Correio de Carajás

Rayta compete com mulheres cis, ganha corridas, e levanta debate em Marabá

“Se não puder criar a categoria trans, que eu possa concorrer na categoria feminina”, pede Rayta Solaires

Rayta Solaires pede que seja criada uma nova categoria nas competições esportivas ou que a deixem concorrer na categoria feminina

Há poucos meses a World Athletics, organização que gere o atletismo mundialmente, proibiu atletas transgêneros de competirem na categoria feminina em eventos internacionais. A decisão tomada por Sebastian Coe, presidente da entidade, foi “guiada pelo princípio de proteger a categoria feminina”.

Algumas instituições esportivas, como a Federação Internacional de Natação (Fina) chegou a propor a criação de uma nova categoria “aberta”, para que pessoas trans possam competir, mantendo a equidade nas modalidades com categorias femininas.

Em Marabá, o debate foi levantado por Rayta Solaires. Aos 56 anos de idade, a promotora de eventos falou, durante uma entrevista à repórter Sarah Maria, da TV Correio, que quer competir no atletismo, seja na categoria feminina ou em uma nova categoria, a trans.

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“Existem muitas mulheres trans que querem participar de um esporte, mas não se sentem à vontade. Que possamos quebrar essas barreiras e ter atletas trans nas competições esportivas”, clama, ressaltando que voltou a correr em 2022, após ter passado por complicações relacionadas à covid-19.

Segundo ela, o médico indicou a natação, mas como ela já havia participado de competições de atletismo na adolescência, decidiu voltar para a corrida. Iniciando com caminhadas leves, ela foi treinando e começou a participar de corridas na cidade.

“Me preparei e comecei a subir no pódio. Recentemente, fui me inscrever em uma corrida particular e o coordenador da corrida disse que eu não ia participar pelo fato de estar correndo junto com as mulheres, mesmo já estando com a minha certidão e minha identidade com o sexo feminino. Perguntei se teria como ele criar uma categoria trans, e ele disse que não, só se eu participasse na categoria masculina. Mas, gastei muito pra alterar minha documentação. Se eu participasse da masculina estaria regredindo tudo o que conquistei”, desabafa.

Rayta relembra que conseguiu na Justiça o direito de modificar sua certidão de nascimento depois de muita luta. Há quase um ano, o documento agora consta com o sexo feminino. “Rayta era só uma personagem, uma fantasia. Não era uma pessoa. E, a partir de agora a Rayta nasceu. A Rayta existe dentro da sociedade, é uma cidadã brasileira”, orgulha-se.

Questionada pela reportagem se acredita ter algum tipo de privilégio por ter nascido homem, biologicamente falando, Rayta afirma que não e diz que tudo depende do preparo. “Aqui em Marabá tem muita mulher que corre e me deixa lá pra traz. Mas, tudo depende da garra. Acordo 5h30 para treinar. E, além de tudo, sempre fui franzina, delicada”, justifica.

A divisão de categorias por sexo, masculino e feminino cisgêneros, representa empecilhos quando não se consegue englobar as pessoas cuja identidade de gênero independe daquela atribuída socialmente ao sexo biológico.

E é nessa equação, de garantir os direitos fundamentais e respeito às pessoas, e o equilíbrio competitivo nas práticas esportivas que os debates em relação ao assunto acontecem.

O Correio de Carajás conversou com uma corredora amadora da mesma faixa etária que Rayta Solaires.

Para Silvana Fernandes, de 51 anos, as coisas no esporte precisam ser mais claras, e cabe à Federação de Atletismo decidir isso. “Mas, eu particularmente, não concordo. Não vou ser hipócrita em dizer que concordo. Homens e mulheres têm desempenhos físicos diferentes. Se agora na certidão está como mulher, é um direito dela, e eu concordo. Não tenho nada contra. Só não acho justo um homem (biologicamente falando) competir comigo”, enfatiza.

A corredora amadora, Silvana Fernandes, não concorda em competir com mulheres trans

Silvana conta que corre mais do que muitos homens. Contudo, a questão fisiológica ainda pesa no final das contas.

“Não tenho como competir com uma mulher trans, da minha idade. Porque se ela treina que nem eu, pode ter certeza que vai estar bem mais evoluída, por causa dos hormônios masculinos. Agora, se me comprovar que possui os mesmos hormônios que eu, não vejo problema nenhum. Mas, se for comprovado que o hormônio masculino prevalece, não acho justo. Não sei como a federação vai fazer em relação a isso”, finaliza Silvana. (Ana Mangas, com informações de Sarah Maria, da TV CORREIO)