O olhar pesado, a fala pausada e a respiração levemente ofegante são marcas que deixam à vista o cansaço de Aida Maria Portela do Nascimento, 36 anos, dona de casa e mãe em tempo integral. Ela, que é genitora dos pequenos João Pietro, 9 anos, e Bernardo, 4 anos, está grávida de aproximadamente três meses de mais um menino. Nascida e criada pelas ruas estreitas da Marabá Pioneira, é por lá também que enfrenta todos os dias – junto com o companheiro, Jonnatas Pantoja Guimarães – os desafios, as dores e as bênçãos da maternidade.
O nascimento do primeiro filho é também o nascimento de uma nova versão da mulher: a mãe. Quando soube da gravidez de João Pietro, aos 27 anos, Aida não fazia ideia do quanto sua vida ia mudar e de tudo que teria de enfrentar a partir daquele momento.
“Eu senti muito medo, era algo muito novo pra mim, mas ao mesmo tempo eu nem sei explicar. Já era um amor muito, muito grande”. Com a emoção intensificada pelos hormônios da gravidez, as lágrimas inundaram seus olhos ao longo de toda a entrevista dada ao CORREIO. Aida abriu seu coração com toda a sinceridade que só uma mãe cansada é capaz de reunir e, além do lado afetivo da maternidade, ela revela os sentimentos de medo e insegurança que a acompanham desde que se tornou mãe.
Leia mais:“É uma mistura. É o medo, a insegurança, mas sempre o amor, a expectativa, enfim, não dá para definir. Eu acho que se eu tiver dez filhos vai ser do mesmo jeito. Não dá pra mudar”.
A REALIDADE
Aida é categórica ao afirmar que a maternidade real não é nada do que é mostrado nas redes sociais. “Aquilo ali é só uma partezinha, não é nada. É exaustivo (maternar), tem a cobrança. É não ter tempo, é estar cansada, com sono. Não conseguir comer direito, não conseguir dormir direito”, enumera.
Para a dona de casa, não sobra nem mesmo tempo para ir ao salão ou sair com as amigas. Ser mãe em tempo integral, para ela, é acordar às 7h da manhã e num piscar de olhos se dar conta que o dia encerrou às 23h. Um dia que passa em flashes, num minuto estar tomando café da manhã com os filhos e, no seguinte, perceber que é hora de colocá-los na cama. “É tão intenso e ao mesmo tempo tão corrido, que não dá nem pra entender. Você vai achar que vai dar conta de tudo, que vai dar tempo e nunca dá”.
E ainda que seja possível traçar diversos paralelos entre os desafios enfrentados diariamente na maternidade, cada mãe é uma mãe e cada uma vivencia sua realidade de maneira particular. Nenhuma mãe é igual a outra e as adversidades de Aida não são as mesmas que as de sua mãe, suas avós ou tias.
“Hoje, pra mim, o maior desafio está sendo eu mesma, comigo mesma. Porque acho que tenho de estar preparada pra tudo, preciso estar sempre pronta, tenho sempre de responder, de estar bem-disposta e estar na hora certa. Então, não consigo definir e dizer qual é o maior desafio, porque a maternidade é algo que não dá para definir”.
Para ela, todos os dias são novos dias, onde coisas diferentes sempre acontecem e por isso a rotina de uma mãe é algo quase inexistente, se tornando uma expressão usada para tentar descrever algo que é difícil de explicar. Mas que talvez possa ser resumida em uma palavra: exaustão.
O CANSAÇO
“Existe rede de apoio, mas você já ouviu um ditado que fala assim: “o filho é da mãe”? Então não tem jeito, porque no final, é sempre você quem sobra. É só você”, desabafa.
Aida conta que mesmo com a rede de apoio – formada por outras mulheres da família, como sua própria mãe, cunhada e vizinhos – o dia a dia com os filhos é exaustivo e, embora a ajuda de outras pessoas seja relevante, não é suficiente para dar fim à fadiga materna.
E nem mesmo o apoio paterno é capaz de aliviar a carga, ainda que ela seja dividida, não tem jeito, “mãe” é uma palavra doce, que sai da boca dos filhos incontáveis vezes ao dia.
O MATERNAR
As palavras da dona de casa revelam algumas das dores que outras tantas mães compartilham, quando ela diz que sempre acha que pode fazer mais, que é capaz de tudo, mas ao se olhar mais de perto, fica evidente que ser mãe também é ser limitada. “Eu acho que se ficasse frente a frente comigo mesma, eu ia dizer “calma, paciência”, porque a cobrança é muito grande. A gente nunca acha que tá bom, que tá perfeito”.
Agora, à espera do terceiro filho, ela conta que as cobranças auto impostas seguem ecoando dentro de si. “Eu já fico imaginando como que vou fazer, como que vai ser. Eu vou dar conta? Mais uma vez, passar por tudo novamente. No segundo já tinha o primeiro e agora no terceiro já são dois. Vão ser três, e agora? Como vai ser? Não tem um dia que eu não me pergunte isso”.
Mas nem só de dores se faz a vida de uma mãe. Ao ser questionada qual a melhor parte da maternidade, as lágrimas que rompem dos olhos da dona de casa são mais fortes que todas as outras derramadas até esse momento. Embora seja difícil, no final, tudo vale a pena. Sentir o cheiro do filho quando nasce, ouvir pela primeira vez a palavra “mãe”, o “eu te amo”, receber os abraços, os elogios e até aqueles pedidos de: “Eu não consigo fazer isso sem a senhora”, são fragmentos descritos por Aida como os melhores dessa jornada.
“Quando eu penso na melhor parte, nem lembro das ruins. A gente esquece todo o resto. Aquele momento ali no final do dia, parece que eles entendem sabe? Que vem, que abraça, que beija, que agradece do jeito deles”. (Luciana Araújo)