anda armada, agindo como se fosse um agente da lei e tivesse autorização para portar o armamento. Ninguém no local soube informar quando a obra será concluída.
Na placa colocada em frente ao prédio em reforma pela empresa Construtora Aurora, consta um prazo de 90 dias, só que sem a data de início ou prazo de conclusão, fora o valor total da empreitada, que também não está afixado na placa.
Além de funcionários trabalhando sem EPI, outras irregularidades foram verificadas, como a caixa d’água, que está visivelmente fora do prumo. De acordo com o vereador Magno Araújo, já foram solicitadas informações do executivo sobre o valor em que a obra foi orçada e também sobre as denúncias feitas pelos trabalhadores e como seria a reutilização do material empregado na reforma, mas até agora nenhuma resposta foi dada.
“Por isso decidi vir pessoalmente verificar a obra. Isso aqui é dinheiro público e a população precisa saber como o dinheiro dela está sendo aplicado”, declarou o vereador.
Polícia age com truculência e tenta impedir trabalho da Imprensa
A tentativa do governo de impedir que a Imprensa mostre o que vem acontecendo na gestão municipal não se limitaram a tentar barrar o acesso à obra do hospital. Quando a equipe do Grupo Correio chegou ao local, onde também funciona o hospital municipal, sobre o qual pesam denúncias de não estaria em condições de funcionar como casa de saúde, assessores do prefeito Adonei Aguiar tentaram impedir que imagens fossem feitas no local.
Na área da sala de espera, os banheiros estão em péssimo estado. Também em frente ao hospital, uma ambulância tem partes do para-choque dianteiro quebrado.
Um dos assessores, identificado como Tarciso Sousa, chegou apontar o dedo no rosto e empurrar o apresentador Alex Tavares, que estava acompanhando a equipe. Houve discussão e esse assessor chamou a Polícia Militar.
Ao chegar no local, o comandante da guarnição, que se identificou em alto e bom som como sargento Viana, mandou que parasse as filmagens. A equipe da TV Correio de Parauapebas estava do lado de fora do hospital, juntos com outros membros do grupo. “Eu, sargento Viana, estou mandando parar as filmagens”, gritou o policial.
O repórter cinematográfico Diego Souza seguiu fazendo as imagens e ele, aos gritos, mandou seus subornados tomarem a câmara. Nessa hora, o repórter Adriano Baracho tentou registrar a ação com o seu celular e o sargento, mais uma vez, e de forma áspera, mandou que tomassem o celular dele e deletassem as imagens, desrespeitando totalmente os princípios de liberdade de imprensa, consagrados na Constituição Federal.
Após o sargento conversar com os assessores de Adonei, o celular foi devolvido, mas teve as imagens apagadas. A ação, no entanto, ficou gravada em áudio e também registrada em fotos.
O caso foi denunciado ao Sindicato dos Jornalistas do Estado do Pará (Sinjor), que já emitiu nota repudiando a ação dos policiais, bem como a Federação Nacional de Jornalistas (Fenaj) e Federação Internacional de Jornalista (FIJ). O repórter Adriano Baracho e o repórter cinematográfico Diego Souza também irão formalizar denúncia junto a Corregedoria de Polícia contra a ação dos policiais de Curionópolis.
O comandante do 23º Batalhão da Polícia Militar de Parauapebas, major José Wilson, ao qual o destacamento de Curionópolis é subordinado, disse que não ia se manifestar sobre o caso. (Tina Santos)
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Sindicato repudia ação da PM contra equipe da TV Correio
“O Sindicato dos Jornalistas do Estado do Pará vem a público denunciar, e repudiar, de maneira veemente, a ação de policiais militares, que no dia 19/10 numa ação totalmente arbitrária, abusiva, impediram o trabalho de uma equipe de reportagem da TV Correio, de Marabá, que fazia reportagem sobre um hospital em obras no município de Curionópolis, no sudeste paraense.
A equipe, formada pelo repórter Adriano Baracho, e o repórter cinematográfico Diego Souza, já havia feito parte do trabalho, e no momento em que gravava imagens da parte interna do prédio, foram surpreendidos pela chegada de três policiais militares, sendo um deles o sargento Viana, que aos gritos mandou que a gravação fosse interrompida, ao mesmo tempo em que partia em direção ao cinegrafista, que intimidado, baixou a câmera.
O repórter Adriano Baracho tentou registrar o ato arbitrário com o celular, mas não pode fazer isso, porque o sargento Viana ordenou aos seus comandados que tomassem o aparelho do repórter, que foi arrancado à força de suas mãos pelos soldados.
O celular ficou em poder dos militares durante o tempo em que conversavam com um funcionário da prefeitura, e que teria acionado a policia. O aparelho só foi devolvido depois que o repórter foi pressionado para apagar as imagens da ação dos policiais, que em seguida liberaram toda a equipe.
O Sinjor, ao mesmo tempo em que repudia a ação agressiva, abusiva, e cerceadora do direito ao exercício do jornalismo, praticado pelos policiais militares, se solidariza com o repórter Adriano Baracho e com o repórter cinematográfico Diego Souza, se colocando ainda à disposição para o acompanhamento da queixa que o repórter fará à Corregedoria de Polícia, da qual esperamos enérgicas providências no sentido de apurar e responsabilizar os autores dessa ação totalmente contrária ao Estado democrático e à liberdade de expressão”. (Sindicato dos Jornalistas do Estado do Pará – Sinjor PA)