O lançamento oficial do livro “Outono de Carne Estranha”, do escritor marabaense Airton Souza, será realizado na Feira Literária Internacional de Paraty, no Estado do Rio de Janeiro, na próxima semana. Porém, com o pré-lançamento feito há menos de 30 dias, o livro “caiu na graça” dos leitores e virou tema recorrente das conversas.
O sucesso do livro (que ainda nem foi lançado oficialmente, mas que já pode ser adquirido pelo site da Amazon) se dá pela linguagem utilizada pelo autor para abordar temas reais.
“O livro fala sobre um romance entre dois homens, a violência no garimpo, a denúncia contra o Estado e a presença da figura de Curió. Estava com medo, muito medo, justamente por causa do lugar comum que a literatura rompe. Na verdade, estava mais ansioso do que temeroso. E essa receptividade dos leitores, inclusive com comentários nas redes sociais está sendo surpreendente. Estou muito emocionado, nunca imaginei ganhar um prêmio desse”, admite Airton, que tatuou no braço a premiação do romance.
Leia mais:Para o autor, a obra vai gerar dois tipos diferentes de leitores: os que só irão ler o início e abandonar o livro, e os que de fato vão ler até o final para saber o que acontece.
Questionado sobre a escolha do texto para o início do livro – que chama a atenção por retratar de forma avassaladora a relação entre dois homens no meio do garimpo de Serra Pelada – Airton Sousa conta que esse capítulo era o terceiro, e que a ideia inicial não seria colocar essa parte no começo da história.
“Não sei dizer exatamente o que aconteceu quando decidi colocar essa parte no início. A primeira pessoa que leu esse trecho foi a minha companheira e ela não gostou. Teve uma reação não muito boa e pediu para que eu não colocasse isso no livro de forma nenhuma, da maneira que estava escrito. Mas, mesmo assim decidi colocar sem ela concordar. Ela ficou preocupada com a reação das pessoas e em relação a gente, já que somos professores, funcionários públicos”, comenta Airton, ressaltando que nunca pediu a opinião da esposa em outras obras e que dessa vez queria ouvir justamente o que ela tinha a dizer.
Na última semana, Airton Sousa esteve na cidade de Paranavaí (PR) para receber pela segunda vez o Troféu Natividade, conhecido como Barriguda. O evento, promovido pela Fundação Cultural de Paranavaí, é um dos maiores festivais de poesia do Brasil.
“Quem vivencia o festival não volta pra casa a mesma pessoa. É uma experiência indescritível. Inesquecível. Foi no Femup que me senti um escritor valorizado e respeitado. O que a Fundação Cultural de Paranavaí faz deveria ser copiado por todas as cidades desse país. Seria revolucionário e em poucos anos teríamos um país profundamente transformado”, disse Airton, sendo vencedor na categoria poesia.
Durante sua passagem pelo município, o escritor foi convidado por um professor para ir até o Instituto Federal da cidade para conversar com os alunos das turmas de ensino médio.
Ele conta que abordou sobre a importância da leitura e da transformação que ela causa da vida das pessoas.
“Pedi autorização para ler o trecho inicial do primeiro capítulo do livro. Quando iniciei a leitura, abaixei a cabeça porque fiquei com medo da reação deles. Só teve um momento que levantei a cabeça que foi quando a última turma entrou, que eram mais maduros. Mas, a reação foi terrível porque todos eles abaixaram a cabeça e alguns sorriram. A reação foi estranha. Após a leitura, conversei com eles e expliquei que se trata de uma ficção, mas são coisas que acontecem no dia a dia de muita gente”, enfatiza.
Crítica
“Há bastante tempo (acho que desde que li Torto Arado, do Itamar Vieira Jr, assim que foi editado em Portugal, após vencer o Prêmio Leya, em 2018) um romance não me provoca tamanho impacto como esse Outono de Carne Estranha, do querido Airton Souza. Não por acaso o livro foi o vencedor do Prêmio SESC de Literatura em 2023.
Ao iniciar a leitura pensei: como o Airton, um poeta que escreve tantas delicadezas, saiu completamente de seu estilo para escrever um texto tão forte, pesado e contundente? Mas, à medida que eu me adiantava na leitura, a poesia da alma do Airton ia se manifestando das maneiras mais improváveis. E fui percebendo que ela estava li o tempo todo: na bateia, nos bamburros, nas adeus-mamãe!
Para quem, como eu, não se esquece das imagens do Garimpo de Serra Pelada mostradas na tevê lá nos anos 80, preparem-se, a leitura de Outono nos leva de volta àquela cena infernal.
Se em Outono de Carne Estranha a rotina dos garimpeiros é narrada com absoluto realismo, a história de amor retratada é pura poesia (da mesma maneira forte, contundente e envolvente).
Não tenho a menor dúvida que o Prêmio SESC 2023 é só o primeiro dos muitos prêmios que este livro irá receber.
E mais não conto porque não quero dar spoiler, mas recomendo fortemente!” – Henriette Effenberger (romancista, contista, memorialista e poeta)
Programação FLIP
Casa Record
Data: 25/11 – sábado às 12h
Ficção no Brasil profundo com Airton Souza e Eurico Cabral
Mediação: Lucas Telles
Um papo sobre Outono de carne estranha, romance LGBTQIA+ na Serra Pelada que venceu o prêmio Sesc de Literatura este ano, e Guaporé, uma história impactante entre pai e filha no sertão mato-grossense que virou cult.
Bistrô – Sesc Santa Rita
Data: 25/11 – sábado às 18h30
Programação: Cerimônia Prêmio Sesc de Literatura – 20 anos
Participantes: Airton Souza e Betânia Pinheiro (participação de Joca Terron e Giovana Madalosso, integrantes da comissão final)
(Ana Mangas)