Correio de Carajás

Suplemento de óleo de coco pode causar ganho de peso e ansiedade

Alimento é rico em gordura saturada. Estudo realizado na Unicamp identificou alterações no sistema nervoso central após experimento em camundongos.

Suplementação com óleo de coco pode causar danos à saúde, diz pesquisa da Unicamp — Foto: Pixabay/Divulgação

Ganho de peso, comportamento ansioso e aumento de marcadores inflamatórios são algumas das consequências do uso prolongado do óleo de coco como suplemento alimentar. É o que aponta um estudo realizado pelo Laboratório de Distúrbios do Metabolismo da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Segundo o professor e doutor em biologia funcional e molecular Márcio Alberto Torsoni, os pesquisadores ofereceram a um grupo de camundongos saudáveis, durante oito semanas, uma dose diária de óleo de coco equivalente ao consumo de uma colher de sopa.

“A primeira coisa é que o animal ganhou mais peso. Ele aumentou a quantidade de tecido adiposo e um efeito importante relacionado a esse ganho de peso é que o animal ativou processos inflamatórios. Esses processos levam ele, por exemplo, a não perceber alguns sinais hormonais”, explica Torsoni.

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Os impactos negativos foram percebidos na leptina e insulina, dois hormônios centrais para o metabolismo e que são responsáveis por sinalizar ao sistema nervoso, por exemplo, a sensação de saciedade e o controle dos níveis de açúcar no sangue.

“Quando a gente perde essa capacidade [de sinalização], você vai diminuindo o sinal de saciedade, então você vai tendo mais fome, vai aumentando a deposição de gordura e ganhando peso. […] Além disso, a gente também viu alguma alteração de comportamento do animal, de ansiedade e aprendizado”, afirma.

Processos silenciosos

 

O pesquisador ressalta que, diferentemente de outros óleos utilizados no dia a dia, o óleo de coco é rico em ácido graxo saturado, popularmente conhecido como gordura saturada. Esse tipo de gordura é comum em produtos animais, como banha de porco, e tem grande poder inflamatório.

“Consumindo de maneira crônica, isso causa problemas. E foi o que a gente viu: a ativação de processos inflamatórios no animal. A maior parte da gordura que eu tenho nesse óleo [de coco] é o que nós chamamos de gordura saturada”, detalha Torsoni.

O cérebro dos camundongos também foi afetado pela suplementação. De acordo com os pesquisadores, os efeitos foram percebidos no hipocampo, a região do órgão que está ligada à ansiedade e a distúrbios de comportamento.

“Esses processos inflamatórios, que são silenciosos, chegam no sistema nervoso central. São moléculas produzidas pelo corpo e que são importantes, mas quando são produzidas em maior quantidade, começam a causar danos em estruturas, como os neurônios do hipocampo”, diz.

 

Imagem microscópica do tecido adiposo branco dos camundongos controle (CV) e os suplementados com óleo de coco em duas doses diferentes (CO100 e CO300). m azul a marcação identificando núcleo celular (TROPO), em verde a marcação da perilipina marcando a célula adiposa e em vermelho a marcação (F4/80) que indica o aumento da presença de macrófagos no tecido adiposo. — Foto: Marcio Alberto Torsoni
Imagem microscópica do tecido adiposo branco dos camundongos controle (CV) e os suplementados com óleo de coco em duas doses diferentes (CO100 e CO300). m azul a marcação identificando núcleo celular (TROPO), em verde a marcação da perilipina marcando a célula adiposa e em vermelho a marcação (F4/80) que indica o aumento da presença de macrófagos no tecido adiposo. — Foto: Marcio Alberto Torsoni

Dose segura

 

Torsoni frisa que o consumo seguro do óleo de coco é possível desde que seja feito em pequenas quantidades, conforme prevê o Guia Alimentar para a População Brasileira, desenvolvido pelo Ministério da Saúde. O importante, diz o pesquisador, é manter uma dieta balanceada e sem exageros.

“Uma coisa que eu chamo atenção é que tem muita coisa na moda na internet. O que levou a gente foi exatamente isso. Há uns anos aumentou muito o número de pessoas que passou a fazer uso do óleo de coco e não tinha fundamentação científica nenhuma”, destaca.

(Fonte:G1)