Tudo isso para deixar a conta de luz mais barata para o consumidor. A longo prazo, o país consome menos. Mas os preços dos produtos não deve subir, segundo os fabricantes.
Leia mais:Isso porque grande parte dos modelos importados já está pronta para as regras dos próximos anos, e as marcas nacionais estão adaptando as fábricas para produzir geladeiras mais eficientes.
A mudança dessas regras foi discutida pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) em parceria com as fabricantes de geladeiras e freezers, representados pela Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros).
É o Inmetro que certifica as geladeiras e tantos outros produtos com selos de capacidade de eficiência energética. Segundo Marcelo Monteiro, diretor do Inmetro, “classificar em faixas de consumo ajuda ao consumidor saber o está comprando”.
Hoje a tabela de selos parece um pouco confusa para o consumidor: os níveis começam em A+++, A++, A+ e A para as mais eficientes, seguidas por B, C, D e E, o menos eficiente.
Em alguns anos, os equipamentos terão apenas classificação A, B e C.
“Essa mudança ocorre porque o Brasil estava defasado nas práticas internacionais”, explica Monteiro.
A meta é que, em 2030, as geladeiras vendidas no país estejam em níveis similares de eficiência energética aos encontrados na União Europeia, que fez a mudança de classificação no começo da década.
Vai ficar mais caro?
No fim de 2023, uma resolução do Ministério de Minas e Energia mudou as regras desse processo para os fabricantes, restringindo a manufatura e venda de geladeiras pouco eficientes até 2025.
A nova regra diz que as geladeiras consideradas com baixa eficiência energética – selos C, D e E – poderão ser fabricadas até dezembro deste ano.
Os produtos que sobrarem em estoque podem ser vendidos nas lojas até o final de 2025.
Com isso, também surgiu um temor de que os preços iam aumentar.
De acordo com as marcas e com o próprio Inmetro, essas geladeiras que gastam mais – quase sempre aqueles refrigeradores de uma porta só, com congelador integrado – não vão sumir das lojas.
Os preços devem se manter na mesma faixa de hoje, dizem os fabricantes de geladeiras.
Os modelos com etiqueta A+++ mais em conta dos principais fabricantes têm preços que variam de R$ 2.900 (com duas portas) a R$ 6.800 (com três portas) nas lojas on-line consultadas no começo de fevereiro – veja a lista ao final da reportagem.
Para comparação, uma geladeira duplex com selo A (o menos eficiente entre os mais eficientes) custa na faixa dos R$ 3.000.
“Já estamos adequados às regras de maior eficiência (A+++) e nossos preços não vão aumentar por conta da mudança”, comenta Helbert da Silva, diretor de linha branca da Samsung.
“Com as novas regras, o consumidor vai ter produtos melhores para comprar”, resume Rodrygo Silveira, gerente de produto da LG.
“Qualquer aumento de eficência ou adaptação a novas regras traz um custo adicional ao produto, mas estamos trabalhando para não onerar o consumidor e achar outras soluções, para que uma coisa compense a outra”, explica Gabriel Reis, gerente de produto da Whirpool.
“O consumidor tem desejo de comprar o produto mais eficiente, mas compra o que cabe no bolso. As mudanças devem ocorrer sem se desvincular com a capacidade de poder aquisitivo”, avalia Jorge Nascimento, presidente executivo da Eletros.
O que vai acontecer em 2024 e 2025
A mudança na classificação do selo do Inmetro já estava planejada com os fabricantes para 2026 e 2030.
Porém, em dezembro de 2023, o Ministério de Minas e Energia publicou uma resolução, chamada de “Programa de Metas para Refrigeradores e Congeladores”, que apertou um pouco as regras para essas empresas.
Diz o ministério, em nota: “Os prazos definidos visam permitir que os fabricantes, importadores e comercializadores se adequem aos novos índices, e escoem os produtos já fabricados com os atuais índices”.
Nascimento, da Eletros, disse que a entidade conversa com o Ministério de Minas e Energia para renegociar esse prazo e seguir com o cronograma original – que inclui as mudanças no selo, mas não essa restrição de vendas.
O que vai acontecer em 2026
A classificação por selos de eficiência energética irá mudar em uma primeira consolidação de categorias.
- Os produtos que eram A+++ e A++ se tornam A.
- Os que eram os A+ e A, viram B.
- Os B restantes se tornam C.
- Categorias menos eficientes – D e E – deixam de existir.
O que vai acontecer em 2030
Uma nova reclassificação dos selos de eficiência energética, com os níveis passando a ficar mais próximos da faixa de selos dos produtos vendidos na União Europeia:
- Etiquetas A e B serão as mais eficientes.
- Etiquetas C, as menos eficientes – é algo equivalente ao A++ ou A+ de 2024.
Com as mudanças, vai ter menos opção de escolha nas lojas?
Segundo o Inmetro, o Brasil tem hoje 35 empresas que fabricam e vendem em torno de 500 modelos de geladeiras e freezers – o total inclui a variação de voltagem. Por conta disso, uma geladeira com versões em 127V e 220V conta como “dois” modelos na lista.
Desse total, apenas 8 aparelhos deixarão de ser vendidos a partir de 2026 com a nova classificação, de acordo com o instituto de verificação.
As fábricas precisam de adaptação para produzir geladeiras mais eficientes. O processo inclui modificar a linha de produção e ajustar o fornecimento de peças na cadeia de suprimentos.
E o consumidor vai ganhar a esperada economia na conta de energia no final do mês.
Grande parte das marcas já vende modelos com o maior nível de eficiência energética (A+++). E seus produtos “menos” eficientes ficam entre A e B.
Algumas delas fabricam no Brasil ou importam seus produtos já nos níveis máximos de eficiência energética, como Midea, LG, Panasonic e Samsung. Procurada, a Electrolux não comentou o tema.
“Desde 2017, as geladeiras da marca estão em conformidade com as regras de eficiência energética que serão aplicadas a partir de 2026”, comenta a Panasonic, em nota.
Outras, como Brastemp, Consul e Esmaltec, por exemplo, têm fábricas já adaptadas ou em processo de ajuste para as novas categorias de etiquetagem das geladeiras.
“O processo demanda investimentos em pesquisa e desenvolvimento, bem como na atualização do nosso parque fabril, para garantir que nossos produtos permaneçam competitivos e acessíveis ao nosso público-alvo”, diz Marcelo Campos, diretor geral da Esmaltec.
Reis, da Whirpool, complementa ao afirmar que “até as nossas geladeiras de entrada são classificação A. O planejamento para as mudanças estava feito faz tempo”.
O que é eficiência energética?
A eficiência energética significa que um produto consome menos energia para realizar a mesma função que outro produto similar.
A longo prazo, ter um produto com melhor classificação de eficiência energética – que até pode custar mais caro – representa uma economia na conta de luz no final do mês.
O cálculo da eficiência energética envolve, entre outras coisas, a capacidade do refrigerador e o tamanho do freezer. Quanto mais alto for o resultado dessa conta, melhor o nível de eficiência energética e menor o consumo do equipamento.
Hoje, a “conta” para atingir um selo A fica em torno de 85,5% de eficiência energética. Em 2030, esse número vai saltar para perto de 90%.
Quanto maior for o número de classificação da geladeira, melhor é o seu nível de eficiência energética.
Baseado nesse valor, a geladeira ganha um selo, que hoje vai da classificação A+++ (mais eficiente) a E (menos eficiente).
“É uma métrica visual, pautada em ciência e engenharia”, explica Douglas Reis, diretor de ESG e assuntos regulatórios da Whirpool, dona da Brastemp e Consul.
Só que essa classificação por selos, feita pelo Inmetro, era a mesma desde 2006 e precisava ser corrigida.
Em 2021, a classificação mudou e passou a contemplar novas faixas no topo da lista, incluindo A+++, A++ e A+, além de A, B, C, D e E.
Desde então, as fabricantes modificaram seus produtos para se tornarem mais eficientes.
“Era como se fosse uma prova de escola. Antes, a nota de corte era 3 e todo mundo passava de ano. Com o ajuste a partir de 2026, a nota de corte passa para 8”, compara Silveira, da LG.
(Fonte:G1)