Correio de Carajás

“É necessário falar sobre sexo, orgasmo e prazer feminino”, diz sexóloga

Psicóloga e sexóloga, Bruna Pacheco reforça que as mulheres precisam conhecer seu próprio corpo

Falar de sexo e de orgasmo – principalmente o feminino – ainda é encarado como um grande tabu e visto com uma certa estranheza na sociedade.

É válido relembrar que ao longo da história a sexualidade feminina foi muito reprimida e, somente com a evolução, principalmente dos movimentos feministas – quando as mulheres passaram a lutar por seus direitos – que a sexualidade passou pelo processo de desconstrução e de quebra de paradigmas. Mas, mesmo nos dias atuais, esse ainda é um assunto pouco discutido.

Neste dia 31 de julho, data em que se comemora o Dia Mundial do Orgasmo, o CORREIO conversou com a psicóloga e sexóloga Bruna Pacheco Fortes, que trouxe algumas dicas de como facilitar e melhorar a vivência da sexualidade e, claro, gozar dos benefícios do orgasmo.

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Segundo a especialista, existem diversos fatores, como os sociais e psicológicos, que impedem a mulher de conhecer o próprio corpo. Ela afirma que muitas mulheres nunca se tocaram ou não sabem o que exatamente lhe agrada ou desagrada, resultando assim em nunca terem tido um orgasmo.

“Infelizmente, ainda hoje, muitas meninas ainda recebem as primeiras informações sobre sexo em forma de tabu, estigmas e preconceitos em cima da sexualidade como se fosse algo errado e pecaminoso, o que a gente não enxerga com a sexualidade masculina, onde muitas vezes os pais até encorajam o filho a se tocar e a se masturbar. Essas mensagens ficam internalizadas no nosso cérebro como algo negativo, por isso é importante se masturbar. Faz muito bem. É fundamental a gente conhecer o nosso corpo através do toque, porque a forma como a gente se toca vai condicionar a forma como a gente se abre para sentir prazer com outra pessoa. Muitas vezes essa aversão ao sexo que a mulher sente, não é algo fisiológico ou natural. As vezes foi algo condicionado a ela por tudo o que aprendeu ao longo da vida”.

Orgasmo faz bem à saúde

Segundo a sexóloga, o orgasmo é uma resposta fisiológica e psicológica que ocorre durante o pico da excitação sexual. Com uma intensa sensação de prazer, o orgasmo é considerado o ápice desse efeito e geralmente vem acompanhado de contrações rítmicas dos músculos genitais, trazendo uma sensação de liberação e relaxamento.

“Casa pessoa sente o orgasmo de uma forma particular. Mas, geralmente são essas as sensações, e isso acontece de forma automática”, adianta.

Dentre as várias mudanças fisiológicas que o corpo passa durante o orgasmo, está o aumento da frequência cardíaca, o aumento da pressão arterial e a liberação de neurotransmissores, como a endorfina e a ocitocina, que contribuem para a sensação de bem estar e felicidade.

“Por isso, o orgasmo traz essa sensação tão gostosa de relaxamento, porque ajuda a reduzir o estresse, diminuindo os níveis de cortisol e proporcionando sensação de alívio. Além disso, o orgasmo melhora a qualidade do sono, alivia dores crônicas, melhora o humor, traz benefícios para a saúde cardiovascular e imunológica, e fortalece os laços dentro de um relacionamento afetivo”, detalha.

“Se masturbar faz muito bem”

A frase ‘você só sabe se gosta ou não se experimentar’ se encaixa perfeitamente em relação à masturbação. Com um corpo humano possuindo inúmeras zonas erógenas, que proporcionam sensações e prazeres em menor ou em maior grau, é preciso experienciar todas essas peculiaridades.

A sexóloga explica que o auto toque é extremamente importante, porque a masturbação ajuda no autoconhecimento, aumenta o repertório erótico, ajuda a verificação da resposta sexual, traz responsabilidade do prazer e melhora as relações sexuais.

“A forma como a gente se toca vai condicionar a forma como a gente se abre para sentir prazer com outra pessoa. O que não é benéfico não é a masturbação, é o uso da pornografia. O consumo da pornografia está ligado a diversas disfunções sexuais, principalmente para os homens, como a disfunção erétil, ansiedade, e ejaculação precoce ou retardada”.

A especialista enfatiza que existe uma confusão muito grande entre pornografia e masturbação. Contudo, uma coisa não tem nada a ver com a outra e que é preciso entender o carinho pessoal da masturbação como algo natural.

“É preciso abrir os horizontes em relação à masturbação, porque quanto mais criativos nós formos sozinhos, mais a gente vai trazer isso pra uma relação sexual com outra pessoa”.

Anorgasmia

O termo anorgasmia é utilizado quando existe uma dificuldade ou incapacidade de se chegar ao orgasmo. Ou seja, a pessoa não consegue sentir o ponto máximo de prazer durante uma excitação – ou relação – sexual.

Para a sexóloga a falta de estimulação adequada, principalmente em relações heterossexuais, é uma das principais causas. Ela considera que existem diversas possibilidades de fatores associados que podem causar a anorgasmia, como a aversão de desejo sexual, problemas de baixa autoestima, histórias de abuso sexual e emocional, ou até mesmo questões culturais e religiosas.

“A pornografia também é um dos grandes fatores que podem causar na mulher a falta de orgasmo. A pornografia passa uma imagem de que a mulher sempre deve estar pronta para o sexo. Ela é uma verdadeira performance. Aquilo ali não é verdade e não é nada voltado para o prazer feminino. E é justamente por conta disso, que muitos parceiros são desinformados sobre o que ele deve fazer sexualmente para que a companheira chegue ao orgasmo”, explica Bruna, ressaltando que existe uma lacuna muito grande em relação a forma e a quantidade que homens e mulheres chegam ao orgasmo.

 

“Os homens iniciam uma relação sexual sabendo que vão chegar ao orgasmo. A maioria das mulheres não”, frisa.

Bruna ainda alerta que as mulheres tendem a ter muito menos orgasmos quando estão em relacionamentos de longo prazo.

Sexo x prazer

A falta de orgasmo ao longo do tempo, pode levar, principalmente mulheres, a grandes frustrações. Porque, assim como em qualquer outra área da vida é preciso haver uma troca.

“Se a mulher se sente sobrecarregada em alguma área e sente que não está tendo o mesmo espaço para sentir prazer e ter os benefícios de ter o olhar voltado pra ela e para as suas necessidades dentro do relacionamento, isso pode mostrar sim uma incompatibilidade com a pessoa que ela está se relacionando”, acentua Bruna.

Para a psicóloga a falta de orgasmo é algo que precisa ser conversada e não fingida, levando em consideração que a mulher não deve passar por cima dessa situação em silêncio, desmistificando na prática a anorgasmia.

“É necessário normalizar falar sobre sexo, sobre orgasmo, sobre prazer, sobre abraçar a verdade do que lhe dar prazer. A nossa vida sexual não deveria ser baseada nas mensagens de pudor que ouvimos, nas pornografias ou naquelas frases que eram colocadas antigamente nas revistas, como ‘três dicas de como fazer o homem enlouquecer’. Esse tipo de coisa só nos desfavorece como mulher e nos priva de pensar no nosso próprio prazer durante uma relação sexual. É preciso pensar no próprio prazer e falar sobre ele. É fundamental que nós mulheres consigamos nos apropriar da nossa própria sexualidade”.

Diante de uma sociedade conservadora e preconceituosa, que reforça valores como a heterossexualidade compulsória, machismo, tabus e preconceitos em relação aos prazeres sexuais, Bruna Pacheco reforça que o único caminho para a mulher conseguir o orgasmo é conhecer seu próprio corpo.

“Se permita, se conheça, se explore. Se reconecte com seu próprio corpo e se toque. Saiba quais posições e pensamentos te deixam excitada. Esse é o único caminho, e só você pode fornecer isso pra você mesmo”, finaliza. (Ana Mangas)