Correio de Carajás

Vereador aponta má remuneração de plantões como uma das causas do caos no HMM

Na sessão desta terça, Márcio do São Félix elencou vários pontos de uma verdadeira crise na Saúde de Marabá

Filas intermináveis, falta de medicamentos e poucos profissionais atendendo na saúde pública de Marabá são apenas algumas das inúmeras reclamações que têm chegado diariamente à redação do Correio de Carajás. O sentimento geral é de que a gestão pública abandonou esse setor e que a população não tem a quem recorrer.

No Hospital Municipal é onde as queixas se agravam. A reportagem coletou relatos recentes de falta de insumos até para fazer curativos adequadamente e de mau cheiro no ambiente, que estaria sendo limpo apenas com água, sem produtos de limpeza específicos para o ambiente hospitalar. Pacientes estariam ficando sem banho no leito por falta de equipe e os poucos profissionais atuando no local passando todo o tempo estressados pela sobrecarga.

Questões semelhantes foram apresentadas, nesta terça-feira (4), na sessão ordinária da Câmara Municipal, onde o vereador Márcio do São Félix, que é presidente da Comissão de Administração, Saúde, Serviços e Seg. Pública e Seg. Social, usou a tribuna para tornar públicos alguns problemas do setor.

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Inicialmente, culpou a má remuneração dos servidores públicos pelo inchaço de pessoas nos corredores da casa de saúde, que ganhou proporções extremas no último domingo (2), quando, de acordo com ele, a coordenação de enfermagem encaminhou mensagens aos profissionais que não estavam trabalhando para que fossem à unidade dar apoio no atendimento, devido à superlotação.

Em resposta, um dos funcionários informou que pelo valor atualmente ofertado por plantão eles não se sentem motivados a deixarem suas residências para trabalharem em finais de semana e feriados. “Sabendo que o clima é hostil, que o desgaste é muito grande, que correm risco de serem agredidos por alguém porque as pessoas chegam com os nervos à flor da pele, com entes queridos sofrendo porque não recebem o menor apoio no atendimento, o que provoca nas famílias reações que ninguém sabe até que ponto podem chegar…”, observa.

Destaca, ainda, que os valores ofertados aos servidores não são reajustados desde 2011 e cita o caso dos maqueiros como exemplo. Antes, diz, eles ganhavam R$ 90 pelo plantão de 12 horas no HMM. Após a mudança previdenciária, passaram a receber apenas R$ 70. “Eles não estão indo e isso está ocasionando um déficit de mão de obra na casa de saúde, criando um tumulto”, afirma o vereador, acrescentando a única maneira de se solucionar a questão é a administração municipal se propor a sentar e discutir um reajuste. “Não é greve! Eles simplesmente não estão aderindo à proposta de fazer plantão, estão cumprindo o horário base e não tem efetivo suficiente para cobrir, não tem contratação, não está tendo processo seletivo e aí está ocasionando falta de mão de obra. A população é que está sendo penalizada”, denuncia.

Ainda em relação aos servidores, Márcio do São Félix questiona a modalidade de escala 12×36 que, conforme ele, foge às regras da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e do Regime Jurídico Único (RJU). “Os servidores que fazem escalas 12×36, além de suas escalas normais, estão sendo obrigados a fazer três plantões a mais, o que juridicamente não é previsto”.

OUTROS PROBLEMAS

Outra preocupação demonstrada pelo vereador foi com uma possível centralização das farmácias que estaria sendo planejada. Ele afirma que a comissão enviou quatro ofícios, até o momento, solicitando informações da Secretaria de Saúde acerca de prédios que estariam alugados há mais de ano para abrigá-las, mas seguem totalmente vazios enquanto são pagos.

“Estamos andando na contramão da lógica de levar o Sistema Único de Saúde (SUS) até as pessoas. Vamos tirar o direito do cidadão de ir a uma unidade de saúde perto de sua casa para ter que ir a uma farmácia centralizada (…). Ouvimos denúncias, que vamos apurar, de que já tem prédio alugado há mais de um ano para essa finalidade sem ter nada lá dentro e sem perspectiva de implantar nada”.

Em um ofício encaminhado ao Conselho Municipal de Saúde de Marabá (CMSM) em março deste ano, a Prefeitura Municipal expõe um Termo de Ajustamento de Conduta, assinado com o Ministério Público do Estado do Pará, informando a previsão de implantação de seis farmácias polo.

Márcio diz terem sido enviados pedidos de informação sobre essa questão, além de falta de medicamentos e também solicitando um relatório de cirurgias ginecológicas eletivas que foram retomadas recentemente, após quase uma ano sem serem realizadas. “Ainda não tivemos resposta, mas aguardamos e caso a resposta não venha faremos o que está previsto no nosso regime, utilizaremos a força do legislativo para convocar e, se for o caso, iremos ao Ministério Público para termos essas respostas”, encerrou.

OUTRO LADO

Procurada, a assessoria de imprensa da Prefeitura Municipal informou que pretende desafogar o HMM a partir da construção de um novo pronto-socorro que está em processo de licitação e cuja construção deverá ser iniciada ainda neste ano ao lado do hospital, no pátio que antes pertencia ao Departamento Municipal de Transporte e Trânsito Urbano (DMTU).

Atualmente, informa, o HMM mantém sete médicos fazendo o atendimento ambulatorial de aproximadamente 400 pessoas por dia, muitas das quais são deixadas na casa de saúde por ambulâncias vindas de municípios vizinhos.

Sobre os demais pontos, a assessoria de imprensa informou necessitar de tempo para a apuração dos fatos, alegando que a equipe está envolvida nos preparativos para a comemoração do aniversário da cidade. (Da Redação)