Correio de Carajás

Moradores criticam dragas com peneira dentro do Rio Tocantins

Eles também reclamam do local onde as embarcações de aço param para retirar areia e seixo para comercialização, causando riscos aos banhistas

Peneira instalada no barco da draga é uma das reclamações dos moradores do Cabelo Seco/ Fotos: Ulisses Pompeu e Leon Ramirez

Representantes de moradores do Bairro Francisco Coelho, o popular Cabelo Seco, procuraram a Câmara Municipal para reclamar da atuação das chamadas dragas que retiram areia e seixo do leito do Rio Tocantins, às proximidades da Praia do Tucunaré.

Sede da Cooperativa COESAMA fica à margem esquerda do Itacaiunas, em frente ao Cabelo Seco

O problema foi enviado à Comissão de Mineração, Energia e Meio Ambiente da Casa, que foi ouvir os dois lados na última sexta-feira, 17. O presidente da Comissão, Cabo Rodrigo, e pastor Ronisteu Araújo, membros, estiveram na sede da COESAMA (Cooperativa de Extratores de Seixo e Areia de Marabá), que tem 24 cooperados que atuam à margem esquerda do Rio Itacaiunas, exatamente em frente ao Cabelo Seco, onde têm um pátio para depósito do material laterítico, seleção e venda dos produtos para caçambeiros.

Ana Luísa Rocha da Silva, presidente do Grupo de Mulheres do Cabelo Seco, disse à Reportagem do CORREIO que a maior preocupação da comunidade é sobre essas dragas. “A gente olhando dali ela está em cima da praia, mas na realidade estava mais perto, agora que colocaram mais longe do que estão agora. “Notamos que acabaram as dunas que tínhamos antes na praia. Eu lembro que ficávamos lá em cima e descíamos, a gente achava lindo e isso tudo acabou, certamente pela retirada da areia”.

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Ela alerta que, nos últimos anos, de tanta areia que tiram do meio do rio e próximo à praia, só está ficando seixo para contar a história. “Esse é o nosso questionamento, porque antigamente não era assim”.

Ela fala com autoridade de quem nasceu e vive no Cabelo Seco há 67 anos e viu as transformações ocorrerem ao longo do tempo. “Muitos barcos, agora, ficam enganchados em ilhas de seixo em vários pontos do rio. Sugerimos que essas dragas retirem essa areia mais para baixo, e que não seja aqui em frente da nossa cidade, da orla e da praia. Todos nós do Cabelo Seco temos essa preocupação”, afirmou.

Por outro lado, Célio Raimundo Silva Marinho, presidente da Cooperativa de Extratores de Seixo e Areia de Marabá, reconhece as queixas dos moradores do Cabelo Seco em relação às dunas submersas de seixo, e garante que a entidade está trabalhando nisso e já conversou com o chefe de fiscalização da SEMMA, Paulo Chaves, e garante que essa prática vai se acabar, retirando uma peneira que faz a seleção de areia e devolve só o seixo para o fundo do rio. “Nós estamos aqui não para prejudicar a natureza, mas para ajudar para que o nosso meio ambiente sobreviva longos anos. Estamos aqui para tirar o nosso sustento, gerar emprego e renda para a população e para o município e para colaborar com a fiscalização e nos adequarmos da melhor maneira possível”.

Célio Raimundo, presidente da COESAMA, garante que o problema será solucionado

Célio Raimundo revelou que repassou seu número de telefone para as líderes comunitárias do Cabelo Seco, Ana e Tereza, para que possam informar caso alguma draga esteja retirando areia fora do polígono permitido ou usando a peneira polêmica. “Eu mesmo venho conferir e coibir essa prática, porque não sou de acordo com esse tipo de situação, de retirada inadequada de areia. Nós temos um polígono de extração, que estaremos demarcando com boias autorizadas pela Capitania dos Portos e Marinha”, garantiu.

Representantes da Semma, da Cooperativa, dos vereadores e moradores do Cabelo Seco fizeram reunião no meio do rio

O vereador Cabo Rodrigo disse que a denúncia da sociedade levou à fiscalização e ida à sede da cooperativa e ao meio do rio, onde retiram areia e seixo.

“Já tivemos a reunião na Semma e existe uma cobrança de moradores. Conhecemos a área operacional. Para ajudar a solucionar o impasse, agendamos essa reunião na Agência Nacional de Mineração, onde a Coesama tem interesse de sair de perto do encontro dos rios e descer, para ficar apenas no Rio Tocantins. Para acontecer essa alocação de espaço, a Agência Nacional de Mineração precisa autorizar”. (Ulisses Pompeu)

Comissão de Mineração reúne-se com a ANM

 

Na manhã desta segunda-feira, dia 19, membros da Comissão Mineração, Energia, Meio Ambiente, Trabalho, Indústria, Comércio e Economia da Câmara Municipal de Marabá, estiveram reunidos na sede da ANM (Agência Nacional de Mineração) do Pará, em Belém, para debater assunto relacionado à mudança de polígono, ou seja, local para extração de seixo e areia no leito do Rio Tocantins pelos 24 membros da COESAMA (Cooperativa de Extratores de Seixo e Areia de Marabá) e da resolução do licenciamento da referida cooperativa.

Pela Câmara, estiveram presentes os vereadores Cabo Rodrigo (presidente), Márcio do São Félix (secretário), Pastor Ronisteu Araújo, representante do vereador Badeco do Gerson, Raimundinho do Comércio, Eloi Ribeiro, Ilker Moraes, o secretário municipal de Meio Ambiente, Rubens Sampaio, e Célio Raimundo Silva e a advogada Hilkéllyta Galvão, representantes da COESAMA.

O grupo foi recebido pelo gerente regional da ANM no Pará, Hugo Paiva Tavares Sousa, que salientou que irá trabalhar para resolver a situação, tanto da mudança do ponto de extração, para um local mais abaixo de onde é realizado hoje, como da licença ambiental, fundamental para que os 24 cooperados possam continuar trabalhando. Para isso, colocará duas equipes diferentes para resolver as duas demandas apresentadas pelos vereadores e demais membros da comitiva de Marabá.

Comissão de Marabá foi à sede da ANM nesta segunda-feira para pedir alterações no polígono de extração de areia

O vereador Cabo Rodrigo, presidente da Comissão de Mineração e Meio Ambiente da Câmara, enfatizou que a pauta surgiu a partir da reclamação da população, em função do local que as “dragas” extraem areia e seixo, próximo à Praia do Tucunaré.

Rodrigo informou que os extratores têm toda vontade de resolver a questão e trabalhar um pouco mais abaixo no rio, afastando-se da praia e de onde existe maior trânsito de embarcações que transportam veranistas.

Pastor Ronisteu Araújo esteve na visita realizada pela comissão à sede da COESAMA e também no leito do rio, onde ouviu representantes de moradores do Cabelo Seco. Ele reconheceu que os dois lados têm razão em seus argumentos e que a Comissão de Mineração e Meio Ambiente iria atuar para tentar resolver o impasse.