Poucas horas após ser preso em flagrante por homicídio culposo no trânsito, e várias antes de a vítima ser sepultada, João Vitor Araujo da Silva, de 23 anos, recebeu o direito de recolher R$ 5 mil para responder ao processo em liberdade.
Alcoolizado, ele colidiu o automóvel que conduzia na traseira de uma motocicleta parada, na madrugada desta segunda-feira (17), na Rodovia Transamazônica (BR-230), em frente ao Partage Shopping, à altura da Folha 32, no Núcleo Nova Marabá.
No veículo menor estavam o piloto Joattan Ferreira Batista Junior e a namorada dele, Maria Lucia Nascimento, de 40 anos, que morreu no local. Joattan foi encaminhado pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) ao Hospital Municipal de Marabá (HMM), de onde teve alta pela manhã, com uma perna fraturada e outros ferimentos.
Leia mais:“Eu parei no sinal e o cara veio e arrebentou em mim”, afirmou à reportagem, após sair do hospital. As vítimas estavam no semáforo destinado à travessia de pedestres, na frente do shopping, quando foram colhidas, por volta de 2 horas.
A Polícia Rodoviária Federal (PRF) foi acionada para atender a ocorrência e, através dos vestígios do local, presumiu que João Vitor teria batido na traseira da moto. Diante disso, o motorista foi convidado pelos agentes a realizar o teste do bafômetro e teve a alcoolemia constatada.
João Vitor foi apresentado na 21ª Seccional Urbana de Polícia Civil, onde foi autuado em flagrante pelo crime de homicídio culposo no trânsito. Pela manhã, durante a audiência de custódia, o juiz Marcelo Andrei Simão Santos, da 2ª Vara Criminal de Marabá, decidiu pela fiança e decretou medidas cautelares porque o réu é primário, não possuindo outras prisões ou processos.
Para responder em liberdade, além de recolher o valor, ele terá que cumprir ordens como se apresentar mensalmente ao juízo, manter ocupação lícita e permanecer em casa entre 18 e 6 horas.
Família se revolta
José Roberto do Nascimento, tio de Maria Lucia, lamentou a morte dela, cujo corpo era velado na tarde desta segunda na igreja Assembleia de Deus, na Folha 33, onde a mulher vivia. Ele se disse entristecido ao saber da fiança arbitrada para a liberdade do motorista embriagado. Conforme ele, há relatos também de que o motorista estava em alta velocidade.
“Infelizmente foi paga a fiança, no valor de R$ 5 mil, e ele já está respondendo em liberdade, esperando o julgamento. Nós sabemos que isso vai fazer com que ele não pague na justiça pelo que cometeu. Alcoolizado como estava e na velocidade que vinha, realmente seria para ser um crime doloso, mas para a justiça foi sem intenção de matar”, desabafou.
Para ele, a sensação é de que a vida da sobrinha custou apenas R$ 5 mil. “Quem está presa de verdade é a minha sobrinha, que morreu. Deveria pelo menos pagar mais caro. É uma tristeza para aqueles que perdem alguém no trânsito saber que aquela vida custa R$ 5 mil reais”.
De acordo com José Roberto, Maria Lucia havia saído de casa para lanchar com o namorado quando o acidente ocorreu. Ela era evangélica e trabalhadora e deixa dois filhos, um de 16 anos e uma de cinco anos, que preocupam ao tio. “Como vai ser a vida dessas crianças daqui pra frente? Eles têm família pra cuidar, mas e o psicológico deles como vai ficar daqui pra frente? Como explicar?”, lamenta. (Thays Araujo com informações de Josseli Carvalho)