Passageiros de um voo que partiu de Fortaleza a Marabá, no último final de semana, se surpreenderam com uma mensagem de uma das aeromoças. No vídeo do momento, que circula pelas redes sociais, é possível escutar a comissária de bordo parabenizando ninguém menos que a marabaense Elisa Vitória, atleta paralímpica que acabara de conquistar sete medalhas de ouro no XII Meeting Cearense de Natação.
A narrativa cativante da nadadora de 13 anos mergulha nas profundezas de sua jornada paralímpica. A reportagem deste CORREIO esteve no treino da jovem na manhã desta sexta-feira (10) e teve a oportunidade não só de conhecê-la, mas de ver de perto um pouco da preparação para o próximo campeonato.
Questionada sobre como tudo teria começado, Elisa é sincera: “Eu já tinha objetivo de ganhar medalhas, só que não era exatamente na natação. Eu sinceramente nem sabia o que era, só tinha consciência de que queria me destacar em algo”, revela.
Leia mais:A garota conta que começou a nadar aos sete anos e, em determinado momento, decidiu deixar a recreação de lado para se dedicar profissional e seriamente ao esporte. Algo que exige dela um esforço muito maior do que se pode imaginar. A nadadora faz questão de enfatizar que não acredita em “superação”, mas em determinação.
“A mensagem que eu tenho para passar para as outras pessoas é: levanta da cama e vai atrás do que você quer. Nada cai do céu”, diz, fazendo questão de desmistificar a ideia de superação que costuma vir atrelada à deficiência, no geral.
TRAJETÓRIA
Seu primeiro ouro foi em uma competição onde treina atualmente, no Colégio Alvorada, onde fora convidada a participar. Posteriormente, quatro medalhas de ouro em Belém. E esse foi só o início. Hoje, Elisa acumula a surpreendente quantidade de 38 medalhas, em quatro anos de competições relevantes.
“São 35 de ouro, uma de prata e duas de bronze”, relata. Dessas, recentemente, sete reluziram em seu pescoço após o campeonato cearense, solidificando seu lugar como uma das promessas do esporte paralímpico.
A próxima parada de Elisa é São Paulo, onde competirá nacionalmente em seis provas. Suas categorias, como ela descreve com entusiasmo, incluem “três SB dois e SM três,” revelando a diversidade e complexidade das provas paralímpicas.
O MAESTRO
Nos bastidores dessa jornada aquática está Arionaldo Borges, o coordenador e idealizador do Projeto Marabá Paralímpico, que é treinador de Elisa Vitória. Com formação em educação física, o profissional viu o projeto evoluir desde sua concepção em 2008.
Sobre o treinamento com a jovem, o treinador enfatiza a importância do contrato social estabelecido com ela e até mesmo seus outros alunos: “Eu sempre questiono – qual é o seu objetivo? O que você quer?” explica, destacando que a dedicação ao esporte é uma escolha que vai muito além das barreiras físicas.
Ao contrário do que muitos pensam, a deficiência não é o ponto principal. Segundo ele, tudo depende da importância que o atleta dá ao esporte, aos treinos. É um acordo entre duas partes.
Ao abordar a trajetória de Elisa, Arionaldo ressalta que a motivação intrínseca é a chave: “eu sempre falo o seguinte, as pessoas têm na cabeça que é porque é deficiente, superou não sei o que. Todo mundo supera barreira. Eu e você temos barreiras e também vamos superá-las. O que cabe entre mim e Elisa é o quanto ela está disposta a se esforçar para continuar a alcançar os pódios”, finaliza. (Thays Araujo)