Os brasileiros estão mais cautelosos com seus gastos e mudando seus hábitos de consumo. Segundo um levantamento feito pela consultoria EY-Parthenon e antecipado com exclusividade pelo g1, 82% dos brasileiros estão preocupados com suas finanças — mais do que a média global, de 80%. A pesquisa foi feita em 27 países e entrevistou mais de 21 mil pessoas.
Entre os motivos mais citados para essa preocupação estão:
- conflitos geopolíticos;
- pressões inflacionárias;
- e interrupções nas cadeias de suprimentos, que levaram à falta de muitos produtos, principalmente na pandemia de Covid-19.
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A designer Vanessa Reis, de 30 anos, faz parte do grupo de pessoas que têm se preocupado cada vez mais com suas finanças. Ela conta que, desde a pandemia, tenta ser cada vez mais consciente em relação aos seus hábitos de consumo — inclusive com coisas que podem passar despercebidas para muita gente.
“Dentro de casa, quando não estou em um cômodo, eu apago as luzes, uso o ar-condicionado somente quando o calor está muito insuportável, fecho a torneira quando estou escovando os dentes e fecho o chuveiro na hora de me ensaboar. No prédio em que moro, tem coleta seletiva”, comenta.
Essas atitudes, segundo Vanessa, vão além da questão de sustentabilidade, já que também se relacionam diretamente com uma melhor gestão do orçamento.
A designer conta ainda que começou a pesquisar mais os preços antes de adquirir os produtos, passou a fazer a compra do mês em mercados que vendem no atacado e a evitar comer fora de casa ou comprar comida por aplicativo.
O que leva a uma mudança nos hábitos de consumo?
De acordo com o estudo da consultoria EY-Parthenon, eventos recentes aceleraram essas mudanças de hábitos, alterando de forma permanente a maneira como as pessoas compram, o que compram e como consomem tudo — desde produtos até meios de comunicação e experiências sociais.
O levantamento cita, por exemplo, os conflitos geopolíticos como a Guerra na Ucrânia e a Guerra entre Israel e o Hamas.
A pesquisa também aborda a crescente pressão inflacionária ao redor do mundo e as mudanças nas cadeias de suprimentos.
Segundo Natália Sperati, sócia de estratégia da EY-Parthenon para varejo e bens de consumo para a América Latina, há um ponto importante que explica o atual momento no Brasil: apesar do cenário macroeconômico aparentemente positivo — com uma baixa taxa básica de juros (Selic) e melhora da inflação —, ainda existe uma alta taxa de endividamento e um aumento da inadimplência.
“Essa situação de endividamento e inadimplência gera uma pressão no consumidor, que acaba tendo que tomar medidas práticas na hora da compra, como redução de gastos em itens não essenciais ou procura por maiores vantagens oferecidas pelos varejistas, como melhor custo-benefício e promoções”, afirma a executiva.
A designer Vanessa Reis, por exemplo, também sentiu esses efeitos. Ela diz que parte de sua mudança de hábitos é consequência direta do aumento de preços e conta que, além da percepção de que os combustíveis estão, de novo, mais caros, também tem gastado mais na hora de comprar alguns alimentos, como arroz, carne e leite.
Segundo a EY, a maioria dos entrevistados aponta um aumento de preços em todos os itens citados pela pesquisa, com destaque para os seguintes números:
- 79% notaram uma alta nos preços dos combustíveis;
- 78% viram um encarecimento de alimentos frescos e embalados;
- e 78% perceberam preços mais altos em alimentos básicos (como trigo e arroz, por exemplo).
Mudança de prioridades
O cenário de preços mais altos e orçamento mais apertado faz com que os consumidores não apenas voltem suas atenções para suas questões financeiras. Eles também passaram a reavaliar suas prioridades.
Segundo a EY, a sinalização é que muitos já começaram a reduzir seus gastos e passaram a pensar de maneira mais cuidadosa sobre produtos de que realmente precisam. De acordo com o levantamento, por exemplo:
- 54% dos brasileiros já passaram a cortar itens não essenciais das despesas;
- 45% estão experimentando novas marcas (e mais baratas) para reduzir custos;
- e 94% estão tentando diminuir ou acabar com o desperdício de comida.
O movimento tem, inclusive, se refletido nos produtos ofertados pelas empresas. De acordo com a EY, os produtos de marca própria não apenas têm ganhado força junto aos consumidores, como têm sido cada vez mais e estão sendo “cada vez mais priorizados pelos varejistas”.
Entre os consumidores que optaram por substituir produtos de marcas conhecidas por outros de marcas próprias, menos populares e/ou mais baratas:
- 59% dizem que as marcas próprias estão ajudando a economizar dinheiro;
- 63% afirmam que as marcas próprias estão satisfazendo suas necessidades tão bem quanto os produtos de marca;
- e 66% relatam que veem marcas próprias sendo colocadas na altura dos olhos nas prateleiras das lojas.
E não é só. De acordo com o levantamento, todo esse cenário ainda se reflete no bem-estar e na saúde: 80% dos brasileiros disseram estar mais conscientes e cautelosos sobre a sua saúde mental, colocando esse ponto entre os mais importantes na hora de pensar sobre finanças, organizar gastos e escolher como consumir.
Nesse aspecto, Vanessa diz que também fez mudanças. Ela conta, por exemplo, que se mudou para o interior de São Paulo para unir dois desejos: economizar no aluguel e ter uma maior qualidade de vida.
Intenção de consumo muda em todas as classes sociais
Ainda de acordo com a pesquisa da EY, entrevistados de todas as classes sociais indicaram ter a intenção de gastar menos na maioria dos itens.
Na classe baixa, por exemplo, apenas dois dos itens apresentaram uma maior intenção de gasto por parte dos entrevistados: comidas frescas, com 33% da preferência e atividades recreativas, com 27%. Todos os outros grupos de produtos apresentam uma tendência de redução dos gastos, com destaque para tabaco (77%), artigos considerados de luxo (63%) e bebidas alcoólicas (60%).
Entre os entrevistados da classe média, os itens que apresentaram uma maior intenção de gasto foram as comidas frescas, com 38%, seguidos por gastos com férias e feriados, com 30%.
Já entre os produtos com tendência de redução dos gastos, por sua vez, o destaque ficou com tabaco (60%), artigos de luxo (60%), bebidas alcoólicas (50%) e itens caros (50%).
A classe alta, por fim, apresentou uma maior intenção de gastar em cinco dos itens citados pela pesquisa: comidas frescas (50%), férias e feriados (44%), atividades recreativas (35%), casa e limpeza (32%) e roupas e sapatos (28%).
Assim como nas outras classes, tabaco (58%) e artigos de luxo (57%) também são os grupos com maior intenção de redução de gastos.
(Fonte:G1)