Correio de Carajás

Remédio para obesidade pode melhorar os processos de aprendizagem

Em testes com 54 voluntários, uma aplicação da liraglutida reduziu deficit de aprendizagem comum em pessoas que estão com excesso de peso. Medicamento também é usado para o controle do diabetes tipo 2

Estudo publicado na revista Nature indica que uma dose da substância já beneficia a atividade cerebral - (crédito: Reprodução/Freepik)

Uma pesquisa realizada por cientistas do Instituto Max Planck de Pesquisa em Metabolismo, na Alemanha, mostra que o aprendizado é positivamente afetado pela droga antiobesidade liraglutida. Apenas uma dose da medicação beneficia a atividade cerebral, segundo os autores do artigo publicado, nesta quinta-feira (17/08), na revista Nature Metabolism. O estudo também mostra que a aquisição de conhecimento é prejudicada em pessoas com baixa sensibilidade à insulina, condição associada ao excesso de peso.

“Mostramos que comportamentos básicos, como o aprendizado associativo, dependem não apenas das condições ambientais externas, mas também do estado metabólico do corpo. Portanto, uma pessoa estar acima do peso também determina como o cérebro aprende a associar sensorialmente sinais”, afirma, em nota, o líder do trabalho, Marc Tittgemeyer.

Conforme os autores, para controlar o comportamento, o cérebro deve ser capaz de formar associações. Isso envolve, por exemplo, relacionar um estímulo externo a uma consequência, como ver uma peça de metal brilhando na cor vermelha e entender que ela pode gerar uma queimadura. Essa aprendizagem associativa é controlada por uma área do cérebro chamada mesencéfalo dopaminérgico.

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Nessa região, há muitos receptores para moléculas consideradas sinalizadoras, como a insulina, o que permite adaptar os comportamentos às necessidades fisiológicas do organismo. No entanto, quando a sensibilidade à insulina do corpo é reduzida em decorrência da obesidade, causa alterações na atividade cerebral e na capacidade de aprender por associação.

Para testar o funcionamento da liraglutida, os pesquisadores avaliaram 30 voluntários com peso normal e 24 obesos. A equipe injetou, nos participantes, uma dose da liraglutida ou de placebo. Muito usada para tratar obesidade e diabetes tipo 2, a droga age estimulando a fabricação de insulina e produzindo uma sensação de saciedade. Na manhã seguinte à aplicação, os pacientes receberam uma tarefa para que fosse avaliado o desempenho do aprendizado associativo.

Antes da abordagem experimental, a equipe notou que a capacidade de associar estímulos sensoriais era menor em participantes com obesidade do que naqueles com peso normal. Também nos primeiros, a atividade cerebral estava reduzida nas áreas ligadas a esse comportamento. Após uma dose de liraglutida, porém, os obesos não apresentaram mais esse deficit no aprendizado e não foi observada diferença na atividade cerebral entre os grupos.

A liraglutida também devolveu a atividade cerebral aos participantes obesos, levando-os ao mesmo estado que indivíduos com peso normal. “Embora seja encorajador que as drogas disponíveis tenham um efeito positivo na atividade cerebral na obesidade, é alarmante que ocorram mudanças no desempenho cerebral mesmo em jovens com obesidade sem outras condições médicas”, pontua Ruth Hanßen, primeira autora do estudo.

(Fonte: Correio Braziliense)