Correio de Carajás

Entrada da Finlândia na Otan é resposta à invasão da Ucrânia

País nórdico fez pedido de adesão nove meses atrás, por conta da guerra da Ucrânia. Rússia, vizinha da Finlândia, afirmou que entrada aumenta risco de conflito.

Chanceler finlandês cumprimenta secretário de Estado dos EUA durante cerimônia de adesão da Finlândia à Otan — Foto: Johanna Geron/Reprodução/REUTERS

Vizinha da Rússia, a Finlândia entrou oficialmente nesta terça-feira (4) para a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).

A adesão da Finlândia à Otan é um dos principais movimentos da geopolítica mundial desde o início da guerra na Ucrânia e acirra ainda mais as tensões entre Ocidente e Rússia, que agora divide oficialmente uma fronteira de mais de 1.300 quilômetros com um país membro da aliança militar do Ocidente.

Moscou, que justificou a invasão da Ucrânia justamente pelo fato de Kiev estar em conversações para ingressar na Otan à época, prometeu retaliações.

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Com a adesão da Finlândia, ratificada em uma cerimônia em Bruxelas nesta manhã, Helsinki encerra também uma história de décadas de neutralidade (leia mais abaixo) e fica automaticamente protegida por todos os membros da aliança, como os Estados Unidos – caso o território finlandês seja invadido, tropas da Otan automaticamente são convocadas para intervir e para defendê-lo.

A Otan é uma aliança criada em 1949, durante a Guerra Fria, sob a liderança dos Estados Unidos e como oposição à antiga União Soviética. Com 30 países – 31 agora, contando com a Finlândia -, o grupo zela pelos interesses econômicos e militares de seus membros.

A organização foi para o centro das discussões da política internacional após Finlândia e Suécia iniciarem processo de adesão, em julho do ano passado, com forte oposição russa em meio à invasão da Ucrânia.

Na cerimônia desta terça-feira em Bruxelas, o ministro das Relações Exteriores da Finlândia, Pekka Haavisto, entregou o documento oficial da adesão de seu país ao secretário-geral da ONU, Jens Stoltenberg, e ao secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken. Bliken e chanceleres de países membro do bloco participaram do ato, na sede da Otan.

O chanceler ucraniano, Dmytro Kuleba, também participou da cerimônia como convidado.

Divergências com Turquia

 

Após quase um ano de negociações, a Finlândia conseguiu entrar na Otan ao superar o último obstáculo na semana passada, quanto o parlamento turco, já integrante da aliança, aprovou a entrada do país nórdico – na Otan, o ingresso de um novo membro deve ser aprovado por unanimidade por todos os países que já integram a aliança.

A Turquia foi o único membro da Otan a se manifestar contra a adesão dos países nórdicos, com quem já travava um embate diplomático havia anos. Os governos sueco e finlandês concederam asilo político a cidadãos curdos que Ancara considera terroristas.

 

O presidente turco, Recep Tayip Erdogan, chegou a exigir a extradição desses cidadãos como condiçao para permitir que os dois países nórdicos entrassem no bloco. Mas após a intervenção de outros países membros, acabou cedendo.

 

Fronteira entre Rússia e Finlândia tem mais de 1,3 mil km de extensão — Foto: Arte/g1
Fronteira entre Rússia e Finlândia tem mais de 1,3 mil km de extensão — Foto: Arte/g1

Rússia fala em retaliações

 

O governo russo já anunciou retaliações. Em declaração também nesta terça-feira, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, afirmou que Moscou “será forçada a tomar medidas para assegurar a segurança da Rússia” em resposta à entrada da Finlândia na Otan.

Ele chamou a decisão do país vizinho de uma “ameaça hostil” à segurança do território russo.

No ano passado, o ex-presidente russo e atual vice-chefe do serviço de segurança do país, Dmitri Medvedev, prometeu “consequências indesejáveis” caso a Finlândia fosse até o fim no processo de adesão à Otan.

Bandeiras da Finlândia e da Otan são expostas no topo dos mastros em Helsinki, capital finlandesa — Foto: Lehtikuva/Antti Hamalainen via REUTERS
Bandeiras da Finlândia e da Otan são expostas no topo dos mastros em Helsinki, capital finlandesa — Foto: Lehtikuva/Antti Hamalainen via REUTERS

Adeus, neutralidade

 

A Finlândia e a Suécia – que também pediu adesão à Otan e aguarda o processo – se mantiveram neutros durante décadas, embora por motivações diferentes.

A Suécia mantinha a neutralidade por questões culturais. O país era um dos mais antigos a ter esse modelo, que adotou depois da 1ª Guerra Mundial e, embora formalmente tenha abdicado da neutralidade quando ingressou para a União Europeia, em 1995, o governo sueco já rejeitou propostas de integrar a Otan e seguia sem intervir em conflitos.

Já para a Finlândia, ser um país neutro estava relacionado à sua posição geográfica. O país tem uma fronteira de 1.300 quilômetros com a Rússia, e, desde a escalada das tensões entre Rússia e Ucrânia, no fim do ano passado, teme estar desprotegida caso Moscou decida aplicar retaliações ao Ocidente.

A população, que sempre se posicionava em maioria a favor da neutralidade, começa a mostrar apoio ao ingresso da Finlândia na Otan. Segundo uma pesquisa recente, 76% dos moradores apoiam a adesão à aliança militar.

“Acho uma ótima notícia. Estávamos realmente esperando para que essa entrada na Otan acontecesse há tempo e estamos muito felizes. Isso vai trazer mais segurança para a Finlândia contra agressões da Rússia, e também mostra à Rússia que a Finlândia pode tomar uma decisão sem a interferência deles”, afirmou Niko Ohvo, morador da capital finlandesa.

(Fonte:G1)

Foto: Johanna Geron/Reprodução/REUTERS