Uma coleção de exemplares raros de insetos como gafanhotos pigmeus e esperanças, que pertencia ao Museu Nacional, no Rio de Janeiro, consumido por incêndio no início de setembro, foi preservada graças a um empréstimo à Uepa (Universidade do Estado do Pará).
“São 314 exemplares neotropicais, de diferentes regiões do Brasil e até de outros países, difíceis de encontrar na natureza”, diz a entomóloga e docente da Uepa Ana Lúcia Nunes Gutjahr, que também é curadora da coleção zoológica da instituição.
O empréstimo foi concedido em 2014 e renovado por mais três anos em 2016. “No ano passado eu já havia comprado a passagem para devolver a coleção, mas, por impedimentos da curadora, acabei não indo. Hoje vejo que foi uma sorte, porque pudemos conservar este material.”
Leia mais:Os exemplares de esperanças foram solicitados para a pesquisa de mestrado de um aluno de Ana Lúcia, e a de gafanhotos pigmeus, para um estudo seu.
A dissertação tratou da distribuição geográfica de espécies neotropicais de esperanças. Para a ciência, esse modelo é uma ferramenta importante para determinar a localização de espécies ameaçadas com fins conservacionistas.
Já a pesquisa com os gafanhotos pigmeus, diz, trata de um grupo pouco conhecido e pouco estudado. Um dos exemplares mais antigos da coleção foi coletado em 1906, em Cali, na Colômbia. A pesquisadora diz que, caso o ambiente de coleta desses espécimes tenha sofrido interferências, uma extinção local pode ter acontecido.
Quando soube do incêndio, pelo telefonema de um amigo, Ana Lúcia conta que ficou em choque. “A perda sofrida na área de entomologia [estudo dos insetos] e em geral é de um valor incalculável. Só de insetos havia mais de cinco milhões de exemplares. O mais grave é a perda das espécies-tipo, aquelas que são descritas como referência para toda a humanidade.”
O empréstimo da Uepa é um entre vários que foram realizados pelo Museu Nacional para instituições do Brasil e do mundo. A assessoria do Museu Nacional não soube informar quanto do acervo está deslocado em empréstimos para pesquisas.
“Todos são importantes, são o que sobrou de uma coleção gigantesca. Nós perdemos 98% da coleção entomológica no incêndio. 1% foi preservado em um edifício anexo, e o outro 1% é dos empréstimos”, explica Cátia Mello Patiu, curadora geral da coleção entomológica do Museu Nacional. “Esses empréstimos, junto com o que sobrou e com as novas coletas, vão nos ajudar a recomeçar a coleção.”
A professora da Uepa também se disponibilizou para coletar novos materiais na região amazônica para a futura coleção do Museu Nacional, após a sua recuperação. Segundo Catia, “outros colegas de outros lugares do Brasil também ofereceram o mesmo. Isso é muito importante para a nossa instituição”. (Folha de S. Paulo)