É de um sítio na rodovia Transamazônica, no município de Brasil Novo, na região de integração do Xingu, no sudoeste paraense, que sai uma das melhores amêndoas de cacau do Brasil. A produção é da agricultora e chocolatier Verônica Preuss, catarinense que chegou ao Pará em 2009 com a família. Nos últimos 14 anos, a plantação saiu de três para dez mil pés do fruto.
“Nossa produção foi desde o início com a preocupação com a conservação do solo e das matas. Pois recuperamos uma área de pastagem já degradada plantando o cacau. Em seguida não usamos a queimada para outra área. Inclusive, mantivemos muitas árvores nativas tendo essa área como SAFs”, explica Verônica.
SAFs é a sigla para sistemas agroflorestais. Os SAFs otimizam o uso da terra, conciliando a preservação ambiental com a produção de alimentos, conservando o solo e diminuindo a pressão pelo uso da terra para a produção agrícola. Os sistemas têm vantagens ecológicas e econômicas e podem ser utilizados para restaurar florestas e recuperar áreas degradadas.
Leia mais:A expansão sustentável da propriedade da Verônica é um exemplo de como o cultivo da principal matéria-prima do chocolate tem integrado geração de emprego e renda à preservação da floresta. A cultura feita em plantação de áreas degradadas, por agricultores familiares e em sistemas agroflorestais, tem como resultado a recuperação dessas áreas, com a redução do fogo e do desmatamento na região.
Números do cacau paraense – De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), entre 2020 e 2021, o Brasil produziu 270 toneladas de amêndoas de cacau, sendo 150 mil produzidas na região norte. O Pará é o maior produtor nacional, responsável por 96% do total regional. O fruto movimentou cerca de 2 bilhões de reais no Estado, em 2020.
Segundo nota técnica da Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas do Pará (Fapespa) sobre a produção cacaueira paraense, no contexto das Unidades Federativas do país, apenas 9 Estados são produtores de cacau (amêndoa), sendo o Pará o detentor de quase 145 mil toneladas o que corresponde a mais de 53% de toda produção nacional.
“O Pará tem uma terra boa para esse tipo de plantio. Por ser um cultivo que depende de mão de obra, ela faz girar a economia local e da região, e agora está também despontando como um potencial produtor de chocolates finos, com várias pequenas empresas já se estabelecendo e gerando empregos e renda. Com isso ganha o produtor, que tem valor na matéria-prima e verticalizando a sua produção, e ganha o consumidor, pois terá um produto de qualidade, o chocolate artesanal fino”, reforça a agricultora e chocolatier Verônica Preuss, premiada nacionalmente tanto pela produção de amêndoas, quanto pelo chocolate produzido no sítio da família.
De onde vem o cacau paraense – natural das áreas de várzea, especialmente da região de integração do Baixo Tocantins, mas foi na região da Transamazônica, com os plantios em terra firme, que o cultivo do cacau ganhou maior expressão no Pará.
Ainda segundo estudo da Fapespa, no contexto dos 10 municípios brasileiros que mais produzem cacau, observa-se forte dominância daqueles que compõe a região de integração do Xingu, com destaque para os municípios de Medicilândia, Uruará, Anapu e Placas, os quatro maiores produtores do país. Há ainda as cidades de Brasil Novo e Altamira. Juntos, os municípios do Xingu representaram quase 40% de toda produção nacional, em 2020. Medicilândia, o maior produtor nacional, correspondeu a 18,6%.
Incentivo e proteção da floresta – A Secretaria de Estado de Desenvolvimento Agropecuária e da Pesca (Sedap) desenvolve um projeto de internacionalização de amêndoas que incentivo o beneficiamento primário de cacau, com o objetivo de melhorar a qualidade das amêndoas e assim conseguir melhores preços nos mercados nacional e internacional.
“Este incentivo é concedido às instituições públicas e privadas através de recursos financeiros do Funcacau – Fundo de Desenvolvimento da Cacauicultura Paraense, proporcionando que produtores conquistem prêmios de melhor amêndoa tanto a nível nacional quanto internacional”, explica o engenheiro agrônomo e coordenador do projeto Procacau, Ivaldo Santana.
Outra etapa do projeto é a promoção, divulgação, identificação de mercados através de missões nacionais e internacionais, comercialização de amêndoas em feiras e rodadas de negócios, com a execução de dois festivais internacionais de cacau no Estado. Há ainda um projeto de Indicação Geográfica que está em execução nas regiões da Transamazônica e Baixo Tocantins.
Ainda segundo o engenheiro agrônomo, o Estado atua como promotor da expansão sustentável do cacau em diferentes eixos, como a produção de sementes híbridas, que são distribuídas gratuitamente aos produtores, na recuperação de áreas degradadas com o plantio de cacau em SAF’s, tendo a cultura do cacau como o componente principal, e outros serviços.
“Hoje o cacau é utilizado para recomposição de áreas de reserva legal (Instrução Normativa Semas/Ideflor-Bio) mediante plantio de cacau (Theobrama cacao L.) em Sistemas Agroflorestais, e também as ações voltadas para a captura/sequestro de carbono, objetivando incrementar a renda da propriedade com a comercialização de CO2”, complementa Ivaldo Santana.
(Agência Pará)