Correio de Carajás

Cemitério sofre onda de ataques a túmulos e até fachada é arrancada

Na sepultura restaram os buracos do local onde antes havia argolas, possivelmente de metal nobre, que eram usadas para içar a tampa do túmulo/ Fotos: Evangelista Rocha

Principal cemitério de Marabá, o da Saudade, na Folha 29, está sendo alvo de ataques aos túmulos desde o início do mês de dezembro, com depredação, roubo e destruição de placas e inscrições. Nem mesmo o portal de entrada do campo santo escapou, e as letras em bronze que formavam o nome do cemitério foram arrancadas a marretadas no meio da noite. Os vândalos seguem fazendo pouco caso das autoridades, mostrando total destemor e agindo noite após noite, de forma livre.

Há cerca de oito dias o letreiro do cemitério foi furtado

A reportagem do CORREIO esteve no sepulcrário na manhã desta sexta-feira, dia 29, e viu de perto o resultado da ação torpe.

Inúmeros túmulos tiveram suas placas e argolas furtadas. Elas são confeccionadas em bronze, cobre e alumínio. Até mesmo as letras com o nome do cemitério e a placa de fundação do local foram levados. Grades e portas também já foram furtadas.

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Datada de 1989, a placa de fundação do cemitério foi arrancada do local onde estava fixada

Nem mesmo a capela, local que dá conforto para aqueles que possuem entes queridos enterrados naquele terreno, escapou ilesa. Boa parte do forro da igreja foi abaixo, todas as suas lâmpadas sumiram e a fiação elétrica foi roubada.

“Tem jazigo aí com vidro e eles quebraram para entrar e pegar as placas de alumínio, que tem valor no mercado. Inclusive as letras de bronze e a placa da reinauguração”, explica Antônio Maria Zacarias Ferreira, administrador do cemitério.

Antonio pontua que agentes patrimoniais já ficaram por ali, mas foram retirados do local. Ele não soube informar o motivo. “Não sei se é porque eles não vinham e estavam deixando a desejar e por isso tiraram daqui. Até porque aqui só tem papel (na sede da administração) e não tem valor para ninguém”.

Antônio Maria conta que há suspeita de que o comprador do material está localizado entre as Folhas 28 e 29

Ele explica que pela manhã os pedreiros identificam os danos e relatam para a administração, que entra em contato com o 190 para denunciar as ações. O administrador conta que nessa atual onda de vandalismo, a situação mais grave aconteceu na semana passada, quando a capela foi invadida.

Ele também detalha que Múcio Eder Andalécio, secretário de Serviço de Saneamento Ambiental de Marabá (SSAM), que é a entidade à qual o cemitério está sob responsabilidade, já foi informado sobre a situação e que imagens do vandalismo já foram enviadas para ele, mas até o momento não se manifestou sobre o caso.

Em diversos túmulos as placas com nomes, fotos e datas, feitas de cobre, alumínio e bronze foram furtadas

Não passa despercebido ao administrador o fato de que “se tem alguém roubando, tem alguém comprando”. Sobre isso, ele revela que há um boato de que esse comprador está situado entre as Folhas 28 e 29, mas até o momento nada foi confirmado.

Outro agravante é que no cemitério não há vigilância noturna, seus muros baixos e a vastidão do terreno (numa extensão aproximada dada por Antônio, a medida é de dois alqueires e meio), contribuem para que os vândalos entrem no local na madrugada e realizem o arrastão nos túmulos.

Até mesmo as grades da janela da capela foram arrancadas pelos vândalos

“A gente fica aqui até às 18 horas e nunca vimos movimento de ninguém. Mesmo o portão fechado eles pulam e vandalizam aqui dentro”. As ações se acentuaram durante o mês de dezembro e uma grande quantidade de jazigos já foram, de alguma forma, violados.

TRISTEZA DE UMA MÃE

Silvane Lima, professora, é uma das pessoas que teve o jazigo de um familiar violado. No caso dela, foi o da filha. Em conversa com Chagas Filhos, para a TV Correio, ela fala da tristeza que sentiu ao presenciar a cena.

“Queria já ter tido forças para agir, mas ainda não consegui. Fiquei muito abalada com tudo isso. É triste ver essa situação, eu chorei muito”, diz ao compartilhar sua dor com a reportagem da TV Correio.

“Eu estou aqui em nome de todos, porque não foi apenas a sepultura da minha filha que foi violada”. Emocionada, a professora desabafa que as benfeitorias feitas nos tumultos, são um conforto para aqueles que vão até lá visitar a última morada de um ente querido.

Silvane acentua que paga caro nos impostos e por isso cobra alguma ação dos órgãos públicos. Ela chegou a registrar um boletim de ocorrência, para que o caso seja investigado e seu desejo é que o cemitério tenha vigilância noturna. (Luciana Araújo)