Correio de Carajás

PIX se consolida e dinheiro vivo some das ruas de Marabá

Consumidor vai privilegiando pagamento online e deixando de sair de casa com dinheiro vivo no bolso. Troco é uma dificuldade dos estabelecimentos.

O pagamento instantâneo via Pix vem mudando a realidade do comércio marabaense/ Fotos: Evangelista Rocha

O “dinheiro trocado” está sumindo dos estabelecimentos em Marabá, a exemplo do que ocorre no resto do país e o principal motivo é o advento do PIX. Mesmo as pessoas mais simples já estão recebendo ou pagando serviços e produtos com a ferramenta e abandonando o dinheiro vivo. Até os frentistas de postos de combustível, que sempre foram os mais abastecidos de cédulas de real, têm dificuldade em passar troco, pois não vêm recebendo mais pelo abastecimento nesse formato.

De acordo com dados divulgados na página virtual do Banco Central, entre o início das operações até 31 de outubro de 2023, foram realizadas 66,5 bilhões de transações via PIX, e movimentou um volume de R$ 29,7 trilhões no país. O CORREIO foi às ruas de Marabá conversar com comerciantes e consumidores sobre as práticas na hora do consumo.

Mesmo no posto de combustível, o dinheiro sumiu e a maquininha trabalha

O advento da internet e o avanço das tecnologias tornou possível facilidades nunca antes imaginadas. É o caso do PIX, ferramenta que vai mudando as relações de consumo. A palavra, que não é uma sigla, no dicionário financeiro significa pagamento instantâneo. Lançado em 2020, o recurso digital se tornou uma verdadeira epidemia em Marabá e em todo o país.

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Em Marabá o comércio popular é um dos grandes beneficiários da forma de pagamento. Agora, com a tecnologia que permite que o acesso à conta bancária esteja a um clique de distância, o argumento usado por alguns clientes, de que não possuem dinheiro na carteira perdeu força. É comum ouvir comerciantes responderem “nós aceitamos PIX”.

É o caso de Jeocione Lima da Silva, que tem sua estrutura de vendas montada na feira coberta da Avenida Getúlio Vargas, Marabá Pioneira. Ele especifica que passou a aceitar pagamentos via PIX há cerca de dois anos e que esse recurso digital facilitou suas vendas. “Dinheiro (em espécie) quase ninguém tem”, declara.

Em uma estimativa, Jeocione aponta que na maioria de suas vendas, em torno de 55%, o pagamento é feito via PIX. Os outros 45% se dividem entre dinheiro, em papel, e cartão de crédito ou débito.

Esse uso em larga escala da moeda digital, resultou no “sumiço” da moeda real, acontecimento que muitas vezes impacta naqueles momentos em que é preciso dar troco para o cliente.

O feirante Jeocione conta que 55% de suas vendas são pagas via PIX

“O dinheiro mesmo está ficando escasso e a gente está tendo dificuldade para trocar”, conta o autônomo. Questionado pela reportagem se já houve momentos em que o troco foi dado através do PIX, ele afirma que já aconteceu, mas poucas vezes.

“Geralmente quem paga em dinheiro quer a diferença em espécie, porque às vezes ele não usa muito o PIX, ou não tem. É mais com pessoas idosas, que não aderiram ao PIX”.

A reportagem do CORREIO, que conversou com alguns comerciantes de Marabá, perguntou para todos sobre o que acontece quando o cliente diz que não tem internet para realizar a transação. Todos responderam que compartilham da própria internet para que o consumidor faça o pagamento.

Com isso, o wi-fi, seja ela disponibilizado por um roteador ou por um celular, se tornou mais uma ferramenta de trabalho.

MOEDA FÍSICA X DIGITAL

Francisca da Silva dos Santos, há 25 anos trabalha vendendo salada de frutas em uma das esquinas da Avenida Antônio Maia, na Marabá Pioneira. A “saladeira”, como ela se refere a si mesma, conta que faz pouco tempo que aderiu ao Pix como forma de recebimento, há cerca de cinco meses.

Francisca explica que recebe boa parte de suas vendas através do PIX

Francisca reitera a fala de Jeocione Lima da Silva ao comentar que o dinheiro em papel está sumindo das ruas, segundo ela, ninguém mais o tem.

Além disso, o fato dela não receber pagamento via cartão de crédito ou débito, faz com que a maioria de seus clientes utilizem o recurso digital para fazer pagamento. Com isso, é possível perceber que de outra forma, e dada a ausência de “moeda viva” na praça, seus ganhos poderiam ter uma redução expressiva se não fosse a existência do PIX.

Já para Josué Martins Sobrinho, 20 anos, frentista de um posto da Nova Marabá, a situação fica equilibrada. Os motoristas que vão até lá para abastecer seus veículos variam a forma de pagamento entre PIX e cartão – seja de crédito ou de débito. “Dia sim ou dia não que vê alguém usando dinheiro em espécie”, comenta.

Os prós e contras do uso do pagamento também foram avaliados pelos comerciantes. De modo geral, todos acreditam que existem coisas boas e ruins no aumento do uso do pagamento digital e na redução do pagamento em espécie.

Entre os fatores negativos, se destaca o fato de a moeda física garantir uma segurança a mais para o consumidor, que não depende da internet para realizar suas compras e pagar suas contas. E entre os positivos, a praticidade é o que fala mais alto.

LOJISTA OPINA

Antônia Pereira de Brito Freitas, mais conhecida como “Toinha”, empresária à frente da Facce Nova, boutique localizada na Avenida Antônio Maia, conta que aderiu ao PIX durante a pandemia. De lá para cá, o recurso digital tem gerado resultados positivos para o seu negócio.

“Ele facilitou muito para a loja, porque na pandemia o cliente ficou muito acomodado em casa, sem poder sair. Hoje a maioria deles prefere pagar no PIX”.

Ela explica que sua loja oferece um atendimento personalizado aos clientes, onde a mercadoria é entregue na residência e, após escolherem suas peças, os consumidores nem precisam ir até a loja para fazer o pagamento, pois realizam a transferência direto de casa.

“Hoje o dinheiro (papel) está ausente. Quando chega alguém que paga dessa forma, a gente fica até lisonjeado”.

A empresária reflete ainda, ao ser questionada pela reportagem, sobre os resultados de suas vendas no período de Natal e Ano Novo, época que costuma aquecer o comércio. Satisfeita, Toinha divide que suas expectativas foram superadas e também compartilha o otimismo de que o ano que acabou de começar será ainda melhor para os seus negócios. “2024 é o nosso ano, em nome de Jesus”, finaliza.

NATAL

Com um ponto de vista um tanto diferente sobre o período de Natal, Raimundo Alves da Costa Neto, comerciante e atual presidente do Sindicato do Comércio de Marabá (Sindicom), comenta que ainda que as vendas tenham sido boas para alguns, para outros foi o contrário.

“Tem uns que despontam bem, outros que não despontam. Esse ano nós ficamos surpresos porque esperávamos um aumento de 10 a 15%, mas dada a toda a economia global, brasileira e do município, a instabilidade e desconfiança do mercado, fez com que o consumidor ficasse mais cauteloso”, avalia.

Comerciante experiente, Toinha celebra o PIX e também suas vendas de final de ano

Ao comparar com os números do ano anterior, 2022, ele explica que o movimento foi mais acanhado. Apesar disso, o ramo de confecções e calçados faturaram bem, mas eletrodomésticos e eletrônicos nem tanto.

Para 2024, Raimundo acredita que o mercado permanecerá mais ressabiado até o meio do ano, pois será um momento de observar as movimentações da economia e como ela irá se comportar para então avançar.

Sobre o aumento no uso do PIX, o comerciante afirma que foi um dos melhores recursos já criados nos últimos anos, não só para comerciantes, mas para toda a sociedade.

“É uma forma de pagamento que não tem como você ter troco, passar troco e essa coisa toda. Você passa o valor exato de uma compra e o consumidor até economiza por isso, além de não perder aquelas moedinhas ou aquela nota de dois reais”.

Seja pela segurança de não precisar sair com dinheiro ou cartões na rua, ou pela facilidade de finalizar uma transação comercial rapidamente, sem correr o risco de ter o cartão clonado ou receber notas falsificadas, o fato é que o brasileiro abraçou o PIX como um dos principais meios de pagamento e quanto mais ele se torna popular, menos o dinheiro físico será utilizado no dia a dia da população. (Luciana Araújo)