A personal stylist Sílvia Tavares de Souza relatou que tem recebido ameaças desde que denunciou o padre Airton Freire por estupro. O religioso de 67 anos, que criou a Fundação Terra, foi preso preventivamente em 14 de julho, e no domingo (23) foi internado no Hospital Português, no Recife, após uma crise de hipertensão. A defesa do padre negou as acusações.
Além do Padre Airton, que é alvo de cinco inquéritos, a Justiça também autorizou a prisão de dois funcionários da Fundação Terra, que estão foragidos. Um deles é o motorista Jailson Leonardo da Silva, de 46 anos, a quem Sílvia Tavares acusa de ter participado do estupro ocorrido em agosto de 2022. O outro não teve o nome divulgado.
Segundo Sílvia Tavares, seguidores do padre seriam os autores das ameaças.
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Já [recebi ameaças], principalmente na rua: ‘Eu vou lhe matar e botar sua cabeça numa bandeja e levar para o meu santo, padre Airton'”, contou Sílvia Tavares.
Ela também afirmou que, desde que a denúncia veio a público, tem andado assustada.
“Evito sair muito tarde. Quer dizer, apesar de que, para isso, não tem hora, né? Mas, assim, não é possível que alguém vai me matar. Porque… Ele [o padre], não, mas os fanáticos, sim, entendeu? É como se fosse uma queima de arquivo”, disse.
A personal stylist disse, ainda, que tem medo de ser vítima de “queima de arquivo”. “[Tenho medo de] dizerem assim: ‘Ah, um assalto, dois tiros. Foi um assalto, e levar o carro, mas não foi’. […] Como tem muita coisa a rolar ainda nesse processo, eu sei que corro risco de vida”, afirmou.
Sílvia Tavares também contou que, na rua, é hostilizada com frequência desde que foi a público falar sobre o caso.
“Eu não posso sair. As pessoas me conhecem e começam a soltar gracinha. Começam a me ofender, querem botar o carro por cima do meu carro, está entendendo? Eu saí da academia por conta de pessoas que estavam dizendo que iam me pegar”, declarou Sílvia.
A mulher afirmou, também, que apesar de ouvir pessoas desacreditarem o relato dela, nunca perdeu a fé.
“Se eu perdesse a minha fé, eu já tinha me suicidado. Porque é muita pressão. […] Nos supermercados, eu fui muito apedrejada, eu fui muito, [por pessoas] dizendo que eu queria o dinheiro dele, que eu tinha um caso com ele, que eu tinha um caso com Jailson. Mas eu não perdi a minha fé. A igreja é a casa de Deus. Agora, nas pessoas que estão lá dentro, eu perdi a fé. Não acredito”, disse.
Desespero e agradecimento
Sílvia disse que, por causa das ameaças que ouve na rua, sentiu um “misto de desespero” e agradecimento ao saber da notícia da prisão do Padre Airton.
“Eu me ajoelhei na hora que ligaram para mim. A delegada ligou para mim e disse: ‘Airton está preso’. E aí, eu passei uns 40 minutos sem conseguir andar. Minhas pernas travaram. E eu só me lembro que eu me ajoelhei, agradeci a Deus, e disse: ‘Deus, muito obrigado. Porque eu sei que agora vai aparecer outras vítimas e ele vai ser desmascarado'”, afirmou.
Defesa do padre
Por meio de nota, a defesa do padre Airton afirma que ele reitera ser “inocente” das acusações. Os advogados dizem que vão tentar conseguir um habeas corpus para o padre, e afirmam não terem tido acesso aos autos da investigação.
Eles também consideram que a prisão preventiva de Padre Airton não tem pré-requisitos legais, e que ela “contraria todas as previsões da legislação brasileira e até do direito internacional”.
“Airton Freire é um homem de 67 anos com sérias restrições de saúde. Desde que começou a ser alvo das acusações que refuta, afastou-se das funções eclesiásticas e da presidência da Fundação Terra, onde desenvolveu um trabalho social que atendeu milhares de pessoas nos últimos 40 anos. Além disso, manteve-se isolado e jamais incentivou manifestações ou atos que prejudicassem as investigações, apesar de receber o apoio voluntário de milhares de fiéis. E, por último, apresentou-se espontaneamente às autoridades quando da decretação da prisão preventiva”, afirma.
Os advogados do padre também dizem que ele não atrapalhou as investigações, não coagiu testemunhas e que não há perigo de “eventuais práticas criminosas que possam pôr em risco as supostas vítimas”.
“Os relatos levados às autoridades policiais remetem a supostos episódios de quase um ano atrás ou mais antigos, não sendo recentes para justificar uma prisão”.
O que diz a Fundação Terra
Em nota, a Fundação Terra informou que:
- “Mantém normalmente os importantes trabalhos sociais desenvolvidos nos estados de Pernambuco e do Ceará”;
- “Foram mais de 205 mil atendimentos sociais e de saúde a pessoas carentes em 2022”;
- Isso “compreendeu mais de 900 crianças nas nossas escolas, 128.000 procedimentos no Centro de Reabilitação Mens Sana”;
- Também foram feitos “70 mil atendimentos a moradores de rua com alimentação e doações diversas a 2.500 pessoas”;
- “Todo o trabalho é anualmente auditado e segue as normas de boa governança financeira e administrativa e de compliance”.
Relembre o caso
- Em maio, Silvia Tavares de Souza denunciou que foi estuprada pelo motorista de padre Airton, Jailson Leonardo da Silva, a mando do religioso;
- Segundo Silvia Tavares, o estupro aconteceu no dia 18 de agosto de 2022, em uma propriedade da Fundação Terra;
- Desde a denúncia, Padre Airton está suspenso das atividades religiosas;
- Padre Airton foi preso na sede da Fundação Terra, em Arcoverde, após o cumprimento de um mandado de prisão preventiva;
- Os advogados Mariana Carvalho e Marcelo Leal, que defendem Padre Airton, disseram que a prisão “surpreendeu” a defesa, e que vão tentar conseguir na Justiça um habeas corpus.
(Fonte:G1)