Uma espera que já remontava há duas décadas está, finalmente, superada. Os 181 quilômetros de Marabá a Novo Repartimento, na BR-230, a Transamazônica, estão completamente asfaltados, segundo confirma o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). Na época em que a mobilização foi iniciada para a pavimentação, com lotes divididos entre empreiteiras, um trecho de 40 quilômetros, já próximo a Novo Repartimento, em frente à terra indígena Parakanã, foi abandonado.
Foi justamente um impasse com a comunidade indígena, na época, que levou o Governo Federal a seguir com os demais trechos, enquanto aquele pedaço de chão ia ficando para trás. Mudanças de gestão, fim de contrato e de recursos foram ajudando a travar historicamente esse resgate. Mesmo o trecho de Itupiranga a Marabá teve seus problemas com mudança de empreiteira e só ficou efetivamente pronto na década passada.
Leia mais:A viagem de Marabá e Novo Repartimento, que levaria 2 horas de carro, segundo os mapas, vinha demandando de 3 a 4 horas, dependendo da época do ano, sob cortina de poeira no verão, ou lamaçal, no inverno. Os trechos de ladeira demandavam auxílio de tratores em alguns momentos para desatolar ônibus, carretas e vans.
ENTENDA
O Governo Federal retomou as tratativas com os Parakanãs há oito anos para garantir que o trecho de 44 quilômetros fosse finalmente asfaltado, em frente à terra indígena. Um acordo foi firmado com o Dnit, com condicionantes para contemplar direitos pleiteados pelos indígenas.
Entre idas e vindas a obras foi retomada em 2019 e, em junho de 2020, o Correio de Carajás noticiava a conclusão de 32 quilômetros, ficando pendentes outros 12 quilômetros já perto da cidade de Novo Repartimento, tendo como marco o Rio Pucuruí. É o trecho finalizado agora em 2023.
A empreiteira responsável pelo maior avanço foi a Tamasa, a serviço do Dnit. O investimento demandou R$ 219 milhões, contemplando 101,9 quilômetros da rodovia federal (contando trechos mais a oeste do Pará). O Batalhão de Engenharia e Construção do Exército (BEC) também se envolveu na ação.
O material utilizado foi o CBUQ, sigla para Concreto Betuminoso Usinado a Quente, com acostamentos, micro revestimento, tachão reflexivo e sinalização horizontal, esta última, aliás, segue em conclusão.
As pontes, que antigamente eram de madeira, precárias e dando passagem apenas a um veículo por vez, em pista única, agora são de concreto e largas.
REPERCUSSÃO
Equipe do Jornal esteve na BR-230, no trecho asfaltado e conversou com alguns usuários da rodovia. O motorista Nilson Pardinho, que estava ao volante de um caminhão gaiola, disse que a realidade mudou completamente na estrada. “Fiz muito essa viagem na época do chão. Sempre foi muito perigoso. Da forma que está agora é um sonho”.
Questionado sobre o maior tempo que levou para percorrer de Novo Repartimento a Itupiranga, quando não havia o asfalto, ele foi enfático: “Um dia todo. Quando quebrava um carro, ou tinha atoleiro, em tempo chuvoso, ninguém conseguia seguir viagem”. Ele destaca que de veículo de passeio é possível transitar entre as duas cidades em apenas uma hora.
Genésio Matos, que viajava de caminhonete, também parou para falar com a reportagem. Na visão dele o não asfaltamento do trecho era um sinal de atraso para o país e para o Estado do Pará. “Isso era uma vergonha. A estrada asfaltada antes de depois e só esse trecho aqui dos índios que estava no chão. Motoristas de carretas sofriam aqui, mercadoria estragava e os viajantes sabiam que seria sofrido. Pode olhar que as vans viajavam sem o para-choque dianteiro, por que caía na guerra da estrada”.
Além da obra de asfaltamento finalizada, o Correio levantou que a Construtora Capitólio está sob contrato com a Superintendência Regional do Dnit no Pará desde 1º de setembro de 2023 para trabalho de conservação e recuperação da BR-230 de Itupiranga a Novo Repartimento. Tal contrato prevê orçamento de R$ 56,6 milhões e vale até 31 de agosto de 2026.
BR-422
Outra rodovia federal da região que estará sendo entregue asfaltada em breve, uma demanda de 40 anos, é a BR-422, de Novo Repartimento a Tucuruí. O Governo Federal deu início às obras no governo Jair Bolsonaro.
O projeto inclui a pavimentação de 60 km da rodovia, com etapas de drenagem, terraplanagem, sub-base, base e imprimação. Para suprir a demanda de asfalto, uma usina foi instalada em Novo Repartimento, permitindo a produção da massa asfáltica necessária para a obra.
A atual situação da obra, segundo apurou o Correio de Carajás, é que dos 70 quilômetros entre as duas cidades, 40 km já receberam camada asfáltica no sentido Repartimento a Tucuruí. Faltam outros 30 km serem finalizados. A viagem entre as duas cidades têm demandado uma hora ao volante.
A concretização desse projeto representa um avanço significativo para a região, proporcionando melhores condições de tráfego, conectividade e desenvolvimento econômico. A expectativa é que o asfaltamento da BR 422 traga benefícios notáveis para os moradores locais, melhorando o acesso a serviços, facilitando o escoamento de produtos e fomentando o crescimento da região como um todo.
(Patrick Roberto)