Uma das figuras mais longevas na política marabaense, com enfrentamento às oligarquias dos castanhais e fazendas, Vanda Régia Américo Gomes, vereadora licenciada e atual presidente da Fundação Casa da Cultura de Marabá, foi procurada pela Reportagem do CORREIO para recordar a atuação política de Ademir Martins dos Reis, falecido nesta terça-feira, 6, e enterrado no meio da manhã desta quarta-feira, 7.
“Foi uma época bem intensa, quando ainda vivíamos entre as oligarquias dos poderosos e um resquício da ditadura militar. Fui eleita no final de 1989, e naquele momento o Ademir se despedia de seu primeiro mandato como vereador. Mas ele continuou conosco no movimento de luta, participando ativamente. Ficou na Câmara Municipal trabalhando com a gente, assessorando no momento em que fomos elaborar a nossa Lei Orgânica. Ele foi um grande parceiro e precursor de vários movimentos, tendo sido fundador do Partido dos Trabalhadores e do movimento de esquerda aqui na região, fazendo um trabalho de formiguinha em um momento muito difícil para implantar um partido de esquerda”, recorda Vanda Américo.
Ela também destaca que ele sempre foi muito convincente e sério na sua condução das discussões e no seu trabalho, sempre coerente nas suas posições e levou o PT adiante, servindo de referência para vários outros militantes. “Ele foi pra CPT (Comissão Pastoral da Terra) lutou foi pela liberdade, pela democracia, pela educação, por políticas públicas que precisávamos implantar na nossa cidade. Nós lutamos muito ombro a ombro, lado a lado. Um grupo se formou em defesa de Marabá e ele fazia parte desse grupo. Fizemos isso com muita luta, com atos públicos, com muitas pessoas que passaram por aqui, que deram as mãos a nós nessa luta pela consolidação da democracia. Começamos a formar e politizar jovens, mostrar direitos, iniciar a formação de sindicatos, entre outras conquistas. Se hoje vivemos nessa democracia, foi uma luta muito forte de muita gente, e o Ademir esteve presente. Ele e a família dele”, confirma.
Leia mais:Vanda também destaca a importância da primeira parceira de Ademir Martins, Albertina Sandra Moreira dos Reis, que andou lado a lado com ele nessas lutas, pelo movimento sem-terra, e também por movimentos urbanos. “Ademir tem uma história de lutas e conquistas de conscientização e posicionamentos. Essa caminhada nos amadureceu, levou Marabá para um nível muito bacana e muita gente cresceu e evoluiu. Pena que ultimamente a gente tem visto um retrocesso”, lamenta.
Por fim, a vereadora licenciada recorda que entre as décadas de 1980 e 1990, as pessoas mais humildes quase não ocupavam cargos importantes. “A gente conquistou isso na luta, na garra. Não nos intimidamos em momento algum. Sempre estivemos juntos com Ademir nessas lutas. Lamento sua morte, sua perda. Meus sentimentos à família e aos amigos que acompanharam a militância dele ao longo de décadas. Marabá vai sentir falta”. (Ulisses Pompeu e Ana Mangas)