Correio de Carajás

Autismo: extrato de cannabis adaptado melhora tratamento, diz estudo

Estudo brasileiro mostra que os pacientes com autismo se beneficiam mais do tratamento, com melhora dos sintomas, quando ele é personalizado

Reprodução/DPE-SC

Um estudo brasileiro mostra novas evidências de que o uso personalizado do extrato de cannabis pode ser benéfico para o tratamento de pacientes com transtornos do espectro autista (TEA). Os resultados mostram a melhora da maioria dos principais sintomas relacionados ao TEA.

Em artigo publicado no final de agosto na revista Frontiers in Psychiatry, os pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e outras instituições de pesquisa descrevem o experimento realizado com 20 indivíduos com sintomas autistas.

Todos foram tratados com extratos de cannabis produzidos no Brasil por associações de pacientes, o que permitiu um regime de dosagem individualizado baseado na resposta ao tratamento.

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“A melhor escolha do uso medicinal (do extrato de cannabis) tem a ver com a individualização da prescrição. E ela só é possível se as pessoas que transformam a biomassa em remédio fizerem um produto mais personalizado”, afirma o co-autor do estudo, Leandro Ramires, diretor médico-científico da Associação Brasileira de Pacientes de Cannabis Medicinal (AMA+ME), em entrevista ao Metrópoles.

Autismo e cannabis
Os autores do estudo apontam que os transtornos do espectro autista podem afetar significativamente o bem-estar dos pacientes e suas famílias. Embora o uso terapêutico da cannabis para esses pacientes seja estudado há muitos anos, ainda não existe um consenso sobre diretrizes de tratamento.

No novo estudo, os 20 pacientes foram tratados ao longo de seis meses com dosagens diárias de canabidiol (CBD) e tetraidrocanabinol (THC) ajustadas com base nos resultados do tratamento após avaliação clínica periódica.

Dessa maneira, foi possível criar um protocolo ajustável que gera maior probabilidade de mais pessoas terem benefícios com o tratamento.

“Ao invés de partir de um pressuposto que existe uma fórmula que serve para todo mundo, encaramos o desafio de criar uma forma segura de dar um extrato com pouquíssimo THC e muito CBD e modificar a dose conforme a resposta do paciente”, explica o coordenador científico do projeto, Renato Malcher-Lopes, neurocientista no Departamento de Ciências Fisiológicas da UnB.

Os pacientes ou os cuidadores também deveriam responder a um questionário detalhado com perguntas sobre os principais sintomas apresentados e a qualidade de vida.

Em média, a proporção de CBD e THC usada foi de 20 para um, respectivamente, mas ela variou de acordo com a intensidade dos sintomas apresentados por cada paciente. Aqueles com comportamento mais agressivo, por exemplo, beneficiaram-se com proporções um pouco maiores de THC.

Dezoito dos 20 pacientes apresentaram melhora na maioria dos sintomas associados ao autismo, como insônias, agressividade, déficit de atenção e hiperatividade, crises convulsivas e alotriofagia – vontade de ingerir objetos que não são alimentos.

O estudo mostrou que os pacientes ganharam mais autonomia para se vestir, alimentar e mais concentração, entre outros benefícios

A amenização dos sintomas se refletiu na melhora da qualidade de vida tanto dos pacientes quanto dos familiares e cuidadores.

“Assim como no Alzheimer, não existe remédio para o autismo. O que podemos fazer é melhorar a qualidade de vida dessas pessoas. Elas ganham mais autonomia para se vestir, se alimentar, e têm mais concentração”, explica Ramires.

O pesquisador destaca que, ao contrário da crença popular, o uso da cannabis não tem a função de deixar o paciente sedado. “Ela faz exatamente o contrário, faz com que ele interaja com o mundo e não fique dopado”, afirma.

Durante o estudo, na maioria dos casos, o uso de outros medicamentos foi reduzido ou completamente interrompido.

“Essa abordagem da vida real nos permitiu obter uma compreensão mais clara do amplo alcance dos benefícios que os extrato de cannabis podem proporcionar aos pacientes com TEA e suas famílias”, aponta Malcher-Lopes.

(Metrópoles)