A inclusão e acessibilidade de estudantes com deficiência em instituições de ensino superior é um tema discutido com frequência no âmbito da educação. Nesse contexto, José Diego Rodrigues de Lira, 32 anos, estudante do 9º semestre do curso de psicologia da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), pautou sua pesquisa para o trabalho de conclusão de curso (TCC) na percepção do corpo docente, em relação à capacidade de aprendizado de discentes cegos.
Diego é uma pessoa com deficiência visual, o primeiro a ingressar e concluir o curso. “Eu tenho esperança de que sendo eu o primeiro aluno cego a cursar psicologia, essa universidade vai ter muito a oferecer. Fico muito feliz em ter essa oportunidade em uma universidade com professores tão competentes e atenciosos”, compartilha.
Em seu TCC, o acadêmico detalha que escolheu sua linha de investigação por achar interessante e por ser um dos primeiros do país a fazer essa abordagem. “Acredito que esse trabalho traz a ideia da empatia, de você se colocar no lugar do outro e a psicologia tem esse olhar”, reflete.
Leia mais:Em sua pesquisa, o estudante traz informações importantes sobre como a percepção da pessoa com deficiência influencia no modo de agir do educador. Essa reflexão é feita por Lúcia Cristina Cavalcanti, professora do curso de psicologia e orientadora de Diego. Ela também integra o Núcleo de Psicologia da Educação e Desenvolvimento, dentro da Unifesspa.
“Então, descobrir essa percepção, trazer esses dados, socializar com os colegas, vai ajudar para que a gente possa refletir e até se reposicionar em relação a nossa visão sobre os alunos cegos”. A professora acredita que universidade e sociedade estão caminhando para se tornar mais inclusivas.
HÁ QUATRO ANOS
Em junho de 2019 o CORREIO entrevistou José Diego Rodrigues de Lira, primeiro aluno cego do curso de Psicologia da Unifesspa.
“Eu sou uma pessoa que planeja o futuro, mas eu procuro colocar tudo em prática logo. Escolhi o curso de Psicologia, tendo em vista ter estudado em classe especial. Percebi que faltam psicólogos nas escolas; faltam profissionais que auxiliem os alunos com necessidades específicas, que entendam os meandros da educação especial”, compartilhou naquela época.
Agora, na reta final da graduação, os planos do acadêmico seguem na mesma linha. “Como área de trabalho eu penso muito na educação. Acho que é uma área que precisa muito da atuação de psicólogos e acredito que tenho esse perfil”. Mas afirma que tem uma ‘quedinha’ pela psicologia comportamental.
Questionado pela Reportagem sobre o sentimento de ser o primeiro aluno cego do curso, ele sorri ao afirmar que se sente muito feliz por essa realização. “Aprendi junto com a minha turma e eles aprenderam sobre acessibilidade. Às vezes fazem as descrições das coisas para mim”.
Apesar disso, ele frisa que dois estudantes cegos terão necessidades diferentes e, para exemplificar, explica que um pode ter mais facilidade com recursos tecnológicos – importantes aliados no dia a dia de pessoas cegas – e o outro não.
Em 2019, Diego revelou que seu objetivo de vida era concluir o curso, e declarou que a Unifesspa é uma universidade que respeita os direitos e atende as necessidades de todos. Local com pesquisas e de pessoas sérias detalhes, que lhe transmitem alegria e segurança. (Luciana Araújo)