Correio de Carajás

Marabaense ostenta 88 medalhas de atletismo

“Hoje, meu filho é um atleta, é o meu campeão”, diz Socorro Lima, mãe de Werber, um apaixonado por corrida de rua. O esporte vem transformando vidas.

Werber não perde um dia de treino e sonha em ser professor de educação física/ Fotos: Evangelista Rocha

Socialmente, o termo inclusão pode ser definido como “ato de igualdade entre diferentes indivíduos”. Dessa forma, todos tem (ou deveriam ter) o direito ocupar diversos espaços, sem sofrer nenhum tipo de discriminação ou preconceito.

O paratleta marabaense Werber Lima, 29 anos, é um exemplo de como o esporte tem o condão de abraçar a diversidade, incluir pessoas e mudar a cultura de uma comunidade. O Correio de Carajás foi até o Núcleo São Félix para conhecer essa história.

AMOR PELA CORRIDA

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Quem vê Werber Lima adentrar em uma pista de corrida não deixa de perceber o largo sorriso que ele abre ao pisar os pés no local. Sua vibração e felicidade logo correm como eletricidade entre as crianças que treinam ao seu lado.

Sob um sol escaldante de uma tarde comum em Marabá, o Correio de Carajás acompanhou um dos treinos de Werber e a diversidade de crianças e o ambiente inclusivo de convivência foi o que mais chamou a atenção da reportagem.

A mãe dele, Socorro Lima, conversou com o CORREIO e compartilhou um pouco sobre como o esporte impacta positivamente o desenvolvimento do filho.

“Ele foi uma criança que sentou com um ano, engatinhou com dois e andou com três. Muitas pessoas chegaram para mim e falaram que ele não iria caminhar. Hoje meu filho é um atleta, é o meu campeão”.

Socorro esbanja orgulho ao contar que o filho é um atleta

Animada, ela revela para a reportagem que o filho não perde nenhuma das corridas de rua que são realizadas na cidade. Como saldo dessa dedicação, Werber ostenta 88 medalhas e quatro troféus.

“Há 12 anos ele veio para a Estação Conhecimento e o progresso dele aqui foi maravilhoso, eu só tenho muito orgulho e gratidão”.

Além de fazer questão de correr todos os dias, o paratleta também fez o cursinho pré-vestibular oferecido pela instituição e realizou a prova do Enem 2023. Seu sonho é ser professor de educação física.

Werber tem paralisia cerebral e pratica atletismo na companhia de um grupo heterogéneo, formado por crianças de diversos tamanhos, idades, gênero e cor. Talvez a semelhança mais marcante entre eles seja o fato de morarem no Núcleo São Félix. Fora isso, a pluralidade de perfis entre os jovens atletas materializa com assertividade o conceito de inclusão.

NÃO TEM DIFERENÇA

“Todas as práticas são inclusivas. O que acontece aqui é que uma vez por mês, a pessoa com deficiência tem uma aula específica para ela e as outras crianças participam junto”, explica Cristiano Ramos dos Santos, 41 anos, professor de educação física e atletismo. Ele vê o trabalho como grandioso e diferenciado, pois não são feitas aulas adaptadas.

Cristiano é professor de atletismo e detalha que os treinos são inclusivos

A definição de convivência entre o grupo é determinada em duas palavras: lúdica e divertida. No universo criado pelo esporte, o contentamento em fazer parte das práticas se sobressai e, de acordo com Cristiano, ninguém é tratado com diferença por conta de suas características diversas, nem mesmo Werber.

“A comunicação flui espontaneamente e algumas crianças até ficam embaraçadas porque ele (Weber Lima) corre acima de cinco quilômetros e alguns deles apenas três”.

É importante ressaltar que crianças são seres humanos em formação, que ainda estão em fase de desenvolvimento e aprendizado constante. E daí a importância de conviverem com pessoas diversas, em um espaço que favorece a promoção de um olhar sem preconceitos.

Para trabalhar com pessoas com deficiência, o professor destaca que em primeiro lugar está o amor pela profissão. “Porque assim você vai somar, sempre”.

DESENVOLVIMENTO GLOBAL

Thais Carvalho Costa, 29 anos, terapeuta ocupacional, explica que além da prática do esporte, Weber Lima participa de outras atividades que colaboram para sua integração e desenvolvimento.

“A terapia ocupacional, aqui na Estação, atua no contexto social, articulando ações para o progresso das crianças com deficiência, em uma perspectiva integral”. A terapeuta detalha que os educadores e demais profissionais da instituição também recebem orientação para que insiram e incluam essas crianças nas atividades que eles desenvolvem.

Thais explica que a terapia ocupacional engloba a família da criança com deficiência

O trabalho voltado para a inclusão não é feito exclusivamente dentro da Estação, mas ampliado para a família e comunidade, uma forma de desenvolver a criança com deficiência de maneira global, estimulando suas habilidades motoras, cognitivas, comportamentais e sociais.

“A Estação Conhecimento é convidativa para a inclusão social e o tratamento a essas pessoas com deficiência é igual ao dado às outras. Isso proporciona para eles uma convivência em sociedade e a garantia de direitos”, afirma Aldileide de Oliveira Silva, diretora da instituição.

Aldileide conta que a instituição atende 25 pessoas com deficiência

Por lá, são atendidas 25 pessoas com deficiência, dentre as quase 500 famílias impactadas pelas atividades oferecidas pelo lugar.

(Luciana Araújo)