Atrás dos muros altos do número 712 da Avenida Manaus, no Bairro Belo Horizonte, em um prédio antigo, a equipe da Escola Professor Paulo Freire alcança resultados inimagináveis dentro de suas limitações.
Através de projetos interdisciplinares, professores desenvolvem a leitura e a escrita dos alunos. Empenho que garantiu a Kauan Pablo Soares Carneiro, 16 anos, reconhecimento nacional.
Além de receber um prêmio em dinheiro no valor de R$ 13 mil, o garoto teve sua obra impressa na quarta capa de livros didáticos que serão utilizados pelos próximos anos em todo o país.
Leia mais:“Meu sentimento é de realização, de poder mostrar para os jovens que o nosso futuro está em nossas próprias mãos e que a gente pode chegar mais longe se persistirmos e acreditarmos”, diz ele com alegria e emoção.
Para contar a história sobre como essa realização aconteceu, é preciso voltar no tempo, até 9 de dezembro de 2022. Neste dia, o Correio de Carajás noticiou que Kauan é o autor da poesia com maior nota no concurso “Brasil 200 anos de Independência: Lendo nossa história, escrevendo nosso futuro”.
Naquele ano, quando ainda era estudante do 9º Ano do Ensino Fundamental (atualmente ele concluiu o 1º Ano do Ensino Médio), o jovem produziu uma poesia, em formato de cordel, para um concurso nacional. Ele foi o único, entre todos os inscritos do Brasil, a alcançar uma nota maior que 9.
E o processo de produção do garoto surpreendeu até mesmo Luzinete Silva, a Lusa, professora responsável por acompanhar os alunos que se inscreveram no projeto. Ela também é cordelista experiente.
Lusa relembra que na época, a rapidez da produção de Kauan chamou sua atenção e ela logo entrou em contato com a mãe do menino para confirmar que foi ele mesmo quem escreveu “Duzentos anos de lutas e vitórias”, a poesia vencedora. “Nós tivemos a felicidade do Kauan ser o melhor do Brasil e temos de agradecer por isso”, comemora.
REALIZAÇÕES E DESAFIOS
“Nossa escola ainda é considerada de periferia. Muitas vezes é desvalorizada por causa do prédio. E as pessoas não reconhecem o que fazemos aqui, não olham para os profissionais que trabalham aqui, para o que está sendo realizado”, desabafa Seane Oliveira Xavier Bezerra, professora da sala de leitura.
A fala de Seane reverbera um dilema crônico na educação municipal de Marabá: problemas de infraestrutura das escolas. Somado a isso, de forma recorrente, professores do município realizam manifestações e atos de greve, reivindicando melhores condições de salário e trabalho.
E o empenho da equipe escolar da Paulo Freire se sobressai diante de tantas dificuldades.
Em 2023, a escola também desenvolveu o projeto “Cordel do Bico Doce” e através dele, os alunos tiveram a oportunidade de produzir livros que foram impressos, graças à plataforma “Estante Mágica”. Um exemplo perfeito de como o investimento em tecnologia impacta positivamente a experiência do aluno na escola.
Seane é enérgica ao afirmar que a oportunidade de ter livro impresso com suas produções textuais incentiva os alunos a escreverem.
SUPERAÇÃO
“Apesar das dificuldades nós estamos fazendo a diferença. Trabalhamos com alunos fragilizados na escrita e na leitura, além dos problemas sociais que a gente enfrenta aqui na escola”, confessa Andréia Rodrigues, gestora escolar.
Mesmo com adversidades enfrentadas diante da infraestrutura da escola, os projetos desenvolvidos pelos professores são incentivados pela gestão e o potencial dos alunos é explorado. A publicação do cordel de Kauan na quarta capa do livro didático é, para a comunidade escolar, o ápice de todo esse esforço.
“Hoje é um dia de festa, de alegria porque estamos colhendo bons frutos”, celebra Andréia. Ela garante que acima de tudo, a equipe da Escola Paulo Freire é comprometida com o aprendizado dos estudantes.
São resultados como o de Kauan, que atestam a assertividade dessa dedicação. (Luciana Araújo)