As cores da vinagreira, culturalmente utilizada no preparo do arroz de cuxá, prato típico do Maranhão, dão o tom do figurino da Apresentação Musical A Fulô João do Vale, que homenageia o artista maranhense e será apresentada pela primeira vez em 15 de novembro, em Belém.
As vestimentas foram idealizadas e produzidas em Marabá, pelo alfaiate Francisco Coelho da Silva, de 49 anos, e pela filha, Jéssica Bianca Martins da Silva, de 26 anos, produtora executiva do projeto. Eles são pai e irmã da cantora-intérprete Danielly Daissak, que se lança ao grande público com a interpretação de João do Vale.
Nascido em Lago da Pedra, no Maranhão, Francisco Coelho mudou-se para o Pará ainda bebê, aos três meses de idade. Aos 7 anos, após uma tragédia familiar na qual perdeu a mãe e um irmão, se alocou em Marabá, onde foi criado com o apoio da família, principalmente de uma tia.
Leia mais:Começou a trabalhar muito jovem, ainda na adolescência, como sapateiro, mecânico e técnico, mas sem sentir atração por qualquer um desses ofícios. O destino mudou aos 15 anos, quando Francisco viu um amigo costurar camisas e imediatamente sentiu que naquela função poderia ser feliz.
Este amigo disse que em um ano iria para o Exército e então poderia passar a vaga de aprendiz para Francisco, que aguardou por 12 meses pela oportunidade. As coisas, contudo, não saíram como planejado logo no início. “Quando ele tirou o período dele para o quartel eu fui fazer o serviço, mas as pessoas que trabalhavam no local não deram oportunidade, por mais que uma pessoa lá quisesse me ensinar, as outras pessoas não deixavam”, relembra.
O problema era a falta da própria máquina de costura. Francisco era muito pobre e não tinha condições de adquirir o equipamento. No local onde tentava aprender, apenas uma pessoa o apoiava ensinando, mas as outras não estavam dispostas a ceder espaço em suas máquinas. Assim, Francisco precisou voltar para casa com as mãos abanando.
O mestre que o ensinava, contudo, não se esqueceu do jovem. Quando deixou de trabalhar naquele espaço e passou a costurar sozinho, ele procurou Francisco e o convidou para novamente aprender a arte da alfaiataria. “Aí eu consegui uma maquininha que tenho até hoje, guardo como uma relíquia”, diz, apontando para o objeto já aposentado, mas que segue no ateliê ao lado das máquinas mais modernas que Francisco adquiriu ao longo da carreira.
EM FAMÍLIA
Hoje estabilizado como alfaiate e planejando fundar a própria camisaria, Francisco acabou atraindo uma das filhas para o seu mundo. Aprendendo a costurar com o pai há alguns meses, Bianca foi quem idealizou as roupas que estarão nos palcos em breve. “A gente montou a identidade visual do projeto e em cima disso elaborou dois figurinos. Estudamos o estilo do João do Vale, que é um ‘brega chique’, e trabalhou em cima disso”.
Bianca conta que desde jovem sente que possui vocação para o mundo da moda e já gostava de idealizar roupas para ela mesma baseadas na cultura oriental, que admira. “Eu gostava de produzir vestidos, mas não chegava a costurar. Era o meu pai e outra costureira, amiga nossa, que executavam, mas sempre estive voltada para essa questão da moda, é uma coisa que eu gosto bastante”.
A ARTE NO SANGUE
Assim como atraiu Bianca para a alfaiataria, Francisco também tem um dedo no despertar artístico de Danielly. Tanto ele quanto a mãe das meninas cantavam na igreja e viram a pequena Dani desabrochar cedo para esse mundo, por volta dos 3 anos de idade. Ele relembra a primeira vez que notou o dom da filha, ao vê-la acompanhar a mãe enquanto esta estava cantando. Depois disso, Dani cantou na igreja durante uma fase da vida até partir para a arte popular.
Para ele, trabalhar na peça da filha juntando duas paixões é a realização de um sonho. A experiência anterior costurando para projetos culturais inclui a confecção de roupas de quadrilha e o uniforme da banda da Casa da Cultura, mas a emoção de agora é diferente. “Estar trabalhando diretamente com ela em um trabalho dela é uma alegria. Tudo são sonhos e eles às vezes demoram a chegar, mas chegam em algum momento. A gente não pode deixar o sonho morrer”, ensina.
INTERPRETAÇÃO MUSICAL
A peça musical será apresentada neste mês no Teatro do Núcleo de Oficinas do Curro Velho, no bairro do Telégrafo, em Belém. Artista frequentemente homenageado no Maranhão, dando nome a museu, teatro e rua, o cantor e compositor João do Vale é legado da Música Popular Brasileira.
A Fulô João do Vale está sendo realizada graças ao edital Prêmio FCP de Incentivo às Artes e à Cultura – 2023, da Fundação Cultural do Pará, na categoria Música. O espetáculo será gratuito e livre para todos os públicos e será oferecida, ainda, uma oficina dividida em três partes e destinada a crianças de 7 a 12 anos.